Alberto Villas
[email protected]Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'
Hoje em dia, a gente não precisa mais nem mesmo fazer aquele movimento com os dedos pra dar corda no relógio. Mas ainda falta inventar muita coisa pra nos poupar de esforço
Fomos ficando preguiçosos à medida que o mundo se modernizava. Desde que não precisávamos mais levantar a bunda do sofá pra mudar o canal da TV. O controle-remoto deu uma preguiça danada na gente.
Fomos ficando preguiçosos desde que não precisávamos mais rodar a manivela pra abrir o vidro do carro. A invenção do vidro elétrico foi um achado.
Não mais precisar esfregar o taco com palha de aço, depois encerar e, em seguida, passar a enceradeira, foi um alívio, um descanso.
Ninguém mais quer lavar o carro depois que inventaram o lava-jato. Nada mais prático e preguiçoso do que ver o carro sendo lavado e você lá dentro dele, conferindo o Instagram.
E o celular? O celular acabou com aquele exercício de sair correndo pra atender o telefone, que hoje chamam de fixo.
E a escada rolante? Acabou aquela história de ficar subindo degrau por degrau. Tem gente tão preguiçosa que quando a energia acaba e ela está no meio da escada rolante, fica esperando voltar.
O aspirador de pó acabou com aquela história de ficar fazendo esforço pra varrer a casa, não é mesmo?
E a maquina de lavar roupa? Lembra que a gente ficava dando um duro danado no tanque esfregando a roupa, depois pondo pra quarar e depois secar?
Passar a roupa, ninguém passa mais, a não ser nas lavanderias. Aquele exercício pra lá e pra cá com os braços, é coisa do passado.
A carne moída na prateleira do supermercado, nos poupou de ficar fazendo aquele esforço danado de ficar moendo carne naquelas engenhocas dinossauricas.
O frango em pedaços também facilitou muito nossa vida. Ninguém precisa mais pegar uma faca afiada e ficar esquartejando o danado.
Bife já cortado, a mesma coisa. Lembra do martelinho de bater carne? Quanto esforço!
Hoje em dia, a gente não precisa mais nem mesmo fazer aquele movimento com os dedos pra dar corda no relógio. Chegava a doer a mão.
Mas ainda falta inventar muita coisa pra nos poupar de esforço. Um aparelhinho pra passar as páginas do livro, por exemplo. Já pensou que maravilha?
A verdade é que precisamos levantar cedo e pagar uma fortuna de academia para fazer o esforço do cotidiano que deixamos pra trás.
Pensando bem, não precisamos mais caminhar até a academia porque inventaram o personal trainer que vem em casa, não é mesmo?
Bem faz o bicho-preguiça, que passa o dia inteiro na árvore comendo folhas de embaúba, ingazeira e figueira. O único trabalho é dar uma mastigadinha de tempos em tempos.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
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