Esporte
Temas na berlinda
Dois assuntos tomam o futebol: a instabilidade financeira dos clubes e a falta de um calendário mais equilibrado para todos


A discussão sobre a instabilidade dos clubes no futebol brasileiro ganha um novo capítulo com a reunião de dirigentes para debater a implantação do fair-play financeiro.
A recente declaração da presidente do Palmeiras, Leila Pereira, na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) traduz bem o problema.
“Verbalmente, todos estão de acordo (com o fair-play financeiro). Ninguém tem coragem de dizer que é correto comprar e não pagar. Eu quero saber na prática. Eles não implementam o que acham correto. O Palmeiras compra e paga. O Palmeiras contrata e paga. Acho que a grande saída para os clubes é virar SAF”, destacou.
A fala da dirigente veio logo após o Palmeiras perder para o Corinthians e as confusões enfrentadas pelo rival.
Na terça-feira 12, a Fifa confirmou o transfer ban aplicado ao Corinthians por conta de uma dívida de 6,1 milhões de dólares (mais de 33 milhões de reais) com o Santos Laguna, do México, pela compra do zagueiro Félix Torres no ano passado.
O time paulista, além disso, atravessa um processo de impeachment contra seu presidente, Augusto Melo.
Segundo Leila, as novas regras visam corrigir essa situação “imoral”, punindo os dirigentes. Na opinião dela, isto é algo que não acontece nos clubes que funcionam como associações.
A dirigente defende que a transformação dos clubes no modelo de Sociedade Anônima do Futebol é o caminho e a solução para o futebol brasileiro.
Ela reforça, porém, que, no Palmeiras, isso não acontecerá durante seu mandato.
Fora da mídia, ou seja, dentro do campo, a montanha-russa de resultados continua a confundir os torcedores.
O Cruzeiro, que parecia ter saído da crise e alcançado as primeiras posições, perdeu em casa para o Santos, que luta para escapar da zona de rebaixamento.
A partida realizada no domingo 10, pela 19ª rodada do Brasileirão, terminou em 2 a 1 para o Peixe.
Em campo, um lance viralizou nas redes sociais: o drible desconcertante de Neymar em Fabrício Bruno.
No Nordeste, a situação inverteu-se: o Fortaleza, que vinha bem, trocou de posição com seu rival, o Ceará.
A instabilidade em campo, como bem sabemos, afeta diretamente a torcida, que reage com fúria contra dirigentes e até mesmo contra os jogadores, criando um clima de pressão insana.
O Palmeiras, que até outro dia ganhava quase tudo, viu suas instalações serem apedrejadas, mesmo com o time em alta e a renovação de contrato do técnico Abel Ferreira encaminhada.
Os limites estão no chão. Casos graves tornam-se frequentes, como o do volante Marlon Freitas, do Botafogo, que teve de ser retirado do gramado numa ambulância, após um choque de cabeça.
O episódio reforça a necessidade de seguir os protocolos para traumatismos, mostrando a fragilidade dos atletas diante da pressão e do risco do esporte.
A CBF também se reuniu com os clubes para adequar o calendário, já que 145 times da Série A ficam sem jogos oficiais em seus estados pelo resto do ano após o término dos campeonatos estaduais.
Para os analistas, as soluções propostas – como dobrar a quantidade de times na Série D ou criar uma Série E – não resolveriam o problema, e sempre haveria insatisfeitos.
Individualmente, Neymar voltou a destacar-se, mostrando sua preparação para a Copa do Mundo de 2026.
Mas o grande protagonista da semana foi Romário, que, mais uma vez, demonstrou sua autenticidade.
O “Baixinho” é um “finalizador em tempo integral”, tanto em campo quanto na política.
Como senador, ele continua com a mesma mentalidade de quando jogava: o que importa é a bola na rede.
Brigado com o ex-presidente Jair Bolsonaro desde a eleição de 2022, ele foi o único senador eleito pelo PL que não apoiou pedidos de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ele não “dourou a pílula” e, percebendo um cenário de “entreguistas”, preferiu não se juntar ao “rebanho”, mantendo sua postura frontal e direta.
Mas, voltando à bola que rola, qual desses temas você acha mais urgente de ser resolvido no futebol brasileiro: a instabilidade financeira dos clubes ou a falta de um calendário mais equilibrado para todos? •
Publicado na edição n° 1375 de CartaCapital, em 20 de agosto de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Temas na berlinda’
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