Opinião

Presença de Bolsonaro na Presidência ofende qualquer parâmetro de civilidade

O desaforo e o desmonte cometidos pelo presidente da República são duas faces da mesma moeda

Presença de Bolsonaro na Presidência ofende qualquer parâmetro de civilidade
Presença de Bolsonaro na Presidência ofende qualquer parâmetro de civilidade
O presidente Jair Bolsonaro (Foto: Carolina Antunes / PR)
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A ofensa inominável do presidente Bolsonaro à repórter Patricia Campos Mello chocou o país e provocou uma enxurrada de notas de protesto, inclusive de entidades que até então não haviam se posicionado frente ao reiterado comportamento agressivo do mandatário. Patricia, vale lembrar, é considerada uma das melhores repórteres do jornalismo brasileiro, experiente em coberturas internacionais e que, durante as eleições de 2018, denunciou a gigantesca indústria de fake news transmitida através de redes ilegais operadas por apoiadores do então candidato Bolsonaro. Denúncias essas que, numa situação democrática normal, levariam à anulação das eleições. Mas mesmo que fosse uma jornalista iniciante ou uma pessoa de qualquer outra atividade, a agressão seria igualmente condenável.

No entanto, é de se perguntar: a postura de Bolsonaro causa alguma estranheza? Não. Seu comportamento é coerente com tudo o que fez na vida pública. Aliás, esse comportamento é tudo o que fez na vida pública até vencer as eleições da forma como venceu. Sua longa e opaca atuação parlamentar resume-se a isso. À defesa de torturadores, ao endeusamento de ditadores e, especialmente, a ofender seus adversários, com atenção especial às mulheres. Sim, o valentão, como se apresenta publicamente, prefere insultar as mulheres com argumentos relacionados ao machismo mais rasteiro. Os casos são fartamente conhecidos.

 

Bolsonaro não é um pavio curto ou um destemperado, como alguns sustentam buscando uma tênue defesa dos gestos abomináveis que comete. Ao imaginar que está fazendo uma piada contra a repórter Patricia, está revelando a sua essência: um ser grosseiro, incapaz de lidar com questões básicas da convivência humana como tolerância e respeito. Um indivíduo que não tem noção do que significa a dimensão do cargo que ocupa, nem demonstra interesse em saber. Não entende os requisitos éticos e morais exigidos para ocupar um cargo como o que ocupa e não está preocupado com isso. Sua preocupação é agradar seu grande herói Donald Trump, apesar do desprezo que este dedica ao Brasil nas relações bilaterais. Sua missão é manter o processo de desmonte do país operado por seu “posto Ipiranga” Paulo Guedes e, mais do que tudo, proteger sua prole, criada a sua imagem e semelhança e envolvida em escândalos de corrupção e vinculações com as milícias.

A presença de Bolsonaro da Presidência ofende qualquer parâmetro de civilidade e desmoraliza a mais simplória noção de convivência republicana. Chegará o dia em que seus apoiadores perceberão a nocividade de termos no mais alto cargo da República um indivíduo com estas características. Enquanto isso, estaremos denunciando não apenas sua postura indigna, mas o projeto que ele representa de entrega do patrimônio nacional, de perseguição à pesquisa, ao conhecimento e à cultura, e, principalmente, às ações nefastas contra os brasileiros mais pobres.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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