Opinião

Roberto Jefferson e o Centrão: a velha, carcomida, política é chamada para salvar Bolsonaro

O abraço de afogados com a velha política não poderia ter sido mais arrebatador

Presidente Jair Bolsonaro assistindo live de Roberto Jefferson. Foto: reprodução
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Jair Bolsonaro e o “gabinete do ódio” sob o comando de Carluxo sabem alimentar os fanáticos. Umas alfafas de paranoia, algumas cenouras de fake news e bananas de teorias de conspiração satisfazem os seguidores. Não por menos, essa turma que classifica a presidência do ex-capitão como “ótima ou boa” foi capaz de acreditar que um deputado do baixo clero com 30 anos de mandatos improdutivos no Congresso representaria o novo e avançaria “contra tudo o que está aí”.

O mecanismo – e não se trata aqui da malfada série dirigida por José Padilha para a Netflix – foi colocado novamente em funcionamento. Na terça-feira 21, o chanceler da terra plana, Ernesto Araújo, “denunciou” a existência do comunavírus, um plano maléfico capitaneado pela China para dominar o mundo. É aquela velha ladainha de que a covid-19 foi criada em laboratórios chineses para destruir o Ocidente – ou, na versão mais delirante, para desestabilizar o governo Bolsonaro. No mesmo dia, Carluxo orientava a horda a colocar em dúvida as fotografias das valas comuns no cemitério de Manaus e a ampliar a guerra virtual contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Na vida real, papai Bolsonaro chafurdava na lama da velha política. Interditado pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Congresso, desautorizado pela chamada “ala militar”, o ex-capitão pediu socorro à cavalaria. O Centrão véio de guerra foi convocado para salvar o Palácio do Planalto. Quanto custará? Em princípio, o comando de bancos estatais como o BNB. Sabemos que não ficará por aí. O PP, o PL, o PSD e associados são um misto de tubarão (sentem o cheiro de sangue a quilômetros) e operadoras de banda larga (prometem 100 megabytes, mas entregam menos da metade). Tanto mais no caso de Bolsonaro, que participa da orgia na calada da noite, mas posa de carola à luz do dia.

O abraço de afogados com a velha política não poderia ter sido mais arrebatador. Eis que surge das cinzas de antigas batalhas o mais habilitado general de qualquer “tropa de choque” digna do nome. Embora tenha se submetido anos atrás a uma cirurgia bariátrica, Roberto Jefferson mantém o phisique du role para atuar como rolo compressor. Para quem duvidava de sua energia, ele fez questão de se exibir. No fim de semana, atacou Maia, referendou a tese de uma conspiração para derrubar Bolsonaro e ameaçou: o ex-capitão só cai à base da bala. “Vai ter sangue”, tronituou. Com ou sem vírus.

Jefferson tem uma longa ficha corrida. Liderou a tropa de choque que tentou salvar a cabeça de Fernando Collor, vendeu o apoio do PTB ao PT no chamado mensalão e esteve metido em rolos durante o mandato tampão de Michel Temer. Quando deputado, empregava Eduardo Bolsonaro em seu gabinete. Teria sido Jefferson o mentor da técnica do laranjal, tão bem aplicada pelo clã? Eduardo, o embaixador que não foi, recebia 9,8 mil reais por mês, mas era desobrigado de aparecer no trabalho.

Diante desses fatos, qual seria a esperada reação dos homens de bem que lutam por um Brasil melhor? Nenhuma. Eles estão ocupados com os moinhos de vento: Rodrigo Maia, o STF, João Doria, o papa, Manu Gavassi, o comunavírus, a OMS, a Globolixo, a mídia petista…

PS: A “ala militar” do governo virou sinônimo de racionalidade e competência, apesar de um de seus expoentes ser o general Augusto Heleno, cujo nível intelectual se emparelha com o de Ernesto Araújo. Mais um estrelado, Eduardo Pazuello, deve ser escalado para tutelar um ministério, desta vez a Saúde. Segundo o noticiário, Pazuello cuidaria da gestão, enquanto Nelson Teich, o silencioso, ficaria com a parte “técnica”. Sabe-se lá o que isso significa. Diante das mil utilidades da “ala militar”, sugiro que as escolas de samba criem as suas urgentemente. Em nome da ordem e do progresso no Carnaval.

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