Opinião

Ricardo Vélez e o festival de besteira que assola a educação

Se vivo, Stanislaw Ponte Preta faria edição exclusiva do Febeapá com as bobagens e pérolas proferidas pelo titular do MEC

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Causa estupor a entrevista do ministro da educação, Ricardo Vélez Rodríguez, recentemente publicada em semanário de grande circulação. Se vivo, Stanislaw Ponte Preta faria edição exclusiva do Febeapá com as bobagens e pérolas proferidas pelo titular do MEC.

O ministro revela verdadeira obsessão pelo PT e pelo marxismo, chegando até a se preocupar com um totem alusivo a Paulo Freire, pensador da educação traduzido e respeitado no mundo inteiro, situado à saída do prédio do MEC. Freire nem é propriamente um filósofo de tradição marxista, como crê o desinformado ministro, que se diz perseguido pelo PT, que lhe teria negado bolsas de estudo, desde os anos 1990, quando passou a “aparelhar” o MEC.

Ora, então o PT mandava no MEC, nos governos Collor, Itamar e FHC, mesmo fazendo oposição? Trata-se de análise estapafúrdia e desprovida de verdade histórica.

Além disso, o ministro, colombiano de nascimento, ofende a população brasileira, que considera “despreparada”, “indisposta” ou “incapacitada” para o ensino superior, concluindo que as universidades são para a “elite intelectual”. Segue ofendendo os brasileiros, ao nos classificar como canibais e ladrões, quando viajamos ao exterior. A propósito, é urgente que o Congresso Nacional convoque o ministro para se explicar e se desculpar.

O desqualificado entrevistado não tem limites para bobagens: ameaça os reitores de universidades federais, que, para ele, só querem mais “dinheirinho”, vivem ao arrepio da lei e podem ter o CPF “rastreado” pelo “juiz” Sergio Moro. Ora, Moro é colega de ministério do despreparado titular do MEC! Não é mais juiz de Direito, pois se exonerou da magistratura para ser ministro da Justiça, a convite de Jair Bolsonaro, que reconheceu seu apoio ao golpe de Estado de 2016 e à ascensão do obscurantismo no Brasil. Ademais, os reitores das federais não estão imunes ao controle da lei e têm suas contas de gestão examinadas pelo TCU.

Quando menciona a formação de professores, Vélez não se preocupa em explicar porque uma jovem recém-formada em direito, sem experiência docente nem formação acadêmica na área de educação, tornou-se coordenadora-geral de formação de professores do MEC, embora defenda a educação domiciliar, fora da escola e sem professor, como atesta seu trabalho de conclusão de curso.

Quando se refere ao projeto “escola sem partido”, conhecido nas escolas como “escola com censura”, o ministro, embora filósofo, parece desconhecer o conceito de ideologia, pois faz afirmações como se fossem neutras, desprovidas de caráter ideológico. Para Vélez, ideologia é coisa da esquerda, mas a imposição de um pensamento único e reacionário na escola e a assimilação pelos alunos da “lei interior” que ele afirma existir – seja lá o que for essa sandice – nada teriam de ideológico. São ideias puras, cheias de boa vontade e altruísmo…

Vélez carece de conhecimentos triviais sobre educação brasileira e seus desafios: o déficit na aprendizagem dos alunos ao longo do ensino fundamental; a dificuldade da maioria dos municípios para assegurar a educação infantil, em especial na creche; o aperfeiçoamento dos dispositivos de formação e valorização dos profissionais da educação; o caráter ainda fortemente seletivo do acesso ao ensino médio, para citar alguns dos mais graves.

Mas o ministro não trata disso: preconceito, desconhecimento, obsessão com a esquerda, isto sim, chama a atenção na entrevista, além da adoração ao astrólogo e filósofo autodidata Olavo de Carvalho. Sugiro que ele proponha ao guru a inclusão, em seus grupos de estudo, do conceito de ideologia, sobre o qual recomendo leituras de Marx e Gramsci, em vez de discussões sobre horóscopo. Por fim, uma ideia que presta: Vélez afirma que jamais pensou em ser ministro da educação. Tranquilizo o ministro, citando o Capitão Nascimento de Tropa de Elite: nunca será!

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