

Opinião
Taça e despedida
A vitória do Flamengo na Copa do Brasil é acompanhada da pouco clara saída de Gabigol do clube onde sempre foi ídolo


Na esteira do caso envolvendo o jogador Marcelo e o fim do contrato com o Fluminense, abordado neste espaço na semana passada, tivemos a notícia da saída do Gabriel Barbosa, o Gabigol, do Flamengo.
A saída foi anunciada ainda dentro do campo, no calor da comemoração do título da Copa do Brasil, conquistado no domingo 10, numa vitória categórica depois de ter sido aberto o caminho no jogo de ida no Maracanã.
O atleta deixará o clube ao fim desta temporada, após cinco anos de uma relação marcada por muitas conquistas, mas também por muitas confusões.
E o fato é que o jogo da despedida foi, ele mesmo, marcado por muitas confusões e por mais episódios de violência – algo que tem se tornado corriqueiro.
Além da repetição da violência, a partida entre Flamengo e Atlético-MG na Arena MRV, em Belo Horizonte, trouxe outros acontecimentos que chamam atenção.
O primeiro deles foi, de fato, o anúncio da despedida do Gabigol, ela mesma seguida de troca de farpas incoerentes com a etapa vivida pelo artilheiro no clube da Gávea.
Embora o jogador tenha sido importante para um dos períodos mais férteis da história do clube, no fim tornou-se estranha a relação entre ele e o Flamengo.
Gabigol chegou a ser escolhido para figurar como capitão do time – sem que tivesse demonstrado possuir o perfil adequado para isso – e dar as entrevistas depois dos jogos.
Seu último período no Flamengo foi bastante irregular, com um entra-e-sai do time titular e especulações a respeito de sua saída, cogitada para vários lugares – Corinthians e Palmeiras, entre outros.
Todas soavam estranhas diante da idolatria de que o jogador desfrutava entre os torcedores e a direção do clube.
Ao final desta temporada, com a troca de treinador – em setembro, Filipe Luís assumiu o comando da equipe de forma interina, após a demissão de Tite –, ele voltou a ser protagonista na equipe e acompanhou a boa fase que culminou com o título da Copa do Brasil.
Ato contínuo, porém, foi anunciada a saída do atacante e falou-se de seu acerto – já encaminhado – com o Cruzeiro, de Belo Horizonte, mesma cidade onde aconteceu a final do campeonato.
A melhor manifestação, nesse episódio todo foi a do diretor de futebol do Flamengo, Bruno Spindel, ele mesmo provavelmente também de saída.
Spindel, simplesmente, botou a bola no chão declarando: “Eu desejo que ele seja feliz”. Em relação à questão profissional, simplesmente, acabou o contrato.
A outra situação interessante desse momento foi a promoção do Filipe Luís, recém-iniciado como treinador na base.
Com nove jogos dirigindo a equipe profissional, ele foi campeão da Copa Brasil, tirando o time da crise e tendo revalorizado o próprio Gabriel Barbosa.
E olhe que, se não fosse a atuação muito especial do goleiro Éverson, do Atlético, excepcional, poderia ter havido uma goleada acachapante.
Cabe aqui um parêntese: no meio da confusão que se seguiu à decisão Atlético vs. Flamengo, foi louvável a atuação do Hulk, capitão do clube mineiro, que, literalmente, ajudou a segurança a acalmar a ira dos torcedores inconformados.
Mas, voltando ao Flamengo, ainda quero pontuar outra situação particular.
Assim como Filipe Luís teve sucesso absoluto nessa reta final na qual assumiu o time, há um rol de jogadores que passaram pela mesma situação: ganharam títulos e, em seguida, foram defenestrados.
Esse tipo de atitude, na verdade, vai na contramão do sucesso de um clube de futebol.
O ambiente de camaradagem é que permite o sucesso dos trabalhos coletivos.
É com todos remando juntos que o barco chega ao seu destino. •
Publicado na edição n° 1337 de CartaCapital, em 20 de novembro de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Taça e despedida’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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