Justiça

Renda básica e inteligência artificial caminham juntas

A distribuição de uma renda básica universal de U$ 22 mensais a todos os adultos em 124 vilas rurais do Quênia promete revolucionar o país

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Por Monica Dallari, em série especial sobre o Quênia*

Revolução Industrial

Na era da inteligência artificial, os debates e experiências da Renda Básica Universal e Incondicional ganham cada vez mais espaço. Até 2021, 7 milhões de vagas de emprego serão extintas, 45% das atividades remuneradas estarão automatizadas e 37% das funções no mercado de trabalho irão desaparecer. Vivemos a 4ª Revolução Industrial. Numa velocidade rápida, com enorme alcance, os robôs substituem pessoas em atividades rotineiras, com grande impacto no mercado de trabalho. Com a falta de emprego, a Renda Básica é apontada por pessoas como o ex-presidente Barack Obama, o dono do Facebook, Mark Zuckberg, e o Nobel da Paz Muhammad Yunus como um instrumento fundamental para garantir a todas as pessoas uma vida digna, independente de trabalho, sexo, cor, idade, ou condição econômica.

A Renda Básica Incondicional

A Renda Básica Universal (RBU) é o direito de todas as pessoas participarem da riqueza produzida pela nação. É incondicional, todos recebem o mesmo valor e têm o direito de usar como quiser. A renda será suficiente para atender as necessidades básicas. Além de simplificar o sistema de seguridade social, elimina a burocracia e o estigma de ter que se comprovar ser pobre ou desempregado para ter direito a qualquer benefício.

 

A RBU garante dignidade e liberdade. Hoje, 700 milhões de pessoas em todo o mundo vivem na extrema pobreza. A RBU é discutida em mais de 41 países, com experiências exitosas na Índia, Canadá, França, Espanha, Namíbia e Quênia, entre outros. Em 1982, o Alasca (EUA) adotou a RBU, deixando de ser o mais desigual entre os 50 Estados norte-americanos, para se tornar o mais igualitário.

Experiência no Quênia

A distribuição de uma renda básica universal e incondicional de U$ 22 mensais a todos os adultos em 124 vilas rurais do Quênia promete revolucionar o combate à extrema pobreza na África. Com um sistema simples, utilizando-se de telefone celular, a experiência pioneira conduzida pela Give Directly, ONG financiada por empresários do Vale do Silício, transfere os recursos diretamente para os beneficiários. Após 27 meses, o projeto inovador, com duração prevista de 12 anos, além de romper a barreira quase intransponível da corrupção, eliminando intermediários, gerou melhoras consideráveis na qualidade de vida das pessoas beneficiadas. Permitiu que crianças voltassem a estudar; que dormissem sem fome; e que se reduzisse a violência doméstica.  

Vista de Nairobi, capital do Quênia. Foto: Ninara/Flickr

África Subsaariana

A África Subsaariana, com 48 Estados, fica ao sul do Deserto do Saara. Suas fronteiras resultaram da colonização dos países africanos decidida em 1885, na Conferência de Berlin. Para ampliar os mercados consumidores, as principais potências europeias dividiram a África, usando apenas critérios geográficos, como longitude e rios, ignorando as divisões étnicas, culturais e religiosas. O neocolonialismo produziu economias dependentes e monocultoras, voltadas aos interesses externos, ignorando as necessidades internas. A maioria dos países é subdesenvolvida, com sérios problemas estruturais. Crescemos vendo imagens de miséria na África. Isso começa a mudar.

Corrupção

O relatório Global Financial Integrity estima que a África perde U$ 70 bilhões anuais em Fluxos Financeiros Ilícitos, dinheiro que sai ilegalmente do continente. The international community has already recognized IFFs as a major impediment to development, incorporating reduction of IFFs into the Financing for Development Conference’s  and the United Nations’ . O Quênia é um dos países mais corruptos do mundo. Segundo o Ranking da Transparency International de 2017, entre 180 países, começando pelos menos corruptos, o Quênia está em 143º lugar. Até 2011, as doações não tinham como chegar aos interessados sem passar por vários intermediários. Recursos obtidos no exterior eram transferidos para organizações locais sem fins lucrativos, que atuavam conforme seus interesses, com estruturas custosas, muitas vezes sem evidências dos reais impactos das benfeitorias.

Aumento da pobreza

Entre 1990 e 2018, a população da África duplicou, passando de 598 milhões de habitantes para 1,2 bilhão. No início de 1990, um terço da população mundial vivia na extrema pobreza, com menos de U$ 1,9 diário. Em 2015, os indicadores melhoraram, entretanto disparou o número de pessoas pobres, que recebem mais de U$ 1,9, mas menos de U$ 3,2 por dia, nos países subdesenvolvidos, ou até U$ 5,5, nos países desenvolvidos. Segundo o Banco Mundial, 3,4 bilhões de pessoas no mundo vivem na pobreza. A meta é reduzir a pobreza extrema no Planeta Terra para menos de 3% até 2030. Se a África mantiver o ritmo dos últimos 10 anos, nove em cada 10 pessoas pobres estarão no continente. 

Foto: Ninara/Flickr

No próximo artigo, vou explicar como é o trabalho desenvolvido pela ONG Give Directly e como o uso do telefone celular pela Safaricom no Quênia está incluindo e transformando a vida das pessoas.   

Foto destacada: escola no Quênia. Xiaojun Deng/Flickr

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