Justiça

Por que Dória não fez mais pela vida em São Paulo?

Espera-se muito mais do governador do Estado mais rico do país

João Doria, governador do estado de São Paulo - Foto: Foto: Governo do Estado de São Paulo
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Bolsonaro disputa, metro a metro, com Trump o topo do ranking dos piores presidentes do mundo no combate ao coronavírus. Tem uma política de negar a gravidade da pandemia, desrespeita  regras básicas como o uso de máscara e a de evitar aglomerações. Derrubou dois ministros da Saúde e manteve na pasta um militar que tentou camuflar números. Inocula confusão numa população já angustiada com a redução de renda, de empregos e falta de condições de distanciamento social.

Assim, o Brasil vive uma dupla crise: a da Covid-19, que já matou quase 60 mil brasileiros, e a crise política, econômica, social,  ambiental e de segurança, causada pelo (des)governo Bolsonaro.

Diante dessa tragédia duplicada, Dória cumpriu, num primeiro momento, papel importante na oposição à política genocida do governo federal, colocando-se como o conservador que respeita a ciência, os conselhos de epidemiologistas e da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Entretanto, para além de insistir na continuidade das medidas de isolamento social até mês passado e dos atritos corretos com Bolsonaro, o que o governador fez para evitar de forma efetiva o avanço do novo coronavírus e as mortes em São Paulo – que  neste momento se movem para o interior do estado?

A principal dificuldade para enfrentar seriamente a pandemia é a falta de condições – para os mais pobres e vulneráveis, ou seja, a maioria da população – de ficar em casa em isolamento. Não por acaso, na capital e região metropolitana, as maiores taxas de letalidade (mortes) da Covid-19 são registradas em regiões de maior concentração de pobres e pessoas negras, em sua grande parte mulheres. Para os milhões que precisam trabalhar ou fazer um bico diante da queda na renda, para os que vivem em moradias minúsculas e superpovoadas, ficar em casa não é uma opção.

São Paulo tem aglomeração na Rua 25 de Março durante a pandemia. Foto: Nelson Almeida/AFP

Esperava-se do governador do estado mais rico do país, ações contundentes visando garantir um auxílio emergencial adicional, dado que o custo de vida no estado é mais alto que na média nacional (sendo a capital uma das mais caras do mundo); ajuda especial às mulheres em situação de risco social; medidas de isolamento que contemplassem as populações vulneráveis que vivem nas ruas, em territórios indígenas, e nas quebradas; e um plano estadual de emprego e renda para o pós-Covid. Em outras palavras, um olhar especial para a terrível desigualdade social, étnica, racial e de gênero do país e do estado.

Na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, a única medida que a maioria pró-Dória permitiu votar foi um “projetão” que reuniria propostas consensuais para a pandemia – o que exclui a maior parte dos projetos de lei elaboras pela oposição, em particular os que supõe mais gastos públicos e mexem nos interesses do empresariado.

 

Minha mandata apresentou vários projetos, como o que determina que a Rede Privada de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) seja gerenciada pelo Sistema Único de Saúde enquanto perdurar a crise sanitária provocada pela pandemia; o que estabelece a criação da renda básica emergencial paulista (para completar em um salário mínimo a renda básica emergencial federal); e o que cria um fundo emergencial para os trabalhadores da cultura, que estão sofrendo duramente as consequência das necessárias políticas de isolamento social.

Além disso, também apresentei uma proposta de redução de 30% do valor das mensalidades nas universidades privadas, sem que tais descontos sejam repassados para professores e funcionários. Outros mandatos também apresentaram boas propostas neste sentido.

Mas infelizmente, o governador  caminha na contramão da ideia de que o Estado e o governo têm o dever de ir às últimas consequência na defesa da vida de todos, de que as vidas são iguais, e de que é preciso proteger mais a quem tem menos – mesmo ultrapassando limites orçamentários. É certo que, além de Bolsonaro, teve que enfrentar o negacionismo e desprezo pela vida de muitos prefeitos do estado, que defenderam o fim do isolamento e a retomada de atividades econômicas antes mesmo do plano estadual, como Felicio Ramuth de São José dos Campos).

No entanto, começa a realizar agora a reabertura parcial do comércio e de serviços em várias regiões de São Paulo antes da hora. Por isso entrei com uma ação junto ao Ministério Público estadual com a intenção de suspender o plano de flexibilização. É o mínimo que podia fazer diante da temeridade que é tentar promover tal reabertura em pleno pico da pandemia.

Dória faz isso porque é um governo dos grandes banqueiros, dos industriais da Fiesp e magnatas do comércio e dos serviços – que pressionam por uma “volta à normalidade” para recuperar seus lucros, e, ao governar para seus pares do andar de cima, abandona à própria sorte a maior parte da população do estado.

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