Foto: Ricardo Stuckert

Opinião

Serenidade na luta

O conflito só interessa aos nossos adversários. Temos de ser firmes na defesa da democracia, e assim o faremos. Mas de maneira respeitosa, pacífica e propositiva

Foto: Ricardo Stuckert

Com a proximidade do período eleitoral, o Brasil encontra-se diante de nova encruzilhada política que pode nos levar a dois destinos muito diferentes. De um lado, o aprofundamento da crise institucional em que o País está mergulhado, com ameaças reais e diárias à democracia e com o agravamento dos dramas nacionais. De outro, a possibilidade de voltar a sonhar com dias melhores, interromper este ciclo perverso de retrocessos, restabelecer direitos e recolocar o Brasil no caminho do desenvolvimento.

A experiência brasileira dos últimos anos comprovou na prática o quanto o chefe do Executivo possui, enquanto líder de uma nação, o poder de pacificar ou de conflagrar o ambiente democrático. O atual presidente mostrou, em diversos episódios da história recente, que é totalmente despreparado. Além de não ter qualquer projeto para o Brasil, é incapaz de externar solidariedade ao ser humano. Vimos isso diante das mais de 670 mil vidas perdidas por conta da pandemia e diante de episódios de violência que resultaram nas mortes de Bruno Pereira e Dom Philips, na Amazônia, e de Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu.

Por conta desse estilo insensível e antidemocrático, capaz de produzir uma guerra a cada dia, o atual presidente tem naturalmente colhido uma rejeição muito alta por parte da maioria do povo brasileiro. É impossível esconder ou disfarçar este cenário marcado pela escalada da violência e pela interdição do debate civilizado na esfera pública. Mesmo acuado e ciente de que suas chances de se reeleger estão derretendo a cada dia que passa, ele continua apostando no caos e incitando o ódio.

Diante dessa realidade, é fundamental que a gente siga respondendo tudo isso com paz, civilidade e democracia. Precisamos encontrar formas de dissipar essa atmosfera de conflito com argumentos e seguir caminhando para mais uma eleição, que é o momento maior da democracia brasileira. Nesse sentido, tenho convicção de que a força de Lula é, na verdade, a força do povo brasileiro. De um povo que quer voltar a fazer três refeições por dia, a ter pleno emprego, ter acesso à universidade, a viajar de avião, ter paz, saúde e prosperidade.

Tenho absoluta certeza de que, se ganharmos estas eleições, Lula será um presidente muito melhor do que foi nos oito anos em que governou o País. E é isso que o próprio Lula tem dito nas suas andanças pelo Brasil. Mais que nunca, ele é um líder com muita experiência e muitos aprendizados colhidos na sua trajetória política e pessoal. Não tenho dúvida de que ele fará um governo amplo, de conversa e negociações. A essência de Lula é ser um grande negociador. Não é da natureza dele o rancor. Ele vai governar com a generosidade que o caracteriza e na amplitude que tem.

Por esse motivo, sempre que me perguntam se Lula conseguirá reconduzir a relação com o Congresso, eu digo que sim. Pois, diferentemente do que vemos hoje, os parlamentares vão saber que quem está ali na cadeira de presidente é um estadista, um conciliador e um homem com o espírito público, com empatia e sensibilidade necessárias para abraçar os desafios que esta missão demanda.

O presidente Lula tem plena consciência de que não é hora de acirrarmos os ânimos ou de alimentarmos ainda mais esse ambiente de conflito, pois é justamente isso que os nossos adversários tanto desejam que aconteça. Tudo o que eles gostariam de ver é todo mundo por aí dando tiro para cima e para baixo. Mas não vamos e não podemos abraçar uma violência que não é nossa. Faremos a nossa campanha em paz.

Por outro lado, tampouco podemos nos intimidar ou recuar num momento tão crucial da nossa história. É hora de ampliarmos o diálogo e de juntarmos do mesmo lado todos aqueles e aquelas, que mesmo com diferentes convicções políticas ou divergências de valores, convergem no aspecto essencial: a defesa intransigente da nossa democracia.

É fato consumado que o atual presidente seguirá insistindo na sua cruzada hostil e intimidatória, atacando os sistemas Judiciário e Eleitoral. A aposta do outro lado é na manutenção desse clima de conflito, para nos fazer crer que não seremos capazes de garantir um ambiente de tranquilidade democrática nas eleições. Não vão prosperar. Como vem recomendando Lula, temos de ser firmes na defesa da democracia, e assim o faremos. De maneira respeitosa, pacífica e propositiva.

Portanto, onde eles oferecem divisão, nós oferecemos unidade. Onde eles oferecem ofensa, nós oferecemos diálogo. Onde eles oferecem conflito, nós oferecemos prosperidade. Com essa equação e sob a liderança do presidente Lula, conseguiremos derrotar o autoritarismo nas urnas em outubro e devolveremos a esperança ao povo brasileiro. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1219 DE CARTACAPITAL, EM 3 DE AGOSTO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Serenidade na luta “

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

Jaques Wagner

Jaques Wagner
Senador (PT-BA). Foi governador da Bahia (2007-2015) e ministro do Trabalho (2003-2004), Defesa (2015) e Casa Civil (2015-2016).

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo