Um olho no peixe, outro no gato

Coração de mãe, a Arca do Lula está ficando meio lotada. Caso ele vença, logo veremos a disputa pela hegemonia na frente superampla que comporá o governo. É preciso ser realista nas expectativas

Foto: Reprodução

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A Arca de Noé do Lula é uma beleza, leitor. Trata-se de uma construção brilhante e bem brasileira. O brasileiro é, entre muitas outras coisas, um eclético e um pragmático. E o nosso Noé o ex-presidente Lula, é brasileiro até a medula. A sua Arca, com tripulantes e passageiros muito heterogêneos, só poderia ser montada num país como o Brasil. E por um político pragmático e eclético como Lula. Por motivos evidentes, que não preciso recapitular agora, a frente superampla é importante para ganhar a eleição e, em caso de vitória, para governar.

Nada é perfeito, lamentavelmente. A Arca do Lula está ficando meio lotada e, vamos ser francos, com passageiros, às vezes, bem duvidosos. Tudo bem, queremos nos ver livres desse desastre chamado Bolsonaro. Com algumas semanas pela frente até o segundo turno, todos sabemos que a vitória não está garantida. O próprio Lula vinha avisando, há meses, que seria uma eleição muito difícil. Em almoço do qual participei, faz alguns meses, um dos integrantes mais proeminentes da Arca comentava com realismo que disputar a reeleição na condição de presidente, governador ou prefeito é “uma covardia”. Afirmação que dispensa explicações, mas que, apesar disso, vinha sendo esquecido pelos que davam a derrota de Bolsonaro como certa. Outros, a exemplo do professor Marcos Nobre, da Unicamp, advertiam desde 2021 que, apesar de tudo, Bolsonaro chegaria competitivo às eleições.

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1 comentário

PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 19 de outubro de 2022 02h55
Prezado professor Paulo Nogueira, tudo indica que os colunistas dessa revistas tem um viés gramsciano, assim como o grande Mino, mas pela análise do texto percebi que discorreu sobre a estruturação atual da política brasileira ou pelos grupos políticos da atualidade. De fato esse arco de aliança que Lula arquitetou diante de si está se ampliando cada vez mais, mas não se pode perder a alma oportuno e belo o poema de Rimbaud para realçar. O nosso Antônio Gramsci onde falava sobre os muitos significados sobre democracia que o mais realista e concreto conceito sobre hegemonia, de que no sistema hegemônico, existe democracia entre o grupo dirigente e os grupos dirigidos, na medida em que o desenvolvimento da economia, e, portanto, a legislação favorece a passagem molecular dos grupos dirigidos para o grupo dirigente. Seria impossível que existisse democracia durante o feudalismo, por causa da constituição de grupos fechados. No nosso caso, a esquerda e centro esquerda pode muito bem se coadunar com a centro direita no que tange aos costumes, exceto com relação a detalhes econômicos. O que importa é que somente com Lula temos democracia, com Bolsonaro, autocracia e destruição dos valores democráticos e civilizacionais. Nesse arco de aliança tão amplo contra o bolsonarismo, pode-se perder a vida, jamais a alma para o neoliberalismo. Se não houver essa aliança, todos podem perder, tanto a vida como a alma para o demônio que se tem a enfrentar.

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