Amarílis Costa

Advogada, doutoranda em Direitos Humanos na Faculdade de Direito USP, mestra em Ciências Humanas, pesquisadora do GEPPIS-EACH-USP, diretora executiva da Rede Liberdade.

Opinião

Uma chance de nocaute

Uma reflexão sobre o pedido de condenação de Bolsonaro e seus aliados por tentativa de golpe de Estado 

Uma chance de nocaute
Uma chance de nocaute
Ato golpista promovido por bolsonaristas no Rio de Janeiro em 15 de novembro. Foto: Tercio Teixeira/AFP
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A Procuradoria-Geral da República apresentou ao Supremo Tribunal Federal suas alegações finais pedindo a condenação de Jair Messias Bolsonaro e de mais sete réus do chamado “Núcleo 1” da trama golpista. A manifestação marca a última fase antes do julgamento, previsto para setembro.

No documento de 517 páginas, o procurador-geral Paulo Gonet descreve Bolsonaro como líder da organização criminosa e “principal articulador e maior beneficiário” do plano para um golpe de Estado em 2022. E pede a condenação por cinco crimes graves: organização criminosa armada; tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano qualificado pela violência e grave ameaça; e deterioração de patrimônio tombado. As penas somadas podem ultrapassar 30 anos de prisão.

E aqui estamos. À beira de um julgamento histórico. Porque o Brasil não levou um único golpe — levou vários, em sequência, e cada um mais brutal que o outro.

O primeiro foi a eleição de 2018. Um “jab” rápido, sorrateiro, que assomou milhões com correntes de WhatsApp e slogans embalados de verde e amarelo. Elegemos não um estadista, mas um caudilho. Sem projeto de país, apenas de poder.

O segundo foi a gestão assassina da pandemia. Mais de 700 mil mortos. Necropolítica deliberada de um Estado que cultivou o descaso como método, promovendo remédios ineficazes, sabotando vacinas, celebrando aglomerações. Um cruzado direto no queixo do povo, que tombava enquanto o chefe da nação dizia ‘não ser coveiro’.

O terceiro golpe foi a mutilação calculada das políticas públicas. Educação, Ciência, Tecnologia e Saúde sangraram no tatame com cortes bilionários, decretados às vésperas das eleições. 

O quarto golpe, sujo e abaixo da cintura, foi o 8 de Janeiro. A tentativa de destruição física das instituições democráticas: vidraças quebradas, obras históricas vandalizadas, móveis tombados. Um bando tresloucado tentando, na marra, impor o que não conquistou nas urnas. 

O 8 de Janeiro foi um soco na cara de cada pessoa que acreditou na farsa do “jacaré” para não se vacinar; de quem achou que votava pela “família” enquanto enterrava seus mortos sufocados sem oxigênio. Foi um tapa na memória de quem ainda crê em democracia.

Foi também uma tentativa covarde de fugir da briga: ironizando os condenados do 8 de janeiro com “popcorn & ice cream” para desviar o foco, Bolsonaro posou de vítima internacional, buscando apoio de aliados como Trump, que retribuiu anunciando tarifas punitivas ao Brasil. Transformou a diplomacia em deboche e, com outro golpe baixo, tenta se esquivar do nocaute anunciado, deixando o país vulnerável a sanções e embargos — mais, desta vez, ele não deve escapar de acertar as contas no ringue.

Diz o dito popular: “Quem bate esquece e quem apanha não esquece jamais.” Espero que a sabedoria popular faça a verdade. 

Temos a chance de aplicar um nocaute certeiro. Porque desta vez não estamos apenas lutando para vencer uma eleição ou ganhar por pontos. Estamos lutando para garantir que o futuro não seja refém de facínoras — e para provar que, quando o povo decide lutar de verdade, não há covardia que resista.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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