Opinião

Por que os adversários de Bolsonaro não criam uma aliança para enfrentá-lo?

‘Não é o que se dá neste exato instante, ao faltar menos de um mês para o pleito municipal’, aponta Mino Carta

Bolsonaro durante Cerimônia de Abertura da Primeira Linha de Luz Sirius. (Foto: Marcos Corrêa/PR) Bolsonaro durante Cerimônia de Abertura da Primeira Linha de Luz Sirius. (Foto: Marcos Corrêa/PR)
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Sei que, no Brasil, a ideologia frequentemente é o último refúgio dos canalhas. Dizem ser voltados aos interesses do povo brasileiro, afirmam até professar ideais esquerdistas, mas, a bem da sacrossanta verdade, cuidam mesmo das suas miúdas, imediatas conveniências.

Suponho impossível, portanto, que a ideologia possa determinar as posições políticas, os entendimentos, as alianças eventuais, às vésperas de eleições, como estas que nos esperam a curto prazo em inúmeros municípios, alguns muito importantes porque feridos nas capitais.

Poderia ser um ensaio para o pleito de 2022, pelo qual o ex-capitão Bolsonaro imagina poder trafegar com tranquilidade, de sorte a prosseguir incólume na Presidência da República. Está longe de ser um sonho impossível de Jair Bolsonaro. Existe, contudo, um sentimento compartilhado por várias personalidades políticas nativas, a convicção de que justo e salutar seria livrar o País de toda ameaça bolsonarista. Ou seja, Bolsonaro e o bolsonarismo são o inimigo público número 1.

Pergunto aos meus botões, sempre perplexos, para não dizer aturdidos: por que estes adversários do atual presidente da República e da sua doutrinação demente não criam uma aliança geral e irrestrita, para enfrentá-lo em um espaço de tempo destinado com folga a definir estratégias de combate? Não é o que se dá neste exato instante, ao faltar menos de um mês para o pleito municipal.

Um exemplo a ser estudado é o da Itália, onde, para evitar a escalada da direita hidrófoba, surgiu uma aliança de conveniência em torno de um primeiro-ministro teoricamente apartidário, entre o Partido Democrático, que abriga egressos do Partido Comunista e da esquerda democrata-cristã, e o Movimento 5 Estrelas, popularesco antes que popular, conforme as intenções do seu fundador, o ex-cômico Giuseppe Grillo. Foi possível assim formar no Parlamento uma aliança eficaz no controle da situação contra o populismo selvagem, francamente fascistoide, do ex-ministro Matteo Salvini, aliado natural de Marine Le Pen e de todas as tendências de extrema-direita, a medrarem em vários países europeus, a começar pelos delírios de Viktor Orbán na Hungria.

Este gênero de alianças, nem sempre precipitadas por afinidades ideológicas, ou mesmo raramente, consegue escantear o pior. Trata-se de um exemplo válido para uma resistência contra a praga que nos assola, bem mais que pandemia, o bolsonarismo. Se o andar da carruagem nos convencer de que ou Bolsonaro acaba com o Brasil, ou o Brasil, como nos tempos da saúva, antes do desastre, bem antes, tem de acabar com a saúva, digo Bolsonaro.

Não há como hesitar. Mas, conforme o hábito, atendendo a jogos paroquiais, quem haveria de mudar o rumo das coisas hesita.

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