Viver é se sentir partido ao meio. Mas, ultimamente, nem partidos ao meio estamos. Parece que 80% do coração da gente está angustiado, esperando a próxima pancada e recebendo-a, com raiva, com desespero, com resignação, porque são muitas pancadas, muitos socos, de todos os lados. Não dá tempo de respirar, de se recompor para o próximo assalto que o juiz está apitando o nocaute seguinte. Aquele outro 20%, e estou sendo muito generosa, se regozija com as poucas notícias que esquentam a alma.
Sejamos sinceros, antes fosse 20%. Tem dias que a gente fica num miserável 5%, 1%… Tem dias que a alma fica gelada. Estamos tão carentes de boas-novas, tão órfãos de grandes vitórias, que aguardamos, com entusiasmo, as possíveis pequenas conquistas, nos deleitamos, como crianças com brinquedos novos, a cada mínima possibilidade de esperança. Estamos tão frágeis que a gente já não mais vibra só com os grandes fulgores de luz, mas com os tímidos cintilares que temos a nosso dispor. Uma pequena faísca, uma chispa diminuta de fé, e a gente se agarra a elas como carrapatos desesperados, até o próximo soco no estômago.
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