

Opinião
Um épico na França
A trajetória do Real Madrid rumo à vitória no melhor campeonato de futebol do mundo é uma lição que ficará para sempre na memória


Mesmo tendo corrido já uma semana – o que, nestes tempos de velocidade máxima, parece muito tempo –, não poderei passar sem trocar ideias sobre a finalíssima da Champions League, entre Liverpool e o Real Madrid. Foi, em todos os sentidos, um épico.
As emoções tiveram início antes mesmo de o jogo começar. O início da partida precisou ser atrasado e, do lado do fora do Stade de France, torcedores das duas equipes tentaram invadir o estádio, sem ingresso.
A grande confusão me fez lembrar, inclusive, dos tempos longínquos do Maracanã, gigante em grandes finais.
A trajetória do Real e sua chegada ao posto de campeão do melhor futebol desta temporada é uma lição que ficará para sempre. O clube espanhol sedimentou de vez sua posição de melhor clube de futebol da história.
Além do processo de amadurecimento, que foi construído decisão por decisão, nas diversas fases, vimos um time que sabe lidar com o peso de sua história. Sua tradição foi sendo reafirmada no decorrer de todo o campeonato.
No início, parecia que o time vinha aos trancos e barrancos. Os resultados eram apertados e as decisões, intrincadas. Mas, com o tempo, o que se viu foi um crescimento paulatino. O conjunto foi subindo rumo ao pódio, degrau por degrau.
O ponto mais alto dessa caminhada, que legou um grande aprendizado, foi a confiança que leva às grandes conquistas.
Não posso deixar de lembrar da mensagem do atacante Benzema, antes do jogo de volta, em grande desvantagem contra o Manchester City: “Vamos fazer mágica e vamos vencer”. Foi um sinal promissor, só valorizado, obviamente, depois da vitória.
Relembro também o desafio feito por do Salah, do Liverpool, dizendo que preferia o Real como adversário, pois tinham contas a acertar por causa da derrota na versão anterior.
Mas o melhor de tudo esteve mesmo em campo, no duelo das duas duplas mais afiadas do futebol atual: Mohamed Salah e Mané, pelo Liverpool, e Vinicius Junior e Benzema, pelo time espanhol.
Ao encerrar-se a temporada europeia, o franco-argelino Benzema solidifica-se, sem dúvida, como o grande nome, que deve levar os prêmios mais importantes.
No dia do jogo em Madri, a torcida exibiu aquela citada faixa: “Somos los Reyes de Europa”. A atitude foi, em princípio, confundida com presunção. Mas depois, com a vitória para sempre inesquecível, ela passa a ser entendida como uma prova de confiança.
A classificação espanhola foi conseguida passo após passo e envolveu, inclusive, decisões por pênaltis. Isso tudo, no fim, foi solidificando a consistência do conjunto.
Dessa maneira, o Real chegou impecável ao jogo derradeiro. Conseguiu jogar com absoluta normalidade, mesmo tendo sido “dominado” e agredido em boa parte do primeiro tempo – quando a impressão geral era a de que sofreria um massacre.
Não que o experimentado italiano Ancelotti, com profícua carreira dentro do campo como jogador e fora do campo como treinador, não conhecesse bem momentos angustiantes como aquele. Mas isso não diminui em nada o sofrimento. Que o diga o chiclete que mascava o tempo todo. Mas, com a lucidez tão necessária nessas horas, soube sofrer sem perder a linha.
Do jogo em si, emergiu, ao fim de tudo, a figura do Vinicius Jr., que já vinha crescendo a olhos vistos e tornou-se, para o Tite, aquela dúvida que os técnicos dizem ser saudável.
E não podemos nos esquecer também da participação de outro brasileiro, o Rodrygo, no jogo do Manchester City contra o Real.
Com as revelações que têm surgido, vai se estreitando a boca do funil da seleção para a Copa deste ano. •
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1211 DE CARTACAPITAL, EM 8 DE JUNHO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Um épico na França”
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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