José Ferreira

Presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro

Opinião

Um 1º de maio para arrancar na luta por mudanças

Este ano será decisivo. A classe trabalhadora está desafiada a derrotar o projeto neoliberal e neofascista nas urnas

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
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Neste quarto 1º de Maio sob a gestão do governo neofascista de Jair Bolsonaro, a classe trabalhadora não tem nada a comemorar. Como o movimento sindical já previa, ao contrário das promessas mentirosas da burguesia e de seus representantes políticos, o que se viu como resultado da reforma trabalhista – o maior ataque em décadas à classe trabalhadora – foi uma escalada sem precedentes da precarização do trabalho, redução da renda, aumento do desemprego, diminuição das bases sindicais, redução drástica das ações trabalhistas na Justiça e enfraquecimento nas negociações com os patrões. Tudo como manda a cartilha neoliberal e o receituário do mercado financeiro.

Segundo o Global Rights Index, produzido anualmente pela Confederação Sindical Internacional, o Brasil está entre os 10 piores países do planeta para se trabalhar. Mas a deterioração dos direitos dos trabalhadores e da estrutura sindical não começou na reforma de Temer. 

De 1980 a 2020, o Brasil saiu da 6ª para a 16ª posição entre as maiores indústrias do mundo. Muitas fábricas foram fechadas – e as que permaneceram em atividade se tornaram sócias da política de juros praticada pelos governos centrais. O empresário industrial se converteu em rentista. Esse processo de desindustrialização foi acompanhado pelo enfraquecimento do sindicalismo brasileiro, baseado no operariado industrial. 

Os efeitos nefastos da reforma não demoraram a chegar. Em julho de 2021, o Brasil registrou a taxa impressionante de 14,8 milhões de desempregados. Hoje, ainda temos 12 milhões à procura de trabalho. Esse recuo tem relação direta com o crescimento do trabalho informal. De 2016 a 2021, o número de empregados sem carteira assinada saltou de 10 milhões para 12,4 milhões. Já o total de pessoas trabalhando por conta própria aumentou de 20 milhões em 2012 para 26 milhões em 2021, elevando a taxa de informalidade para 40,7%, muito próxima do recorde histórico de 40,9% registrado em 2018.

Essa transfiguração no mundo do trabalho também atingiu o ramo financeiro. A categoria bancária foi reduzida a menos da metade desse universo. Em 1994, ela representava 80% do total. Hoje, não chega a 47%. Isso quer dizer que mais de 53% não são representados pelas entidades sindicais bancárias. Esse contingente está na base de outros sindicatos menos organizados ou não tem representação alguma, ficando muito fragilizado nos processos de negociação com as instituições financeiras.

No Brasil, o sindicalismo vive um momento crítico que requer saídas para ampliar e aperfeiçoar a representação e organização sindical. As transformações no mundo do trabalho e nas relações de produção capitalista precisam passar por uma profunda reflexão por parte da classe trabalhadora. Além da recuperação da capacidade financeira e organizativa para ampliar a base e organizar a luta de trabalhadores formais, existe uma grande massa de informais, desempregados e desalentados que precisam de representação sindical forte.

Este ano será decisivo. A classe trabalhadora está desafiada a derrotar o projeto neoliberal e neofascista nas urnas. Precisamos reunir as forças que temos para unificar nossas lutas por melhores salários e condições de trabalho com a luta política para tirar Bolsonaro e seu governo militarizado e entreguista, colocando no lugar um projeto de desenvolvimento nacional, que vai combater a fome e a miséria, restabelecer a normalidade democrática e recuperar os direitos perdidos. 

Não se trata de apoiar este ou aquele político, este ou aquele partido, mas de reconhecer os graves danos causados à classe trabalhadora e ao povo em geral pelos governos de Temer e Bolsonaro. Não é possível negar a piora acentuada na qualidade de vida, nas condições de trabalho, na capacidade de sustentar nossas famílias. 

O preço da gasolina e do gás de cozinha, a exploração extrema dos trabalhadores de plataformas digitais, as centenas de milhares de mortes evitáveis durante a pandemia, os níveis insuportáveis de desemprego, a tragédia dos 20 milhões que entraram na estatística da fome, nada disso pertence ao campo das conjecturas, hipóteses ou pontos polêmicos de uma discussão apaixonada. São fatos concretos, incontestáveis, comprovados pelas próprias estatísticas governamentais e por quaisquer olhos que se mantenham minimamente abertos. 

Temos que lutar por um projeto que promova a contra-reforma trabalhista e previdenciária, revogue o teto dos gastos, recoloque o povo no orçamento público, volte a implementar políticas públicas compensatórias, recupere o poder de compra dos(as) trabalhadores(as), retome a política de aumento real do salário mínimo, reveja a dívida pública para interromper a sangria de recursos para os bancos e os especuladores financeiros em detrimento dos investimentos em saúde, educação, reforma agrária e urbana. 

Em 2022, os bancários e bancárias realizarão a sua Campanha Salarial Nacional. Precisamos preservar nossos direitos e lutar para obter um Contrato Coletivo de Trabalho ainda mais avançado do que o conquistado na última campanha salarial, há dois anos. Mas nós, bancários e bancárias, precisamos estar também ao lado das outras categorias profissionais e outras organizações sociais, lutando solidariamente por mudanças mais amplas, pela construção de uma sociedade democrática e mais justa.

Que esse 1º de Maio seja o último deste governo da violência, da morte, do racismo, da misoginia, da concentração de riqueza, e marque a arrancada do engajamento da classe trabalhadora na luta por um país melhor, que terá nas eleições de outubro uma etapa decisiva.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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