Opinião

Procura sustentável

Quem se preocupa pela preservação ambiental brasileira em 2020

Fonte: Vinícius Mendonça/Ibama via Fotos Públicas
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Há cerca de quarenta anos temos sido o quê?

Ecochatos, ambientalistas xiitas, voluntários e pesquisadores de Organizações não Governamentais (ONGs) pagos por multinacionais interessadas em afanar nossa biodiversidade à proveito de inovações que lhes trarão – e a seus governos – lucros incessantes, xeretas da paz em que preferem viver populações indígenas e quilombolas.

Querem mais? Paro. Mas, aposto e pago, que leitoras e leitores conhecem muitos outros rótulos dados a quem se preocupou com a preservação ambiental no País. Tenham sido as indignações mais combativas, através de ações diretas, ou não, por escritos e posições políticas à esquerda.

Fizeram de nós bandos de bobos da corte, cada um em nossa infantil ingenuidade. Quantas vezes não ouvimos ou lemos: “Ah, agora que eles destruíram tudo lá no Hemisfério Norte, vêm cagar regra no Sul?”

Momento em que mesmo da soberania se lembravam. Voz forte, peito estufado: “Sabemos cuidar do que é nosso!”

Se os contrariávamos com dados estatísticos, pesquisas nacionais ou do exterior, assinávamos acordos internacionais, principalmente nos governos de Lula e Dilma, contratavam consultorias da Federação de Corporações, em vários de seus braços, e provavam, agora com voz e peito mais acadêmicos, “O Brasil é o país do mundo que mais preserva o meio ambiente”. 

Escudavam-se em nossas conquistas de produtividade agrícola poupadora de extensão de áreas usadas para lavouras e pecuária. Não é falácia, mas é um drible de Neymar Jr. O crescimento da produção agrícola que ocorreu no Brasil, a partir da década de 1970, foi sem dúvida mais resultado da produtividade, sobretudo dos grãos, do que dos hectares plantados.

Só poderia. Primeiro a base: partíamos de incipiência tecnológica vinda de ciclos monocultores e pouca percepção do que acontecia fora do cenário “Oh, meu Brasil”. O nacional-desenvolvimentismo da ditadura civil-militar – grandes quadros de economistas e diplomatas – atirou na substituição de importações e acertou na revolução verde e suas tecnologias. Demo-nos bem.

A pergunta que não quer calar, e responde aos heróis da motosserra, dos desmatamentos, das queimadas, da grilagem, da aniquilação de populações caboclas, campesinas, indígenas, mateiras, quilombolas, sertanejas, pobres, que somente os atrapalham quando não bem os servem em suas riquezas, digamos lá, meritocráticas?

Ora, ora, não pra cima de moi. Com a extensão territorial e as condições edafoclimáticas, referentes ao clima e solo que temos, absurdo seria deixar de usar tecnologias para a produtividade, em regiões com vocação de plantio para culturas específicas, mão-de-obra disposta à dura lida no campo – muitas vezes perto do escravismo -, só faltava sairmos por aí desmatando e incendiando matas (Atlântica) e florestas (Amazônia).

    

Só que não.

Fizemos e, hoje em dia, diante de um Regente Insano Primeiro (RIP) inepto, ministro do Meio Ambiente urbanoide-almofadinha, de vestuário alinhado, Ricardo Salles, e o pior ministro das Relações Exteriores, que o Itamaraty jamais produziu, diplomata (?) Ernesto Araújo, destroem os poucos argumentos contestatórios que tínhamos para nos defender da destruição ambiental que promovemos.

E o que conseguimos com a trinca acima? O dinheiro se movimentando contra eles.

Com muita preguiça vou às folhas e telas cotidianas: 1) Bancos e empresas exportadoras, para não se prejudicarem, pedem afagos de racionalidade do general vice-presidente, Hamilton Mourão; 2) A revista “Valor Setorial” (julho, 2020) traz como capa “Dupla Ameaça” – pandemia (nem mesmo está sendo) e a outra está descrita acima, com menos pudor); 3) O professor Antônio Delfim Netto, em CartaCapital, 29/07, “Basta a verdade, o governo Bolsonaro tem ojeriza aos fatos e prejudica o agronegócio”. 

Do geral das folhas e telas cotidianas. Em 24/07, Bolsonaro declarou haver ‘campanha maldosa’ contra Amazônia. Vejamos:

– “A tendência é a busca por iniciativas sustentáveis, que gerem lucros e priorizem também a preservação” (David Feffer, presidente da Suzano, Valor, 24/07);

– “A Agenda é socioambiental”, (Especial Valor, 23/07);

– “Negar o desmatamento é contra o interesse nacional”, (Editorial Valor, 20/07);

– “Terras devolutas deveriam ser destinadas para fins de conservação”, (Ronaldo Motta, Valor, 21/07);

– “Críticas ambientais levam setor produtivo a cobrar governo”, (Fernando Lopes et alia, Valor, 21/07).  

Inté! Se não mudar de ideia, volto ao mesmo assunto.

Nota: Em dois de abril de 2018, escrevi neste blog, “Porque Guilherme Boulos?” Não deu. Repeti em 20 de julho de 2020, “Tanta gente clama, tanta gente chama”, e declarei voto, nas eleições para a prefeitura de São Paulo, em Boulos e Erundina. Na última edição impressa de CartaCapital, ao entrevistar Guilherme Boulos, os botões de Mino Carta confirmam Boulos como “Nosso Candidato”. Entenderam o porquê de meus retroses aqui relatar minhas parvas letras?

Novo inté! 

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