Pra aqueles que leem meus textos, peço desculpas por há tanto tempo não ter produzido um texto para esta coluna. Mas justifico que foi uma fase de muitas emoções e atividades que exigiram de mim toda atenção e concentração. Foi uma fase de muitos encontros e trocas calorosas para o fortalecimento de nossas existências aqui neste país, e em muitas cidades.
Hoje vejo a hora de compartilhar uma experiência boa. Minha amiga Eleonore Wiedenroth-Coulibaly foi a primeira mulher afrodescendente em receber um prêmio Tony Sender pela sua contribuição na educação antirracista na Alemanha. O Tony Sender-Preis foi criado no ano de 1992 e é concedido a mulheres que se engajam no trabalho pela igualdade de direitos entre homens e mulheres e contra os sistemas discriminatórios.
Esse prêmio pode ser dedicado a todo tipo de trabalho de natureza artística, social, crítica e de cunho político, para mulheres que se engajam no trabalho com mulheres que estão em prisões, trabalhos educativos com e para imigrantes, ou ajuda para famílias monoparentais. O prêmio é dado a cada dois anos.
Nesta foto de capa que fizemos já no fim das festividades, ela está no meio, juntamente com minha companheira irmã e também colunista nessa coluna Vozes da Diáspora, Betânia Ramos Schroder.
Eleonore sabe compartilhar e abrir portas para outras mulheres negras, independente de origens e opções religiosas. Sendo uma das fundadoras da ISD – “Initiativ Schwarze Deutsch” (Iniciativa de Afro-alemães), ela esteve entre as que foram influenciadas pela grande Audre Lorde, nos anos em que ela lecionou em Berlin, impulsionando ativamente estas mulheres negras a lutarem pelos seus direitos de existirem e de serem felizes, fortalecendo a necessidade de criarem redes de apoio e recontarem as histórias como o fez May Ayim (1960-1996 – Poeta afro-alemã).
A primeira vez que a encontrei em Frankfurt foi na conferência “Afrika neu Denken – Repensando a África” no ano de 2016. Pra mim foi a primeira vez aqui neste país, depois de muitos anos, onde estive no meio de intelectuais negros de todo o mundo para discutirmos quem deve o que a quem, entre outras coisas. Lembro que fiquei emocionada com o discurso de Eleonore, sobretudo em sua análise social e histórica de histórias não contadas nos livros escolares e sua fala emocionada com a sobriedade e resiliência na decisão de ser feliz.
Ativista pelos direitos humanos com um quê de feminismo negro, minha amiga Eleonore respeita e valoriza nossas heranças espirituais. O seu trabalho consiste em levar fortalecimentos e aprendizados e, como ela mesmo disse no seu discurso ao receber o prêmio no Kaiser-Saal: Decidi levar a vida e não abrir mão de ser feliz. Trago sempre um sorriso, quero ter sempre um sorriso pra dar e me alegro pelos que recebo. Assim sei que haverá um amanhã.
Essa premiação foi histórica e importante. O salão nobre da prefeitura de Frankfurt estava lotado, corpos negros que confraternizavam, sorrisos e tudo isso em meio a paredes antigas, repletas de quadros de homens brancos, reis, senhores feudais, rostos e vestes dos chamados heróis do velho mundo, os que deram o dinheiro para as explorações e escravizações de seres como nós. A menina em mim deu língua pra cada um deles.
Frankfurt é uma cidade internacional onde as comunidades pretas ainda precisam conquistar espaços de acolhimentos, mas nós estávamos lá, sentamos nas cadeiras, nos abraçamos e sorrimos alto naquele espaço, comemos da comida e bebemos, como convidados da cidade, como convidados de Eleonore que, como ela mesmo disse, esse prêmio ela não recebeu sozinha, ela sabe das muitas mãos negras que a carregaram e socorreram e ajudaram a levantar nas vezes que ela caiu. Ela sabe do valor da empatia e do respeito, ela sabe da responsabilidade e assim disse também no seu discurso de posse que este prêmio em suas mãos é carregado por todas nós.
Pra minha amiga, companheira e mentora Eleonore desejo, nesse nosso novembro negro, que ela continue com muitos motivos para sorrir. Quero continuar compartilhando com ela felicidades e abraços negros.
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