

Opinião
Subidas e descidas
Vem de Fernando Diniz, à frente do Fluminense e da Seleção Brasileira, a percepção de que o Brasil “perde talentos a rodo”


Quando nos sentimos exultantes com as vitórias do esporte brasileiro, como aquelas obtidas no Campeonato Mundial de Ginástica Artística e no vôlei, classificado para a Olimpíada de Paris 2024, desabam sobre nós as notícias sobre a nova crise de violência no Oriente Médio.
No futebol, com a aproximação do fim do ano-calendário, acumulam-se os jogos que se mostram decisivos em todos os sentidos: tanto para o sucesso dos campeões e dos que sobem de divisão quanto para o desalento daqueles que se veem rebaixados, certamente com problemas acumulados.
Nesse sentido, o que mais chama minha atenção é a situação dos que caem na Série B, cada vez mais intrincada com o descenso de grandes clubes – muitos deles tradicionais e com torcidas numerosas e aguerridas.
Desta vez, para subir estão na cabeça o Vitória da Bahia, o gaúcho Juventude, o Sport de Recife (PE) e o Guarani de Campinas (SP).
Na Série B vão na ponta o Paissandu de Belém (PA) e o Amazonas, do Norte do País, e o Brusque (SC) e Operário (PR), do Sul.
Outra novidade na última rodada do Campeonato Brasileiro foi o resultado elástico, como não se via há muito tempo: Bahia 6 x 4 Goiás, no sábado 7, no Estádio da Serrinha, em Goiânia.
Foi uma partida surpreendente, que se tornou um dos cinco jogos com mais gols na história dos pontos corridos do campeonato, desde 2003.
Aproximam-se também as finalíssimas na Sul-Americana, com o Fortaleza colocando o Nordeste brasileiro pela primeira vez nessa posição.
O time chega à final após ter vencido o Corinthians por 2 a 0, na Arena Castelão, na segunda semifinal, e enfrentará o LDU – que eliminou o argentino Defensa y Justicia. O Fortaleza, como se costuma dizer, já está no lucro.
Na Libertadores da América, passadas as fortes emoções das disputas entre Palmeiras vs. Boca Juniors e Fluminense vs. Internacional, chega-se à decisão final entre o Fluminense e o “copeiro” Boca Juniors.
E, não sei não, mas o aguerrido time argentino arrisca-se a sofrer uma goleada. O “Boca”, não devemos nos esquecer, chegou à decisão aos trancos e barrancos, de empate em empate, e decisões por pênaltis.
Mas, obviamente, pode até se sagrar campeão mais uma vez, afinal de contas, somos partidários da sabedoria popular: “Futebol não tem lógica” e “clássico é clássico”.
O time é o maior finalista da história da Conmebol Libertadores e levantou a taça seis vezes, ficando atrás apenas do Independiente, também da Argentina, dono de sete títulos.
No Brasileirão, o Botafogo, apesar de quase ter matado seus torcedores do coração – eu incluído –, voltou aos trilhos depois de tropeçar nas próprias pernas.
Demitido o técnico português Bruno Lage – um dia após o empate com o Goiás, no Nilton Santos –, o time virou do avesso, como se, feito num conto de fadas, tivesse sido transformado por uma “varinha de condão”. No domingo 8, venceu o Fluminense por 2 a 0 pelo Brasileirão.
Os técnicos dos times brasileiros têm posição impossível de ser suportada por qualquer um – a não ser os “malandros velhos” e os ditos “cascudos”.
Ao chegarem aos times, eles têm carta branca e passam a mandar em tudo. Quase todos começam acreditando que vão conseguir resolver problemas quase sempre atribuídos aos dirigentes.
Passados os primeiros jogos, no entanto, a depender do andar da carruagem, ficam arrancando os cabelos, exasperados à beira do gramado. É o que temos visto acontecer com o também português Abel Ferreira e com o argentino Jorge Sampaoli, recém-saído do Flamengo.
Não à toa, a negociação do agora confirmado novo treinador do Flamengo, Tite, foi mais intrincada que as necessárias para pôr fim às guerras insanas.
Que se cuide o Fernando Diniz, à frente do Fluminense e da Seleção Brasileira ao mesmo tempo. Não são poucos os técnicos obrigados a se afastar da função por problemas de saúde, quase sempre relacionados ao estresse a que são submetidos.
Vem, inclusive, do próprio Diniz, a declaração importante a propósito da atuação da jovem promessa John Kennedy, atacante de 21 anos do Fluminense: “O Brasil perde talentos a rodo”.
Os técnicos estrangeiros, quando saem, dizem que os torcedores são loucos. E são mesmo. Mas a culpa é de quem os contrata sem garantir um mínimo de estabilidade. •
Publicado na edição n° 1281 de CartaCapital, em 18 de outubro de 2023.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Subidas e descidas’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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