Opinião

Sobre tudo o que vi e ainda vou ver nos meus próximos agostos

Nesse cenário de comédia, escrevesse sobre agropecuária, estaria apenas escarnecendo dos leitores que me dão a honra da leitura

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Terão adiantado os tantos quilômetros andados, rodados, voados, nestes pouco mais de 8.500 km² de Pátria Amada Brasil, como hoje em dia se ousa dizer? Confesso que foram em diferentes percepções ao longo de cada momento da vida.

Tempestades, brumas, céus azuis, brilhantes noites goianas, estrelas mineiras, quebras mares cariocas e baianos, agrestes arenosos, água brotando de pneus de caminhões, pampas planos a perder de vista, serras mareadas, grandes, gerais ou diamantinas, permitindo vistas assim do alto. Delas, a mais perto de mim, as gotas de chuva, amanatyqyra, ah! Mantiqueira.

Águas-mineiras-minerais deslizando no aumentativo fausto do arrasta-tudo. “Ô loco, meu” contra “Vocês querem bacalhau?” Quiseram tudo, tiveram por pouco tempo, levaram nada.

Mas será mesmo que eu vi tudo isso e muito mais? Posso ter sonhado, me enganado, ou me encantado ouvindo muito vaqueiro tangendo gado. Ou foram apenas os livros e discos que me convenceram ter vivido em terras assim? Acho que sim.

 

De movimentos elegantes, como os narrados por Chico Buarque, “Para Mané para Didi, para Mané Mané para Didi, para Mané para Didi, para Pagão, para Pelé e Canhoteiro”. Estes eu vi, e não só na canção “O Futebol”.

Então o que faço aqui, hoje, iniciando o septuagésimo-quarto agosto de minha vida?

Com certeza pagar micos, crimes e castigos, paus, pedras e fins de caminhos.

Como não ver empenho na investigação da morte do líder indígena Emyra Waiãpi. Garimpar em terras indígenas para uma nova Carajás? Digam aí, gênios genocidas.

Ler que a mãe de um presidiário, no Pará, recebeu a cabeça do filho, em um saco de lixo. Questionado, o presidente da República manda-a tirar satisfação com as vítimas que aquele decapitado fez.

Depois de ler tantos estudos, ficar sabendo que a preservação ambiental e a biodiversidade servem apenas à alimentação de veganos.

Que geopolítica é se apaixonar por Donald Trump e colocar na embaixada brasileira em Washington D.C. um filho que sabe fritar hambúrgueres. Para o Direito, no Supremo Tribunal Federal (STF), “o mais radical dos evangélicos”. Julgará a dízimos?

Teremos menos radares nas estradas e nas metrópoles. Compensaremos com mais autoescolas e educação no trânsito? Não poderemos resolver na bala.

Capitão Insano Primeiro, se ainda não percebeu ou foi informado, fizeram o povo brasileiro crê-lo um mito. Minto? Guedes um CEO (Chief Executive Officer) do Estado. E uma equipe que pudesse reformar, por que transformar não iriam mesmo, necessidades mínimas de uma nação onde habitam cerca de 210 milhões de pessoas, que passam pelas mais desumanas mazelas.

E o que temos? O nada. No máximo um brincalhão de redes sociais com as ideias mais estapafúrdias, os pronunciamentos mais patéticos, confusões caricatas com os demais poderes, e o espanto geral de nem mesmo respeitar as Forças Armadas, sua origem.

Na melhor das hipóteses, nesse cenário de comédia, escrevesse sobre agropecuária, estaria apenas escarnecendo dos leitores que me dão a honra da leitura.

Esperemos voltar o País dos meus primeiros parágrafos, aquele de meus 74 agostos.

Inté!

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