Vagner Freitas

Ex-presidente da CUT, Contraf, UNI e do Conselho Nacional do SESI; hoje, integra o Diretório Nacional do PT e é conselheiro da Contraf

Opinião

Um balanço das eleições municipais de 2024

Com o fortalecimento dos partidos de centro-direita e do Centrão, o PT, a CUT e outras centrais sindicais enfrentarão grandes desafios nos próximos dois anos

Um balanço das eleições municipais de 2024
Um balanço das eleições municipais de 2024
O presidente Lula e o candidato do PT a prefeito de Diadema, José de Filippi Júnior, em 18 de outubro de 2024. Foto: Ricardo Stuckert/PR
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Nestas eleições municipais, nem a extrema direita bolsonarista, nem a esquerda governista avançaram o quanto desejavam. Foi uma eleição na qual muitos e distintos fatores locais precisam ser considerados na análise. A percepção é que a esquerda teve um avanço moderado, ainda sem conseguir reconquistar os votos historicamente seus nas classes média-baixa e popular.

O bolsonarismo perdeu forças e oscilou tentando se adaptar a diferentes contextos, transformando aliados em adversários. Mesmo com os avanços do PL, o movimento bolsonarista tende a enfrentar disputas internas em várias regiões, dado o surgimento de novas candidaturas já visando as eleições de 2026. A eleição também revelou uma redução na rejeição ao PT, embora esta ainda permaneça elevada, impondo ao partido o desafio de trabalhar intensamente sua imagem.

Muitos dos eleitos e reeleitos já haviam ocupado cargos anteriormente, seja na prefeitura, no parlamento ou em outras esferas do Executivo. Um destaque foi a eleição de jovens, mulheres e negros que moram e atuam nas periferias das cidades, o que exige dos partidos da Federação — e do PT, em particular — o fortalecimento de candidaturas jovens com esse perfil para as próximas eleições. Em cidades onde o PT e seus aliados têm lideranças comunitárias fortes, esses candidatos mantiveram um bom desempenho, indicando caminhos para conquistar o eleitorado de baixa renda.

A centro-esquerda, incluindo Rede, PSB, PCdoB e PT, elegeu 862 prefeitos e obteve 16,94% dos votos válidos. Já o centro e centro-direita elegeram 3.611 prefeitos e conquistaram 70,96% dos votos. A direita e extrema direita elegeram 616 prefeitos, com 12,10% dos votos. Esses dados refletem a vitória do Centrão, onde partidos da base do governo, especialmente PSD, MDB e PP, obtiveram os melhores resultados. O crescimento expressivo do PL, entretanto, não esteve completamente alinhado ao bolsonarismo, o que sugere a necessidade de atenção e diálogo com essas prefeituras.

Entre as razões para um desempenho aquém do esperado do PT, está sua decisão estratégica de não encabeçar chapas em 88 cidades médias e grandes. Mesmo assim, o partido cresceu em número de prefeituras e vereadores, embora abaixo do esperado para um partido que detém a Presidência da República. Além disso, os partidos da Federação Brasil Esperança não registraram avanço significativo em seus resultados.

Um desafio que se impõe aos sindicalistas filiados ao PT e aos partidos de esquerda é que os partidos do Centrão, que defendem a desregulamentação e a redução de direitos trabalhistas, previdenciários e sindicais, tiveram melhor desempenho que aqueles que tradicionalmente apoiam esses direitos no parlamento brasileiro. Isso exigirá da CUT e das centrais sindicais diálogo próximo com os parlamentares desses partidos, para mantê-los firmes nas pautas trabalhistas.

Vale destacar os resultados modestos do PDT, que perdeu redutos históricos e reduziu pela metade o número de prefeituras, e do PSDB, que sofreu uma queda acentuada em prefeituras e cadeiras legislativas municipais, especialmente em regiões de tradicional influência, como o Sul e o Sudeste.

Com o fortalecimento dos partidos de centro-direita do Centrão, o PT, a CUT e outras centrais sindicais enfrentarão grandes desafios nos próximos dois anos. Partidos como PSD, MDB e PP provavelmente buscarão mais espaço no governo e pressionarão por mais desregulamentação de direitos. As eleições para as presidências da Câmara e do Senado terão ainda maior prioridade e exigirão muito empenho nas negociações para garantir a governabilidade e a aprovação de projetos de interesse do governo nos últimos dois anos do mandato de Lula. Sindicalistas e partidos aliados precisarão estar atentos a esses embates, que podem definir a viabilidade de aprovação de pautas de interesse dos trabalhadores.

Os influenciadores digitais mostraram sua força nas redes sociais, mobilizando comunidades e nichos específicos, especialmente no TikTok e Instagram, o que contribuiu para o voto jovem e de eleitores conectados nas redes para os candidatos que apoiavam. Esse é um tema que o partido precisa considerar em suas discussões estratégicas, visando as próximas eleições, para apresentar lideranças sindicais e populares com grande alcance e engajamento nas redes.

Vários influenciadores foram eleitos vereadores, aproveitando suas audiências para impulsionar suas candidaturas, especialmente em cidades de porte médio. Eles ampliaram sua influência na política local e ajudaram a moldar um novo estilo de campanha, mais informal e direta, com maioria dos eleitos concentrando-se em cargos legislativos municipais.

Apesar dos avanços da centro-direita, o PT e seus aliados da frente ampla liderada por Lula conseguiram vitórias importantes, como a reeleição de Eduardo Paes no Rio de Janeiro e João Campos no Recife, o que enfraqueceu adversários de direita nessas regiões.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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