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Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

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Quem será o próximo?

Dorival Júnior, embora tivesse credenciais sólidas para comandar a Seleção, não resistiu à pressão

Quem será o próximo?
Quem será o próximo?
Dorival Júnior, ex-técnico da seleção brasileira. Foto: Mauro Pimentel/AFP
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O Campeonato Brasileiro começou com um empate sem gols entre os dois últimos campeões da competição, o Botafogo e o Palmeiras.

Trata-se de um resultado que, dificilmente, agradaria ao público. Ainda assim, o clássico do domingo 30 de março prendeu a atenção dos torcedores até o último minuto.

Mas, como o gol é o grande objetivo de qualquer partida de futebol, um empate sem gols acaba, na maioria das vezes, sendo decepcionante.

Apesar disso, o jogo foi marcado por um momento de renovação para ambos os clubes.

Cada um fez negócios que julgou necessários, ganhando novas modelagens, mas sem alterar sua filosofia de jogo.

Esse foi o primeiro confronto da nova edição do Campeonato Brasileiro, o que trouxe uma boa dose de esperança para os torcedores de Palmeiras e Botafogo que, mesmo sabendo da longa e imprevisível trajetória da competição, acreditam que suas equipes podem lutar por mais um título.

A partida foi disputada com grande empenho. Ambos os times apresentaram características de equipes bem organizadas, com forte compromisso tático.

Os jogadores do Botafogo elogiaram a capacidade de motivação do novo técnico, o português Renato Paiva.

Já Abel Ferreira, técnico alviverde paulista, parecia irritado desde o apito inicial.

Embora os goleiros de ambos os times tenham sido grandes protagonistas, com atuações extraordinárias, o árbitro também se destacou.

Ramon Abatti Abel teve, a meu ver, um desempenho impecável em um jogo difícil de ser controlado.

Um gesto raro de solidariedade também marcou a partida: o atacante Vitor Roque, do Palmeiras, não hesitou em se aproximar do goleiro adversário, John, para amarrar a chuteira do colega.

Em um esporte tão competitivo, esse tipo de atitude demonstra que, por mais que as disputas sejam intensas, ainda há espaço para o respeito entre os jogadores.

O Brasileirão de 2025 promete ser um dos mais acirrados dos últimos tempos, mas, como sempre, o torneio acontece em meio a uma série de outras competições: os Estaduais, a Copa Sul-Americana, a Libertadores, as competições regionais e até o futebol europeu, que cada vez mais influencia os times brasileiros.

Isso cria uma atmosfera “misturada”, onde a instabilidade se torna parte do cotidiano das equipes e de seus técnicos.

No cenário nordestino, Fortaleza e Cea­rá têm demonstrado trabalho consistente e uma boa estrutura há algum tempo.

O Ceará, conhecido como “vovô”, tem se destacado cada vez mais, enquanto o Fortaleza, apesar de ter perdido o Campeonato Estadual, não deve se abalar com sua recente derrota por 3 X 0 contra o Racing, da Argentina, em casa.

O técnico Vojvoda segue firme, com um saldo positivo que garante confiança para a sequência da temporada.

A Seleção Brasileira, por sua vez, é mais um exemplo da instabilidade no futebol nacional.

Após a derrota para a Argentina, seguida de pressão por parte da torcida e da mídia, o treinador foi demitido.

Essas constantes mudanças, além de prejudicar a equipe, afastam a possibilidade de construção de uma seleção coesa e segura.

A falta de firmeza nas decisões compromete ainda mais o planejamento de médio e longo prazo.

Embora o futebol brasileiro tenha, no passado, sido capaz de realizar projetos de longo alcance, hoje em dia, com a escassez de tempo para treinos e amistosos, é difícil pensar em um trabalho consistente.

Dorival Júnior, embora tivesse credenciais sólidas para comandar a Seleção, não resistiu à pressão.

Nem mesmo a reeleição na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) conseguiu garantir a isenção necessária para sustentar sua permanência.

Agora, o que se segue é uma especulação insana sobre o futuro técnico da Seleção, com os mesmos nomes de sempre sendo mencionados, em especial os estrangeiros, como se fosse uma escolha natural.

Infelizmente, isso deixa de lado nomes como Roger Machado, entre outros, que têm demonstrado capacidade e, sobretudo, equilíbrio, qualidades que podem transmitir a confiança necessária aos convocados. •

Publicado na edição n° 1356 de CartaCapital, em 09 de abril de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Quem será o próximo?’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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