Justiça

Por uma ampla frente antifascista, antes que seja tarde

É hora, sim, de consciência e unidade entre todas e todos que se opõem ao projeto neofascista representado por Bolsonaro e seus apoiadores.

Visão aérea do cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus, capital do Amazonas. Foto: Michael Dantas/AFP
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O cenário é de horror. Com mais de 22 mil mortes pela Covid-19, 350 mil contaminados, perto de mil vidas a menos a cada 24 horas, com o sistema hospitalar em vias do colapso, filas de famintos pelo auxílio emergencial, projeção de retrocesso econômico entre 5% e os 7,5% do PIB – que se traduz em desemprego, aprofundamento da miséria –, o país vive um capítulo macabro de sua História. E nesse tablado transcorre a crise político-institucional mais séria das última três décadas.

A reunião ministerial de 22 de abril, vista por quem quis graças à liberação do vídeo pelo STF, mostrou o desprezo profundo dos mais altos governantes pela vida dos brasileiros. Na síntese brilhante de José Simão, “os 37 palavrões foram o menos indecente” de um “Conselho de Ministros” preocupado mais em se defender de inimigos reais e imaginários do que em debater políticas públicas para impedir o genocídio e a fome generalizada.

Tão sério quanto a insensibilidade cínica de todos os homens do presidente, o vídeo confirmou a obsessão de Bolsonaro e seus asseclas em manter acesa a fogueira do enfrentamento com as instituições do sistema político que têm prerrogativa legal para lhe impor limites (em particular o Judiciário, uma vez que já avançou na solução do conflito com o Congresso comprando o “Centrão”), sua sanha por controlar toda e qualquer força repressiva-investigativa, no interesse dele e de sua família, enfim sua determinação em impor seu projeto autoritário, neofascista, a serviço do ultraliberalismo em crise pandêmica pelo mundo afora.

Foto: Marcos Correa/PR

Se o conflito do governo militarizado com o STF já demonstrava os perigos que correm as liberdades democráticas no Brasil, a crise institucional tomou no fim de semana contornos ainda mais graves, ao se tornar também uma crise política com participação das Forças Armadas. Um grupo de dezenas de colegas de formatura do ministro-general (da reserva) Augusto Heleno, publicou uma carta de defesa do ministro, cheia de insultos aos ocupantes do Supremo, avalizando a ameaça feita por Heleno na sexta-feira – de que a requisição do celular de Bolsonaro num processo do STF poderia ter “consequências imprevisíveis para a estabilidade institucional”.

O caso dos oficiais de pijama poderia ser menos grave não soubéssemos o conjunto da oposição que o presidente e seu projeto contam com o entusiasmo de parcela expressiva da tropa, dos policiais militares e das milícias criminosas. Se não soubéssemos que parcela da burguesia tem articulado, se beneficiado e defendido as medidas desse governo. Se não houvesse um grupo de cerca de 300 pessoas acampadas ( inclusive algumas armadas), na Esplanada, e fazendo manifestações pelo fechamento do Congresso e STF todo domingo.

Soma-se a isso, todo o impacto nas mais diversas camadas da sociedade, da  máquina de fake news do governo e do papel nefasto de mercadores da fé aliados à agenda autoritária, patriarcal, racista, homofóbica e individualista do núcleo governamental.

Não é hora, portanto, de distrações, apatia e inação, nem de divisão por conta de egos e protagonismos.

No mundo em transformação regressiva em que vivemos, haverá com certeza um antes e um depois da pandemia. O detalhe aterrorizante na situação brasileira é que se definem, nestes próximas semanas ou dias (em que boa parte da população consciente encontra-se em isolamento), também o destino das poucas liberdades civis e direitos sociais que nos restam. É preciso parar Bolsonaro!

É hora, sim, de consciência e unidade entre todas e todos que se opõem ao projeto neofascista representado por Bolsonaro e seus apoiadores. É a hora em que se provam os partidos, movimentos e lideranças que se dizem de esquerda, democráticos, ou somente de oposição ao fascismo governante: é momento de conformar uma forte e diversa frente antifascista – quanto mais ampla, mais diversa, mais forte.

Pra vencer o fascismo, não basta que essa articulação se una para ações parlamentares, judiciais, de mídia. É fundamental que uma série de inciativas de solidariedade que já estão sendo organizadas, sejam massificadas e incorporadas como uma forma de resistência política ao projeto genocida de Bolsonaro e, sobretudo, que continue reatando os laços que nos unem, a empatia e responsabilidade mútua na construção de uma sociedade mais justa.

É preciso começar imediatamente a pensar  em agir todos os que prezam as liberdades democráticas coletivas e as liberdades individuais duramente conquistadas nos últimos 35 anos. Não importa de que partido sejam, de que religião, time, origem, de que movimento sejam. É hora de ação unitária e contundente, em todas as esferas, para fazer frente a cada um dos ataques bolsonaristas às liberdades e instituições democráticas. É hora de demonstrar que o lado de cá, o Brasil solidário e democrático, existe, pensa, reage.

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