Opinião

Reflexões sobre o G20 e o complô militar golpista e assassino

A nação quer ver todos esses criminosos e terroristas devidamente punidos, a começar pelo genocida-mor e sua família de delinquentes comuns

Reflexões sobre o G20 e o complô militar golpista e assassino
Reflexões sobre o G20 e o complô militar golpista e assassino
O general de brigada Mário Fernandes, aliado de Jair Bolsonaro, é o principal alvo da operação da PF contra militares golpistas. Na foto, de 2019, o então presidente é recebido pelo general no Comando de Operações Especiais ('kids pretos'), onde ocupava a chefia. Foto: Isac Nóbrega/PR
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“Felicidade se ganha em horinhas de descuido”
Guimarães Rosa

O Natal se aproxima e tudo fica mais bonito: cidades ornamentadas, restaurantes e lojas em geral.
No Brasil, tivemos a reunião de Cúpula do G 20, no Rio de Janeiro.

A Cidade Maravilhosa ficou ainda mais bonita, com tantos visitantes, inclusive os ilustres.
No documento final, aprovou-se a Ação Global Contra a Fome.

Permito-me, a propósito, algumas reflexões: 1) que tal cruzarmos o número de empobrecidos com o de famintos? Coincidem? A fome não resulta da falta de acesso, antes que da produção, que é fartamente abundante para alimentar toda a população mundial?; 2) caso esses números coincidam, não caberia lutar contra o empobrecimento e suas causas?; 3) o empobrecimento, por sua vez, não estaria ligado à falta de acesso aos meios de produção, como terra, água etc?; não caberia cruzar os dados da fome com os dos despossuídos, inclusive os deslocados por guerras, conflitos internos e catástrofes socioambientais?

São apenas reflexões, para não enxugarmos mais gelo do que temos feito, como comunidade internacional, sem quase nada resolvermos em termos de diminuição do número de pessoas em situação de insegurança alimentar em todo o mundo, que beiram os 900 milhões.

Aqui no Brasil, por outro lado, vemos uma rede de supermercados gaúcha pretendendo construir um mastodonte que irá prejudicar todo um bairro da capital gaúcha, cabendo perguntar quais foram as margens de lucro dessa empresa na venda de alimentos, que lhe permitiram amealhar tal capital bilionário? Não bem simboliza essa construção a oligopolização da venda de alimentos no país? Como romper essa distorção do livre e justo mercado, que o torna cativo da concentração de renda em benefício dos mais ricos e em prejuízo dos mais empobrecidos?

Por outro lado, que presente o Brasil deu a seus pares, fazendo a reunião do G20 no Rio de Janeiro!
A beleza da cidade é inspiradora e, desde sempre, para os indígenas, inclusive da Amazônia, foi considerada lugar sagrado, tal a energia que emana.

Fora do recinto das reuniões, a vida pulsava em forma de música e dança, carnaval e política. Uma combinação que só o Rio de Janeiro sabe fazer.

Em O corpo encantado das ruas (Editora Civilização Brasileira), Luiz Antonio Simas anota, com perfeição, essa síntese, em caso ocorrido no período imperial:

“As ruas do Rio de Janeiro garantiram o sustento de Sabina, uma quitandeira que trabalhava na cidade em 1989, ano em que a Monarquia foi derrubada. Pouco antes da queda de d. Pedro II, mais precisamente em julho, os estudantes de medicina, republicanos até os ossos e principais clientes das laranjas que Sabina vendia, alvejaram com as frutas do tabuleiro da vendedora a carruagem do visconde de Ouro Preto, figurão do Império, que cruzou à frente da escola.

Na manhã seguinte, o subdelegado da região chegou com uns policiais brucutus e expulsou Sabina do ponto, além de apreender seu tabuleiro e levar as laranjas sabem os deuses para onde. Os clientes de Sabina resolveram armar um protesto contra a arbitrariedade. Percorreram o Centro da cidade com laranjas espetadas em bengalas e receberam boa adesão da população. A marcha era precedida por um estandarte com uma coroa feita com bananas e leguminosas e uma faixa em homenagem ao homem da lei: ao exterminador das laranjas.

Em pouco tempo, as ruas do Centro estavam tomadas por uma passeata repleta de laranjas. Fez-se um carnaval fora de época nas esquinas cariocas. Os manifestantes saíram do largo da Misericórdia, percorreram a Primeiro de Março e, ao entrarem na rua do Ouvidor, saudaram as redações dos principais jornais e receberam mais adesões e vivas entusiasmados. Diante da reação popular causada pela expulsão da quitandeira, o subdelegado pediu demissão e a chefatura de polícia admitiu que a quitanda de rua voltasse a funcionar no mesmo local.”

Em meio a uma cidade tão cidadã, cosmopolita, plena de turistas, a verdade emergiu contemporaneamente: em Brasília, em dezembro de 2022, tramara-se um golpe de Estado, mediante o qual seriam assassinados o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes.

Dessa forma, o genocida e a camarilha militar pretendiam se perpetuar no poder. Um crime abjeto e da maior gravidade.

A única esperança é que todos os envolvidos sejam indiciados, julgados e condenados o quanto antes, para que não se repita no Brasil o que ocorreu nos Estados Unidos, em que um criminoso foi eleito, porque a justiça não o condenou a tempo.

Ao lado disso, caberá reformar as Forças Armadas, instituição que despende 85% de seu orçamento com pessoal, alocando a cifra astronômica de 20 bilhões de reais para pensionistas, inclusive filhas solteiras de militares…

Pior, querer acreditar no lero-lero do ministro da Defesa de que a conspiração foi caso isolado é um escárnio, depois dos inúmeros golpes de estado que essas instituições deram ao longo da história e como mantiveram as turbas de terroristas nas portas do quartéis em 2022, que se refestelaram com churrasco, banheiros químicos e cobertura dos que deviam zelar pela ordem e pelo progresso.

A nação quer ver todos esses criminosos e terroristas devidamente punidos, a começar pelo genocida-mor e sua família de delinquentes comuns. Sem isso, não poderá haver democracia neste país e toda a nossa região estará em risco.

Devemos isso aos brasileiros e brasileiras, mas também a todos os latino-americanos, caribenhos e caribenhas, nossos amados vizinhos.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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