Teologia política, veneno social

A entrada da religião no debate político é um rápido caminho para o inferno

Foto: DOUGLAS MAGNO / AFP

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Os festejos de Nossa Senhora Aparecida foram transformados num lamentável e obsceno espetáculo de aproveitamento político. Aqui, numa reportagem de uma das televisões portuguesas que cobrem a campanha eleitoral, apareceu uma senhora brasileira que lamentava, abanando a cabeça, a mistura entre política e religião. “Não é nada bom”, dizia. Não, não é nada bom. No fundo, a intuição da senhora exprime a tentação religiosa de impor as suas crenças a toda a vida social e estender a polícia moral sobre os comportamentos individuais. Os momentos mais cruéis, mais violentos e mais sombrios da história humana podem encontrar-se nos períodos em que o fanatismo religioso dominou e controlou todos os aspectos da vida pública. O Irã de hoje é uma excelente ilustração do que significa uma revolução liderada por padres.

Se a natureza da política é a pluralidade humana, como escreveu uma das mais brilhantes filósofas do século XX, então talvez se possa dizer que não há pior veneno social do que a mistura da política com a religião. A política é plural, a religião é una. A política é o reino do debate e da crítica, a religião é o da fé e do dogma. A política lida com opiniões, a religião lida com a “Verdade”. O que me parece absolutamente deprimente é ver as diversas lideranças brasileiras numa competição feroz para se apresentarem perante o seu público como religiosas, como se essa qualidade fosse importante para o exercício do cargo, como se essa condição fosse determinante para a competência política ou para a qualidade da governação. O espetáculo é triste.

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1 comentário

PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 26 de outubro de 2022 02h05
Se os festejos de Aparecida foram lamentáveis, no último domingo, o circo armado por Roberto Jefferson, que atacou a ministra do STF com verborragia indecente e teve a sua prisão domiciliar revogada pelo ministro Alexandre de Moraes. E que no cumprimento da ordem judicial a Polícia Federal foi recebida a balas e lançamento de granadas pelo ex deputado e, então amigo do presidente Bolsonaro. Além de que munido de armas restritas ao exército, fuzilou um carro da Polícia Federal, ferindo, pelo menos dois policiais, além de ter disparado, ao menos, 50 tiros de fuzil foi o retrato do que é este governo Bolsonaro, pois Jefferson é quase amigo íntimo do ex-capitão presidente da República. Uma amostra grátis do que é esse governo. Uma pergunta que não podemos deixar de fazer: e se o agressor fosse um homem pobre, negro, favelado, esquerdista... certamente seria sumariamente executado pela própria PF. Bolsonaro pretende mesmo transformar o Brasil numa nova teocracia com milícias no Brasil. Por isso é assaz urgente que as pessoas de bom senso retirem esse senhor da presidência e reconduza ao cargo aquele que trará o antídoto da esperança para as trevas do extremismo que governou por quase quatro anos esse país. O mundo civilizado todo clama para a derrota de Bolsonaro com o retorno de Lula para o bem do Brasil e da própria humanidade.

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