Opinião

Tiozões brancos tentam culpar mulheres e LGBTs pelas derrotas nas municipais

É evidente que as pautas ‘identitárias’ reforçam as lutas emancipatórias e não as enfraquecem, como querem os ‘estrategistas’ derrotados

Tiozões brancos tentam culpar mulheres e LGBTs pelas derrotas nas municipais
Tiozões brancos tentam culpar mulheres e LGBTs pelas derrotas nas municipais
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
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“A educação precisa nos comprometer a acolher o outro como ele é, e não como queremos que seja. Não devemos julgar nem condenar ninguém” – Papa Francisco

O mundo virtual tem muitas virtudes – como a semelhança das palavras indica. Entretanto, também pode-nos induzir a mentir, pela menor possibilidade de verificação que encerram.

Igualmente, o virtual tende a induzir em erro, com maior facilidade.

Alguns exemplos: a “grande imprensa” induz-nos a pensar que o G7 é o grupo das 7 maiores economias do mundo.

Falso: dele não fazem parte a China e a Índia, que são, respectivamente a segunda e a quinta maiores economias.

Ao invés, a Itália e o Canadá, que são respectivamente a nona e a décima, integram aquele agrupamento.

Portanto, o que os une não é o tamanho das economias, como somos induzidos a pensar, mas a ideologia neocolonial, cuja prática os leva a dever mais do que produzem, chegando a números estratosféricos de dever 140% do PIB, no caso da Itália.

Trata-se, portanto, de uma agregação de oligarcas, uma espécie de jóquei-clube internacional, devedor e decadente.

No varejo, vemos o chocolate belga ser hosanado como o melhor do mundo.

No entanto, não há um pé de cacau na Bélgica, sendo todo ele importado.

Ora, quando se domina apenas uma etapa da produção, tem-se conhecimento parcial do produto final.

O Equador, ao contrário, planta cacau e produz chocolate que, esse sim, é o melhor do mundo, sendo a marca Pacari praticamente imbatível.

Porém, as conexões deficientes entre os países latino-americanos impedem-nos degustar aquela delícia, que acaba seguindo pela velha rota da Europa neocolonial.

Em igual sentido, acreditamos que os melhores perfumes sejam os franceses – e não estamos totalmente enganados.

Porém, se nos perguntarem se há boa produção de perfumes nos Emirados Árabes Unidos provavelmente iremos hesitar.

Pois bem, um dos melhores perfumes masculinos da atualidade é fabricado lá: Philos Pura, que recomendo vivamente. Conseguiram captar um dos insensos árabes mais marcantes. Uma química singular, transformando o etéreo em líquido.

Enquanto isso, um terço da população do Líbano, um milhão e duzentas mil pessoas, teve de se deslocar – das quais quatrocentas mil são crianças.

Pior, o assassinato do líder do Hamas Yahia Sinwuar foi comemorado pelo presidente da França com prazer e sorrisos. Detalhe: trata-se do chefe de Estado do país que se quer pátria dos direitos humanos… dos habitantes das metrópoles. Para os demais, cabem julgamentos e execuções sumárias…

Ainda pior, a França já tem seu primeiro prisioneiro político: o ativista Kemi Seba, culpado de atentar contra o neocolonialismo…

Não é à toa que nossa vizinha Martinica está tentando se desembaraçar do domínio francês, ficando cada vez mais claro que são os territórios coloniais que financiam a metrópole. Para que se tenha uma ideia do nível de exploração, os preços de alimentos e outros produtos de primeira necessidade são 40% superiores na nação caribenha aos praticados na metrópole.

Aos protestos, a metrópole respondeu com toque de recolher até esta segunda-feira 21.

Mas tudo sempre pode piorar: a Itália estabeleceu centros de detenção para imigrantes, em que se acumulam oito detentos no espaço em que deveria haver um.

Psicotrópicos são usados em larga escala para “controlar” os imigrantes, como têm denunciado psiquiatras italianos, horrorizados com os novos campos de concentração.

Na Terrinha, vemos a tentativa dos tiozões brancos de culparem mulheres, LGBTQIAs e transgêneros pelas derrotas nas eleições municipais.

Demonstram, assim, má-fé e ignorância, pois as pautas do feminicídio, da homo e da transfobia são ainda mais importantes para as periferias do que para os centros.

Para constatar isso, basta pegar um trem de periferia no dia da Parada Gay: os vagões estão alegremente lotados, por uma população vítima do que tem de pior nas sociedades capitalistas: a exclusão socioeconômica, o preconceito e a violência.

Quem lota a Paulista, por óbvio, não são os Jardins, mas os habitantes das periferias.

De fato, andar de mãos dadas na Rua Augusta é uma coisa; outra, bem diversa e arriscada, é fazê-lo em Franco da Rocha ou Francisco Morato.

Com efeito, é evidente que as pautas chamadas “identitárias” reforçam as lutas emancipatórias e não as enfraquecem, como querem os “estrategistas” derrotados.

Caminhar e chupar cana é possível e saudável, como diria minha sábia avó.

No fundo, o que os tiozões pançudos querem é poder voltar às práticas machistas, homofóbicas e transfóbicas com as quais sempre rechearam suas vidas, indo das piadinhas à incitação às agressões.

Portanto, não permitamos que mulheres, gays e trans sejam bode expiatório de taxas de juros escorchantes, práticas partidárias burocráticas e defesas explícitas de sistemas capitalistas neocoloniais, que sempre foram e serão causa e motivo de derrota.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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