Justiça

Uma boa laranjada para o café da manhã: o caso Queiroz

Que o caso Queiroz seja o último sopro para derrubar, de vez, o castelo de cartas do bolsonarismo

Foto: Reprodução Foto: reprodução
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Queiroz ressurge das cinzas. Mas ele está longe de ser ave fênix, parece mais ter saído de um pé de laranjeira, quiçá de um algum sítio de Atibaia. Justo Atibaia, a cidade onde os mais crédulos ou cínicos juram existir um sítio, responsável por uma das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O humor do dia 18 de junho de 2020 amanheceu cítrico, mas ao mesmo tempo vitaminado. O Queiroz, que ninguém sabia por onde andava, foi preso. O palco, curiosamente, é Atibaia, a terra dos morangos que, logo mais, ficará conhecida pelos pés de laranja.

O esconderijo era um sítio do advogado Frederick Wassef, esse que jurou para a jornalista Andréia Sadi, em setembro de 2019, que não sabia por onde andava Queiroz e que não era advogado dele. Já o caseiro (justo o caseiro!), afirma que Queiroz estava foragido há mais de um ano no local, desde antes de junho de 2019.

Em 14 maio de 2020, também uma quinta-feira, a agenda presidencial marcava um evento no mínimo curioso: uma reunião com o hospedeiro de Queiroz, Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro. O presidente, provavelmente, também vai jurar que essa reunião não aconteceu e que não sabia onde estava Queiroz.

Adriano da Nóbrega, miliciano, amigo de Queiroz, foi morto em fevereiro deste ano, na Bahia, e há quem diga se tratar de uma queima de arquivo. Queiroz sai vivo e ileso, direto para a prisão, na “Operação Anjo” — nome dado em homenagem ao dono do sítio de Atibaia, o hospedeiro e advogado Frederick Wassef, que tem o apelido carinhoso de “Anjo” dentro do clã bolsonarista.

A esposa de Fabrício Queiroz, Márcia Oliveira de Aguiar, agora foragida, também já tem mandado de prisão expedido pelo juiz Flávio Itabaiana Nicolau, da 27ª Vara Criminal do TJ do Rio de Janeiro. Milagres difíceis demais de serem atendimentos até para os seres celestiais: não haverá reza que salve.

Na “Operação Anjo”, são os fantasmas que cobram a conta

Adriano da Nóbrega e Queiroz também são investigados por uma possível ligação ao “Escritório do Crime”, suspeito de envolvimento no caso da morte de Marielle Franco e Anderson Gomes, em março de 2018. O advogado apresentado para a defesa de Queiroz é Paulo Emílio Catta Preta, que também era advogado de Adriano da Nóbrega.

Além do advogado em comum, ambos eram investigados no esquema “Rachadinha”, arranjo ilegal de repasse de verbas no gabinete de Flávio Bolsonaro, da época em que ele era deputado estadual no Rio de Janeiro.

A mãe e ex-esposa de Adriano da Nóbrega trabalhavam, por indicações de Queiroz, no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj. A mãe de Adriano, Raimunda Vera Magalhães, aparece em relatório do Controle de Atividades Financeiras — Coaf, como uma das pessoas que fizeram os depósitos irregulares para Queiroz.

O estranhíssimo valor de movimentação de R$ 1,2 milhão de reais na conta de Queiroz, então assessor de Flávio, deu origem às investigações. Entre 2014 e 2017, foram R$ 7 milhões em movimentações. Segundo o próprio Bolsonaro, R$ 40 mil desse valor foi repassado para Michelle Bolsonaro, sob a alegação de um empréstimo. Outros valores foram para o próprio Flávio Bolsonaro.

Esperamos que a prisão de Queiroz ofereça uma boa laranjada, por mais que essas sejam verdades difíceis demais de serem engolidas pelo bolsonarismo. Os do lado de lá estão voltando para cobrar a conta.

A piada parece uma laranjada pronta, mas é só o que o Brasil se tornou nos últimos tempos – difícil de espremer, um caldo cítrico e perigoso.

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