Henry Bugalho

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Henry Bugalho é curitibano, formado em Filosofia pela UFPR e especialista em Literatura e História. Com um estilo de vida nômade, já morou em Nova York, Buenos Aires, Perúgia, Madri, Lisboa, Manchester e Alicante. Por dois anos, viajou com sua família e cachorrinha pela Europa, morando cada mês numa cidade diferente. Autor de romances, contos, novelas, guias de viagem e um livro de fotografia. Foi editor da Revista SAMIZDAT, que, ao longo de seus 10 anos, revelou grandes talentos literários brasileiros. Desde 2015 apresenta um canal no Youtube, no qual fala de Filosofia, Literatura, Política e assuntos contemporâneos.

Opinião

Será o fim de Jair Messias Bolsonaro?

Precipitar-se pode nos levar a abrir a guarda e expor as nossas táticas e fraquezas; porém, agir tardiamente poderia ser fatal

O presidente Jair Bolsonaro (Foto: Alan Santos / PR)
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Mais uma vez assistimos ao presidente saindo diante do Palácio do Planalto para saudar manifestações golpistas que visam intimidar o Supremo Tribunal Federal e o Congresso. Uma vez mais vimos a enxurrada de notas de repúdio lançadas a esmo nas redes socais.

Como das outras vezes, a intenção de Bolsonaro é clara. Este é um jogo de expansão e contração. Ele atiça, esbraveja, inflama os ânimos, e depois recua, afirma ser um defensor da Constituição e da democracia, que respeita os demais poderes. Embora a ameaça de um avanço autoritário tenha se tornado uma sombra permanente neste governo, o presidente se encontra isolado e acuado. Está blefando, ou pelo menos é o que aparenta, já que não temos muita certeza de qual é a posição oficial das Forças Armadas, nas quais Bolsonaro se respalda para estas bravatas. Assim como o presidente, os oficiais militares mandam mensagens desencontradas: ora se silenciam, ora repudiam nos bastidores, raramente sinalizam desacordo, às vezes glorificam a “revolução de 64”.

Já vimos este filme antes inúmeras vezes em diferentes ocasiões, mas agora temos um elemento adicional bastante singular — a demissão de Sérgio Moro. O ex-ministro da Justiça abandonou o cargo e soltou uma bomba-relógio no colo do presidente. Sabemos que, em algum momento, ela vai explodir, mas não temos como prever as consequências. Após oito horas de depoimento na Polícia Federal, Moro prometeu provas e testemunhas. Este pode ser o começo do fim para Bolsonaro, que tem se agarrado ao assento presidencial comprando o apoio do Centrão, conseguindo assim alienar a sua base lavajatista que migra a tiracolo de Moro e, ao mesmo tempo, confundindo de maneira irreconciliável o seu eleitorado a quem ele havia prometido que não faria toma-lá-dá-cá, que não praticaria a talvez “velha política”, como, se de algum movo, Bolsonaro representasse qualquer coisa de nova. Não, ele é sinônimo da Velha Política e das velhas práticas. O presidente está compreendendo que neste jogo político nem sempre a ideologia sobrevive ao pragmatismo, especialmente quando arrota uma ideologia de conveniência, nutrindo-se de um espírito de indignação coletiva.

O maior desafio é como a oposição deve navegar em meio a este turbilhão. Quando pensamos na História, temos a comodidade de julgar anacronicamente as decisões dos grandes líderes do passado, mas já não temos esta lucidez no calor do desenrolar dos eventos. Corremos o risco de subestimar o discurso de Bolsonaro e julgá-lo incapaz de atentar contra as instituições e seguir seus já conhecidos impulsos autoritários, abrindo-lhe uma brecha para a marcha da arbitrariedade. Por outro lado, um erro igualmente problemático seria superestimar a posição do presidente, supondo que ele realmente tem mais apoio do que de fato tem e que, ao tentar neutralizá-lo, seja através de um impeachment ou tentando forçar sua renúncia, isto o fortaleça e lhe dê um fôlego adicional.

Este é o desafio do tempo presente e destas conjunturas sempre em transformação. É como se participássemos de um jogo no qual não enxergamos quais são os movimentos do time adversário, a não ser quando já for tarde demais. Precipitar-se pode nos levar a abrir a guarda e expor as nossas táticas e fraquezas; porém, agir tardiamente poderia ser fatal.

Já sabemos muito bem que uns dos elementos centrais das extremas-direitas, e que hoje se trata de um esforço político coordenado e global, são a desinformação e a confusão. Ganha-se terreno ao desorientar a oposição para que ela nunca saiba exatamente o que está acontecendo, para que perca tempo desnecessário enfrentando factoides, desmentindo fake news, sempre na defensiva e inevitavelmente orbitando a narrativa elaborada por líderes populistas e suas máquinas de destruição de reputações.

Mas tudo tem seu fim. Em algum momento, conseguiremos, mesmo que tateando nas trevas, encontrar a saída deste labirinto de mentiras e distorções. A noite pode ser escura e assustadora, mas não dura para sempre.

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