Luana Tolentino

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Mestra em Educação pela UFOP. Atuou como professora de História em escolas públicas da periferia de Belo Horizonte e da região metropolitana. É autora dos livros 'Outra educação é possível: feminismo, antirracismo e inclusão em sala de aula' (Mazza Edições) e 'Sobrevivendo ao racismo: memórias, cartas e o cotidiano da discriminação no Brasil' (Papirus 7 Mares).

Opinião

Prêmio Educar para a Equidade Racial e de Gênero mostra que outra educação é possível

Ao honrar a nossa tradição quilombola, a premiação se coloca como um espaço de enfrentamento ao racismo, aos cortes de verbas e às perseguições sofridas pelos professores

Foto: Ceert (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades)
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Às vezes, como diz a música do Chico Buarque, precisamos que a primavera nos mande “novamente algum cheirinho de alecrim” para mantermos a esperança e a sanidade. Isso ocorreu na noite de quarta-feira, 19/10, em São Paulo, com a divulgação dos 16 projetos pedagógicos vencedores da 8.ª edição do Prêmio Educar para a Equidade Racial e de Gênero, promovido pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades – CEERT.

Realizada no SESC Vila Mariana, a premiação contou com a presença de educadores de diversas partes do país, além de expoentes da luta antirracista, como Cida Bento, Petronilha Gonçalves e Silva, Patrícia Santana, Kabengele Munanga e tantas outras referências que têm sido primordiais para o enfrentamento e superação do racismo nos espaços escolares.

A atual edição recebeu mais de 700 inscrições. Mesmo com os avanços, que são inegáveis, os dados e estatísticas relativos às desigualdades educacionais ainda apontam para o fato de que o racismo produzido e reproduzido no interior das escolas tem criado verdadeiros abismos, fazendo com que as instituições de ensino, em grande medida, sejam espaços de exclusão, violência e negação de direitos para crianças, jovens e adultos negros. Ao reconhecer, destacar e fortalecer iniciativas empenhadas na promoção da equidade racial, o CEERT oferece uma contribuição inenarrável para a transformação da educação no país.

Pude acompanhar a celebração quase que em tempo real. Josiane Santanna, amiga querida e coordenadora pedagógica da Escola Municipal Monsenhor Scarzello, de Joinville/SC, inundou o meu WhatsApp com fotos e notícias do evento. Com o projeto “O seu olhar melhora o meu”, a escola em que Josi trabalha foi uma das finalistas do prêmio.

Os professores Ilma Souza, Josiane Santanna (citada no texto), Kabengele Munanga e a Maria Fabiane. Foto: Arquivo pessoal

Em um áudio emocionado, ela contou: “Na hora que o professor Kabengele Munanga entrou na sala, tu não tens noção. Parecia que meu chão se abriu e eu estava flutuando. Eu comecei a tremer, fiquei com vontade de chorar quando eu o vi. Que ser mais iluminado do mundo! Eu beijei, eu o abracei, tirei fotos. É surreal o que nós estamos vivendo aqui, com tanta gente preta, potente, que o Brasil não vê, mas está aqui construindo História, Cultura, Ciência, conhecimento. A gente está aqui se aquilombando”.

Honrando a nossa tradição quilombola, o Prêmio Educar para a Equidade Racial e de Gênero se coloca como um espaço de enfrentamento não só ao racismo, mas também aos cortes de verbas, às perseguições sofridas pelos professores que diariamente empreendem práticas que buscam a efetivação de uma educação antirracista e democrática, comprometida com o reconhecimento e valorização da diversidade étnico-racial existente no Brasil.

Apesar do cenário ameaçador que nos tira o sono e amedronta, a 8.ª edição do Prêmio Educar para a Equidade Racial e de Gênero não deixa dúvidas: outra educação é possível.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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