Alberto Villas

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Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'

Opinião

Pra não dizer que não falei de BBB – e de Kleber Bambam

O mundo mudou, a televisão afinou, o Brasil piorou, aquela ideia de George Orwell evaporou. Mas o Big Brother Brasil continua

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A primeira e única imagem que guardo do Big Brother Brasil é a de Kleber Bambam chorando ao lado de uma boneca feita de sucata, que ele deu o nome de Maria Eugênia. Chorava como um menino e aquilo comoveu o Brasil, um Brasil que parou diante da televisão pra ver aquela novidade e dar um milhão a ele.

Big Brother Brasil, o BBB, surgiu como um fenômeno que saiu das páginas da obra-prima de George Orwell, escrita em 1948 e lançada em 1950. Tantos anos depois, a televisão roubou fragmentos do Grande Irmão e acabou conquistando corações e mentes. Somos todos vigiados.

A novidade era ver uma turma confinada numa casa, sem rádio e sem notícias das terras civilizadas, quase um experimento. Tudo que acontecia aqui fora e a gente imaginando aquele povo lá na casa, alheios a tudo.

Quando o primeiro BBB foi ao ar, o presidente da República era Fernando Henrique Cardoso, que enfrentava um apagão. A Europa havia trocado, da noite pro dia, suas moedas pela moeda única, o Euro. No Fórum de Davos, o presidente norte-americano George W. Bush subiu ao palco para dizer que o Irã, o Iraque e a Coreia do Norte formavam o eixo do mal.

Kleber Bambam no primeiro BBB (Foto: Reprodução)

No Rio, a Estação Mangueira vencia o carnaval e, em São Paulo, o caneco foi para Gaviões da Fiel. Enquanto isso, cem tanques, com o apoio de aviões e helicópteros, invadiam os campos de refugiados e algumas cidades palestinas, numa guerra sem fim, longe daqui, no fim do mundo.

Mas quando caía a noite, logo após subir os créditos do Clone, o BBB passava por cima disso tudo e o povo não desgrudava os olhos do aparelho de televisão, ainda de tubo.

Kleber Bambam, aquele homenzarrão forte, um grandalhão meio desajeitado, parecia uma criança que chora quando o pai toma o pirulito porque não pode comer doce pouco antes da hora do almoço. Nada de chupar pirulito na hora de comer brócolis, arroz e feijão.

O Brasil assistia ao BBB e só se falava nisso no dia seguinte nos escritórios, nos bares, nas redações, nas esquinas, nas alcovas. Ninguém queria ficar por fora do que se passava naquela casa, a mais vigiada do país. Havia uma curiosidade pelas fofocas, a câmara indiscreta na hora do banho, as trapalhadas na cozinha, as festas regadas a álcool, as sungas, os biquínis, as brigas na piscina, o confessionário, as provas do líder, o paredão, as eliminações.

Por incrível que pareça, todo verão tem BBB no país tropical. O mundo mudou, a televisão afinou, o Brasil piorou, aquela ideia de George Orwell evaporou e alguém me disse que, este ano, o programa voltou a bombar.

Estão discutindo machismo, feminismo, homofobia, sexismo, misoginia, me disseram outro dia. Tinha Bambam e hoje tem Bumbo, o que me soa nome de teatro de revista na Galeria Alasca. Sorry, quem assiste, quem gosta, quem torce. Mas eu prefiro discutir esses assuntos com outros personagens, em outros lugares, outras quebradas, com meus amigos e meus inimigos.

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