Opinião

Romeu Silvério dos Reis Zema, desgovernador de Minas Gerais

Se deve analisar também o escorregão da diplomacia brasileira, que levou o presidente da República, em 21 de abril a… Portugal, precisamente o país que efetuou o esquartejamento do Tiradentes

Imagem: Alan Santos/PR
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Na semana passada, em 21 de abril, o desgovernador de Minas Gerais teve o desplante de condecorar com a medalha da Inconfidência os traidores da pátria Michel Temer e Sérgio Moro, dois seres que causaram os maiores danos ao Brasil, em toda a sua história.

O expoente do Partido Novo – que de novo nada tem – pretendeu dar honra aos que nunca a tiveram, pois desprovidos de moral e ética. Pior, o fez, usando o nome de alguém que deu a vida pela libertação da pátria, sendo por isso enforcado e esquartejado, em 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro: o Tiradentes.

Vale lembrar que Romeu Zema é o desgovernador sob o qual ocorreram algumas das piores tragédias humanas e ambientais do país, como a de Brumadinho, em que pereceram mais de 200 pessoas, praticamente matando também o Rio Doce, com consequências inimagináveis para as populações ribeirinhas, a fauna e a flora da região e do país.

Claramente, o desgovernador busca suceder o genocida no governo federal, tendo percebido que aquele será descartado após ter feito o serviço sujo para o capital financeiro internacional, as petroleiras e a Faria Lima, entre outros predadores da nação.

Entretanto, açodado, Zema deverá encontrar o caminho do lixo antes mesmo de provar o do Palácio.

Por outro lado, como Antonio Gramsci bem sinalizara, política é cultura. Ou seja, é algo mais profundo do que a própria ideologia, pois enraizada no inconsciente de um povo.

Creio que assim se deve analisar o escorregão da diplomacia brasileira, que levou o presidente da República, em 21 de abril a… Portugal, precisamente o país que efetuou o esquartejamento do Tiradentes…

Seria de se perguntar se a chancelaria está entregue ao Porta dos Fundos, porque ser cômica, se não fosse trágica, aquela escolha. Um presidente que deixa o país na data mais importante para sua libertação do jugo estrangeiro, colonial, e vai comemorá-la junto ao opressor não soa a coisa séria.

Não teria acontecido um ato de massas na data do martírio do libertador, em qualquer outro país das Américas? Não seria assim com Sandino, Bolívar ou Martí, entre outros? Na África do Sul não temos um “Mandela Day”?
Onde estavam partido e governo (não apenas o MRE, mas também o Minc e outros)? Será que o óbvio continua a ter tantos inimigos no país, como diria Nelson Rodrigues?

A chancelaria não poderia ter agendado para começar a visita no dia seguinte, data da invasão portuguesa?

Vale notar, que a comemoração do 21 de abril se faria ainda mais premente, no momento em que é maior a retórica neocolonial, principalmente por parte das 8 famílias donas dos jornalões e TVs, todas incapazes de aceitar qualquer posicionamento que não seja o estrito alinhamento automático da política externa com os desígnios de Washington, por mais belicistas que sejam, visando exclusivamente aos lucros da indústria armamentista estadunidense e ao expansionismo geopolítico do país.

Mais uma vez, Gramsci se demonstra cientificamente correto, pois a grita alcançou até a imprensa supostamente de esquerda, que tampouco raciocinou sobre o óbvio: que a posição de Lula é a mesma do Papa; ou seja, a Rússia errou ao invadir a Ucrânia e esta, previamente, ao invocar a Organização do Tratado do Atlântico Norte para as fronteiras russas.

Portanto, o que não pode aceitar a imprensa hegemônica é, em última análise, que o país tenha política externa, uma vez que o alinhamento automático é, por definição, a negação dela. Como ter política externa é condição sine qua non da soberania, negá-la significa rejeitar a própria autodeterminação, que, vale lembrar, está prevista no artigo 4 da constituição, sendo, destarte, afronta que se faz à Carta Magna, e em última instância, crime que se comete contra ela.

Convém notar, ainda, que a cobertura da guerra na Ucrânia não está desprovida de eurocentrismo, colonialismo e racismo. Por exemplo, o conflito separatista no Tigray, buscando a independência com relação à Etiópia, matou mais pessoas no país do Norte da África do que na Ucrânia.

Porém, por que não teve a mesma repercussão e indignação? A resposta é por demais crua e óbvia.

O militarismo, por sua vez, acaba por impregnar estruturas de governo, a ponto de termos no Brasil um Gabinete de Segurança Institucional, com status de ministério, forrado de elementos de extrema-direita prontos a…atacarem as instituições, como vimos em 8 de janeiro último.

Extinguir esse verdadeiro serpentário é tarefa inadiável, se não quisermos correr mais riscos, o pior deles, o ridículo dessa jabuticaba-cabide-de-empregos de milicos que não têm disposição para a pintura de guias e palmeirinhas. Seguramente, não há outro país no mundo em que haja essa aberração, que, mais uma vez, é fruto da cultura que, durante a ditadura, criara um “ministério da desburocratização”, instância folclórica chefiada por Hélio Beltrão.

Com alguns dos dispensados, talvez se pudesse fazer investigação séria sobre a Polícia Rodoviária Federal, transformada por Temer e Bolsonaro em milícia partidária, cujos desmandos claramente excederam as tentativas – por si só crimes gravíssimas – de barrarem eleitores no dia da votação, em 30 de outubro último.
São tarefas inadiáveis para a segurança institucional da nação, de verdade.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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