João Paulo Pacífico

CEO do Grupo Gaia, co-fundador da ONG Gaia+, conselheiro de organizações como Greenpeace Brasil, Instituto MOL, Instituto Capim Santo, dentre outras

Opinião

Por que precisamos das ONGs?

Quem evita criticar alguma atitude de ONG com medo de criminalizar o setor está, na verdade, enfraquecendo este setor

Foto: AFP
Apoie Siga-nos no

“ONG é tudo picareta… arrecadam dinheiro e não fazem nada…”

Certamente, você já ouviu alguém dizer isso. O próprio Bolsonaro usava essa estratégia – e, agora, criaram uma CPI sem qualquer motivo para enfraquecer as ONGs que atuam na Amazônia.

Por outro lado, várias pessoas me falam: “Quando você critica uma atitude de ONG, está prejudicando a imagem de todo o setor.”

Afirmo com toda certeza: ONGs são NECESSÁRIAS para o país. Tão necessárias e importantes que também temos que cobrá-las.

O que é uma ONG?

ONGs são Organizações da Sociedade Civil que não têm donos ou acionistas. Não distribuem dividendos e sempre devem ter uma função social.

Pra que serve uma ONG?

ONGs doam alimentos, roupas, moradia.

Cuidam de idosos, de pessoas em situação de rua, de animais, indígenas, do meio ambiente.

Pressionam empresas e governos.

Pesquisam e informam.

Atuam nas ausências do poder público e da iniciativa privada.

Por exemplo, recentemente, por conta da pressão de uma ONG, a Hyundai interrompeu temporariamente a venda de escavadeiras na Amazônia e rompeu o contrato com uma concessionária que vendia equipamentos para grileiros. A Hyundai era a maior fornecedora de equipamentos usados na derrubada de árvores.

Nem governos nem empresas teriam feito o que essa ONG fez. Pois vender escavadeiras na Amazônia não era uma atividade ilegal.

Já pensou também quantas mulheres deixaram de ser agredidas por causa da Lei Maria da Penha? Essa lei foi criada graças à atuação da sociedade civil organizada..

ONGs são organizações geridas por pessoas. E pessoas fazem coisas erradas ou questionáveis. Temos que cobrar, mas é um grande absurdo julgar todas as ONGs por conta de poucas.

Recentemente, a Folha de S. de Paulo mostrou que uma das maiores ONGs do país, a Gerando Falcões, recebeu 22 milhões de reais de doação emergencial para ajudar as vítimas das chuvas do Litoral Norte de São Paulo. Porém, além de ainda ter 6 milhões no caixa, alguns gastos foram questionados, como 2,1 milhões destinados ao pagamento de arquitetos, R$ 1 milhão em consultoria e 1,2 milhão para a própria ONG.

É super importante ONGs garantirem a própria sobrevivência financeira. Mas, neste caso, era uma ação emergencial, cujo foco era ajudar as mais de mil famílias desabrigadas – e a ONG não tinha problemas de caixa para se sustentar.

Esses gastos não são ilegais. Mas, na minha opinião, são imorais.

Quando fiz esta crítica, várias pessoas do setor me acusaram de contribuir com a criminalização de todas as ONGs. Oi?

Seria como afirmar que já que a Americanas fraudou balanço, todas as empresas também são fraudadoras.

Quem evita criticar alguma atitude de ONG com medo de criminalizar o setor está, na verdade, enfraquecendo o próprio setor.

Numa sociedade em que o individualismo, o negacionismo e o materialismo tem ganhado espaço na iniciativa privada e na pública, ONGs são absolutamente necessárias. Valorize e apoie o trabalho de ONGs sérias e bem intencionadas.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo