

Opinião
Reflexões sobre a carta do embaixador André do Lago e o papel do setor financeiro na transição
A realização da COP30 será uma oportunidade única para os setores empresarial e financeiro demonstrarem seu compromisso com modelos de negócios sustentáveis


A carta do embaixador André do Lago traz mensagens essenciais sobre a urgência da crise climática e a necessidade de uma resposta coletiva. Como ele bem destaca, a mudança climática é um desafio global, e cabe a todos nós – governos, sociedade civil e setor privado – atuar de forma coordenada para garantir um futuro mais sustentável.
Para que essa transformação ocorra, é essencial que a transcendência da mentalidade não seja apenas um conceito, mas uma prática. O momento decisivo que vivemos exige a mobilização de todos os atores econômicos, e o setor financeiro desempenha um papel central nesse processo. A alocação de recursos para projetos sustentáveis e a integração de critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) nas decisões de investimento são fundamentais para acelerar a transição para uma economia de baixo carbono.
No Brasil, a realização da COP30 em Belém, no coração da Amazônia, será uma oportunidade única para os setores empresarial e financeiro demonstrarem seu compromisso com modelos de negócios sustentáveis. De agora em diante, a adaptação climática precisa estar no centro das estratégias de financiamento, permitindo que recursos cheguem a projetos que combinam soluções baseadas na natureza, economia circular e transição energética.
O Global Financial Stability Report, do Fundo Monetário Internacional (FMI), aponta que os ativos sustentáveis ultrapassaram 35 trilhões de dólares globalmente, representando 36% dos ativos sob gestão. No Brasil, os títulos verdes e sustentáveis emitidos já somam mais de US$ 10 bilhões, segundo dados da Climate Bonds Initiative (2023), demonstrando um crescente interesse por investimentos alinhados às metas climáticas.
Para que esses fluxos financeiros se ampliem, é essencial criar instrumentos financeiros inovadores, como fundos de investimento climáticos, mecanismos de precificação de carbono e garantias para financiar projetos de impacto. Além disso, é necessário fortalecer a regulação e a transparência do mercado financeiro para garantir que esses recursos sejam efetivamente direcionados a iniciativas que promovam a descarbonização e a resiliência climática.
Em diálogo com o que propõe o Embaixador André Lago, emerge o reforço de convite e apelo ao setor financeiro: participem ativamente dessa jornada. Abram caminho para os instrumentos financeiros pró adaptação climática e de transição. Assim, podemos ter um destino mais justo e sustentável.
A análise da transição climática vem se tornando uma ferramenta essencial para o setor financeiro na identificação de riscos e oportunidades. Aprofundar esse entendimento permite que investidores e instituições financeiras desenvolvam estratégias mais robustas para alocar capital de maneira eficaz e sustentável. Iniciativas que fomentam esse tipo de análise, como as promovidas por redes de financiamento climático, ajudam a consolidar práticas de due diligence climática e impulsionar investimentos que estejam alinhados com a economia verde e resiliente.
Considerando o cenário atual, organizações especializadas têm contribuído para essa agenda, conectando investidores, empresas e formuladores de políticas. Iniciativas que destacam a importância de finanças sustentáveis têm desempenhado um papel essencial nesse ecossistema, impulsionando a criação de novos mecanismos financeiros e promovendo boas práticas no mercado.
Para a realização da transformação aguardada, modelos colaborativos entre empresas, instituições financeiras e governos precisam ser formados. Entende-se que o capital intelectual coletivo pode acelerar soluções sustentáveis e elevar impacto positivo para a ponta, garantindo que a transição climática seja também uma oportunidade de renascimento econômico e social.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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