Marcos Coimbra

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Sociólogo, é presidente do Instituto Vox Populi e também colunista do Correio Braziliense.

Opinião

Só adesão militar pode salvar Bolsonaro. Mas onde o Exército quer chegar?

Irão sustentar um incapaz, sem apoio popular, na hora em que mais precisamos de uma liderança qualificada e respeitável?

O presidente Jair Bolsonaro e o vice-presidente Hamilton Mourão. Foto: Arquivo/Marcos Corrêa/PR
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O lastimável ex-capitão Bolsonaro perde apoio desde outubro de 2018. Graças a manobras (a principal delas, o impedimento da candidatura de Lula, que o derrotaria com facilidade) e trapaças (um ciberataque imoral contra Fernando Haddad, financiado com dinheiro ilegal), venceu a eleição e se habilitou a liderar uma parcela majoritária da opinião pública. A faca e o queijo estavam em suas mãos. Mas ele cai desde então. O tempo foi o único fator que impediu que o tombo fosse maior ao longo de 2019: parte dos seus eleitores considerava que “era cedo” para admitir o errado na escolha. Sustentou-se com um terço de aprovação, menos do que recebera em votos, mas acima do que mereciam seu comportamento e governo.

Na entrada do segundo ano, a paciência dos eleitores começou a se esgotar. Os pífios resultados na economia, depois de quase quatro anos da política econômica Temer-Bolsonaro, mostraram que não havia recuperação no horizonte. Somados à falta de realizações em outras áreas (a começar pelo fiasco da performance de Sérgio Moro na Justiça) fizeram com que o cenário para a eleição de 2020 e, especialmente, para a sucessão em 2022, passasse a ser péssimo para o ex-capitão.

Se há uma coisa que Bolsonaro e sua turma não querem perder são as boquinhas decorrentes do poder: a residência no Palácio da Alvorada, os gabinetes no Planalto, os jatinhos da FAB, os cargos para os amigos. Fora os negócios. Depois de anos na periferia da política, restritos a rachadinhas e nomeações mixurucas, estão agarrados como carrapatos aos luxos recém-adquiridos.

O capitão viu a pandemia como uma boia de salvação. Considerando que suas chances de reeleição haviam se tornado pequenas e desciam a ladeira, quem sabe não conseguiria usá-la para chegar melhor a 2022? O cálculo é complicado e destituído de qualquer sentido humanitário e moral (algo que em nada detém o clã Bolsonaro): colocar as fichas no inverso do que fazem todos os países do mundo e do que prescrevem a ética, o bom senso e a ciência. Liberar geral, sem quarentena, sem isolamento, tudo aberto e vida que segue. Muita gente morre, mas e daí? Antes a morte de dispensáveis do que a “paralisação dos negócios”. Se funcionasse, seria semelhante a ganhar na Mega Sena sozinho.

Nessa opção está implícita a aposta de que a montanha de óbitos será “pequena”. Até Bolsonaro sabe que, em sendo grande, tudo que fez e disse em defesa de suas idiotices se voltará contra ele. A depender da contagem dos cadáveres, sai com cara de monstro.

O ex-capitão escolheu agir assim por não ver outro caminho para se dar bem na eleição, por não ter escrúpulos de cruzar os braços e deixar milhares morrerem e por ser incapaz de compreender o que é a pandemia da covid-19. Ele é incompetente e burro, e, como costuma ser gente assim, prefere cercar-se de outros burros e incompetentes (sem esquecer que há os espertos dispostos a lucrar com a burrice dele).

Liderar um país como o Brasil no enfrentamento da pandemia e na busca dos caminhos para reconstruir e reformar a economia, as políticas públicas e os modos de convivência social é uma tarefa completamente acima da capacidade de Bolsonaro. A vida não o preparou para isso e ele faz questão de ostentar a ignorância como virtude.

Por extraordinário que seja, ainda há quem goste disso. Hoje, quase 40% da população diz que o detesta, aos quais se somam outros 20% que afirmam que não gostam dele. Quase dois terços acreditam que ele atrapalha na luta contra a doença e mais de 70% não confiam no que fala. A proporção daqueles que consideram que não têm capacidade para governar o País, em um momento como este, é duas vezes maior do que a daqueles que dizem sim.

A principal sustentação efetiva que resta a Bolsonaro é o Exército, em um extemporâneo e despropositado retorno a algo que parecia superado em nossa evolução política, mas que alguns generais resolveram desenterrar. Desde a intervenção na eleição à maciça presença no governo, decidiram voltar à política, batendo continência para essa figura patética. Inibem o movimento das instituições para solucionar a catástrofe do bolsonarismo.

No Dia do Exército, Bolsonaro portou-se como as “vivandeiras alvoroçadas” citadas pelo ditador Castelo Branco, que vão saracotear na porta dos quartéis, para “bulir com os granadeiros”. É isso que os militares querem? Sustentar um incapaz, sem apoio popular, na hora em que mais precisamos de uma liderança qualificada e respeitável? Dar-lhe mais poderes para transformá-lo em um ditador abestalhado?

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