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Fuja do aluguel. Famílias de baixa renda agora conseguem realizar o sonho da casa própria, diz Daniela Ferrari, do SindusCon – Imagem: Redes sociais e SindusCon-SP

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Tijolo por tijolo

Os investimentos do governo federal em habitação pavimentam a retomada da indústria da construção civil

Conteúdo oferecido por Governo Federal

Além de possibilitar o acesso a moradias dignas e confortáveis a milhares de famílias brasileiras, especialmente as de baixa renda, o programa Minha Casa, Minha Vida, agora retomado pelo governo do presidente Lula, deve impactar diretamente no desenvolvimento mais acelerado da indústria de construção civil do País. Não é pouco. São quase 150 mil empresas envolvidas na cadeia da construção de habitações e obras de infraestrutura, grandes, pequenas e médias construtoras, incorporadoras, projetistas, arquitetos, fornecedores de materiais, máquinas e equipamentos, que empregam diretamente, com carteira assinada, em torno de 2,2 milhões de pessoas. A receita bruta da construção é de, aproximadamente, 400 bilhões de reais, segundo levantamento do IBGE.

“Estamos muito animados com as mudanças das regras, principalmente porque impactaram no poder de compra das famílias e ampliaram as possibilidades de construção de habitações em várias regiões do Brasil, especialmente do Norte e Nordeste”, avalia Daniela Ferrari Toscano de Britto, vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo (SindusCon), a reunir as principais empresas do setor.

Segundo ela, ao menos duas novas medidas do programa do governo, a redução das taxas de juro e o aumento do teto de financiamento dos imóveis, aumentaram a capacidade das famílias para aquisição da casa própria, reduzindo a necessidade da entrada. “O que se espera é que as famílias de menor renda, até 2,6 mil reais, que foram beneficiadas, consigam adquirir o seu primeiro imóvel. Esse impacto social é admirável.”

A meta estabelecida pelo governo federal para o programa Minha Casa, Minha Vida, de 2 milhões de moradias até 2026, significa a contratação de cerca de 500 mil unidades habitacionais por ano, e é plenamente factível, de acordo com o SindusCon paulista. “Isso é muita coisa para o setor da construção, pois estamos falando de empreendimentos de interesse social em várias regiões do País e que abrem novas frentes de atividades para a nossa indústria”, observa Britto. “Muitas construtoras vão retomar a compra de terrenos para construção de imóveis, fazer o licenciamento de projetos, contratar empreendimentos junto à Caixa Econômica Federal, terceirizar serviços e realizar parcerias com fornecedores de materiais, principalmente pequenas e médias empresas.”

A venda de novos imóveis bateu recorde no Brasil, com crescimento de 32,6% em 2023

Para os empresários da construção civil, o impacto da anunciada meta de construção de 2 milhões de moradias pode não ser, certamente, tão agressivo, num primeiro momento. Mas as medidas já começaram a refletir positivamente junto às construtoras e incorporadoras, a partir do segundo semestre de 2023, com uma produção 24% acima do primeiro semestre, aponta Luiz França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias, a Abrainc. “Em 2023, registramos uma produção total de 87 bilhões de reais em habitação popular, crescimento de 49% em relação a 2022”, comenta. “Esse aumento resultou no financiamento de 438 mil moradias, contribuindo para que 11% do saldo positivo dos empregos formais fossem gerados no setor da construção, conforme relatório do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o Caged.”

A alta demanda não traz preocupação para a indústria da construção no que tange à capacidade de atendimento com qualidade, garante França. “Hoje, temos um mercado imobiliário dinâmico e equilibrado, com empresas bem capitalizadas e com grande capacidade de produção.”

A avaliação é compartilhada por Rodrigo Luna, presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação ou Administração de Imóveis Residenciais ou Comerciais (Secovi) de São Paulo. “As construtoras brasileiras estão muito bem preparadas para enfrentar esses novos desafios e atentas para fazer adaptações e lançar produtos que sejam adequados ao que a população está esperando”, avalia o dirigente. De acordo com as análises do Secovi, o mercado imobiliário brasileiro encerrou 2023 de maneira positiva. De janeiro a dezembro, houve crescimento de 32,6% nas vendas de imóveis novos, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Foram comercializadas 163.108 unidades. Somente no segmento do Minha Casa, ­Minha Vida, o volume de unidades comercializadas cresceu 42,2% em 2023.

Financiamento. O orçamento do FGTS para habitação soma 107 bilhões de reais, o maior valor da história – Imagem: Bruno Corrêa/Nitro Imagens

As vendas de imóveis econômicos, como são denominados os empreendimentos imobiliários destinados às famílias de menor renda, vêm crescendo na capital paulista, observa Luna. Em 2023, foram comercializadas 35,9 mil unidades enquadradas no programa Minha ­Casa, ­Minha Vida. “Foi o melhor ano da série histórica, com crescimento de 5% em relação a 2022”, diz o presidente do ­Secovi-SP, que também integra a diretoria da incorporadora Plano&Plano, presente em mais de 15 cidades espalhadas pelo País. “Estamos tendo um crescimento médio em torno de 35% nos últimos anos, é bastante robusto. Só no último ano, a Plano&Plano lançou 12 mil unidades habitacionais, 90% das quais dentro do programa Minha Casa,­ Minha ­Vida”, diz ­Luna. Outras grandes construtoras, como a MRV Engenharia, Direcional, ­Rossi, Tenda, CAC e Vitale também atuam na construção de habitações populares.

As novas diretrizes do programa ­Minha Casa, Minha Vida trazem mais um grande desafio, a geração de empregos, tanto diretamente pelas construtoras, como pelas empresas terceirizadas de serviços da construção e pelas companhias fabricantes de materiais. Segundo dados do SindusCon, a indústria da construção é responsável por, aproximadamente, 7% das pessoas ocupadas no Brasil, diretamente ou terceirizadas, o que equivale a 7,4 milhões de trabalhadores. Nos últimos quatro anos, a construção gerou um total de 691 mil novos vínculos com carteira assinada. E em 2023 foram criados 158,94 mil novos postos de trabalho na construção civil, o equivalente a 10,7% do total de 1,4 milhão de empregos criados no País.

No segmento do Minha Casa, Minha Vida, as vendas de novas unidades cresceram 42,2% no ano passado

Novas contratações foram efetivadas este ano, de acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego. Em fevereiro, foram criados 35 mil novos postos, totalizando 81,7 mil no primeiro bimestre do ano. No acumulado de 12 meses até fevereiro, foram cerca de 180 mil. “Mesmo assim há, atualmente, grande pressão por mão de obra no setor da construção civil”, analisa Fábio Tadeu Araújo, CEO da Brain Inteligência Estratégia, consultoria especializada no mercado imobiliário. “O setor tem gerado empregos de qualidade e com carteira assinada. A taxa de desemprego vem caindo em todo o País. Por isso, hoje, a competição por mão de obra é grande e há certa dificuldade para encontrá-la.”

Várias construtoras têm relatado dificuldades para a contratação e retenção de profissionais. “A indústria de construção sempre comenta sobre a escassez de mão de obra. A geração mais nova tem evitado o trabalho braçal, na indústria de construção, e busca oportunidades em sistemas de montagem, de operação de máquinas, uma função especializada que leva mais tempo de formar”, explica ­Daniela ­Ferrari, vice-presidente do SindusCon paulista. “O maior desafio é contratar pessoal para atividades que, cada vez mais, requerem qualificação. Devido aos avanços tecnológicos, canteiros de obras transformaram-se em linhas de montagem.”

De todo modo, a expansão do programa Minha Casa, Minha Vida terá também como consequência o estímulo às construtoras para realizarem mais investimentos em itens de sustentabilidade e produtividade em projetos e execução, barateando, inclusive, os preços dos imóveis. A projeção do setor para este ano é crescer substancialmente em relação ao ano passado, que já foi um ano muito bom, segundo avaliação da consultoria Brain. “Existe uma previsão de que o crédito imobiliário cresça em torno de 4% a 5%”, celebra Araújo. “No segmento específico do Minha Casa, Minha Vida, seguramente veremos uma forte aceleração, uma vez que temos o maior orçamento do FGTS da história. São 107 bilhões de reais. Imaginamos que o desempenho de unidades lançadas, em geral no setor, deve ficar um pouco superior ao do ano passado, na casa de 10%.” •

Publicado na edição n° 1307 de CartaCapital, em 24 de abril de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Tijolo por tijolo’

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