Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

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Um clássico e tanto

O melhor da partida entre o Real Madrid e o Paris Saint-Germain foi o futebol jogado palmo a palmo, com os melhores atletas hoje em atividade

Um clássico e tanto
Um clássico e tanto
Foto: GABRIEL BOUYS / AFP
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O tormento e a tristeza que nos acompanham em meio às notícias da guerra mostram, para todos, a precariedade deste estágio em que vive a humanidade. A despeito das louvadas conquistas de tecnologia, o homo sapiens segue dividido, rachado e confuso com seus próprios poderes.

Eu, do meu lado, sigo tentando compreender de que forma tudo isso que nos rodeia se reflete no esporte. Impossível não ser impactado pelas notícias dos esportistas em fuga, buscando formas de escapar da precariedade gerada pela guerra estéril.

Não é, certamente, por acaso que, nas manifestações esportivas, a tensão explode em todos os campos. No México, num jogo do Campeonato Mexicano, pelo menos 22 pessoas ficaram feridas depois de uma briga entre torcedores do Querétaro e do Atlas. A confusão aconteceu no estádio La Corregidora, do Querétaro.

As imagens da confusão, disponíveis em vídeos que circularam pela internet, trazem à lembrança a violência dos ­Hooligans ingleses e suscitam a seguinte pergunta: foram criadas soluções para a violência entre torcidas ou apenas elitizaram ainda mais o futebol?

As inúmeras tentativas de mudanças na condução no futebol refletem a urgência na necessidade de transformação da caótica situação do futebol no mundo.

Acabam de ser condenados pela justiça Suíça os mais altos mandatários da Federação Internacional de Futebol ­(FIFA) por corrupção na escolha das sedes para Copas do Mundo passadas. Não podemos nos esquecer de todos os outros que já foram condenados e dos brasileiros que os acompanharam.

A justiça brasileira, por sua vez, manifestou-se sobre os processos de poder na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que está realizando agora eleições para a substituição do presidente afastado.

No caso do futebol, temos falado sobre o sistema medieval que o aprisiona. Um sistema composto por ligas, federações e confederações.

Aqui, as tentativas de mudança desse sistema fizeram com que fosse anunciada, recentemente, a criação do grupo Forte Futebol. Segundo os clubes que já aderiram ao grupo – dez da Série A do Campeonato Brasileiro –, “o grupo é aberto, sem sócios fundadores, em que todos os participantes terão voz”.

O objetivo é darem respostas comuns a assuntos relacionados aos rumos do futebol brasileiro. Diz-se, porém, que esse movimento teria sido parte dos acertos envolvendo as novas eleições da CBF.

A importância do esporte no conjunto da vida humana é indiscutível. Assim como é indiscutível que futebol e política se misturam, sim.

A maior prova disso, nos dias que correm, é que o presidente do poderoso Chelsea, o russo Abramovich, entrou no rol dos atingidos pelas medidas punitivas ligadas ao conflito Ocidente-Oriente que estamos vivenciando.

Apesar de todas as encrencas, a bola continua rolando onde é possível. O jogo de volta entre Real Madrid e ­Paris Saint-German (PSG) pelas oitavas de final da Champions League serviu para eletrizar a quarta-feira 9.

A maravilha do esporte iluminou a tarde, em pleno meio de semana, com um jogo que teve todos os ingredientes de um espetáculo a ficar marcado na história.

O clássico do melhor campeonato de futebol do mundo, que terminou com a vitória do Real Madrid por 3 x 1, teve de tudo. Começou com uma verdadeira “briga de galos”, ocasionando não só muitos erros de passes, mas principalmente roubadas de bola pela marcação homem a homem. No início da partida, houve até choque entre atletas da mesma equipe: o brasileiro Militão e o alemão Kroos.

Desde a saída de bola, o jogo foi surpreendente. Vitorioso na queda da moeda, o capitão do Real, Benzema, mostrou o estado de espírito dos jogadores do time: não fez questão de escolher o lado do campo para o começo do jogo. Apenas ficou com a bola.

Nas arquibancadas, a torcida local não deixou por menos, exibindo um painel gigante com a seguinte frase: “Somos os Reis da Europa”. Mostravam assim sua disposição para encarar, em desvantagem – o PSG ganhou por 1 x 0 na ida –, uma verdadeira final antecipada.

O melhor de tudo foi o futebol jogado palmo a palmo, com um conjunto dos maiores jogadores do momento. Víamos a bola no chão o tempo todo, mesmo nos espaços mais exíguos.

Ao fim de tudo, a virada sensacional do Real levantou novas manifestação de insatisfação com a trinca Messi, Neymar e M’Bappé – o francês marcou presença com mais um gol de futebol de botão. A partida também colocou nas alturas o grande artilheiro Benzema, que marcou sua passagem pelo Real com três gols, em pouquíssimo tempo, em um jogo de tamanha expressão. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1199 DE CARTACAPITAL, EM 16 DE MARÇO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Um clássico e tanto”

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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