Rafael Rodrigues da Costa

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É mestrando em Ciências Sociais pela Unifesp, pesquisador visitante do NEC/UFBA e pesquisador do Ineep.

Opinião

Petrobras tem o pior resultado trimestral da história. Entenda o que motivou o prejuízo de R$ 48,5 bi

Os resultados mostram que a empresa ainda não sofreu significativamente os impactos da recessão global ocasionada pela covid-19

Plataforma P 70 da Petrobras, na Baía de Guanabara (RJ) (Foto: André Motta de Souza / Agência Petrobras)
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A Petrobras divulgou na quinta-feira 14 os resultados operacionais e financeiros do primeiro trimestre de 2020. O prejuízo líquido foi de R$ 48,5 bilhões. O resultado é o oposto do obtido no mesmo período do ano passado, quando a empresa registrou lucro líquido de R$ 4,0 bilhões. É o pior resultado da história da petroleira.

Esse resultado negativo foi fruto da baixa contábil de R$ 65,3 bilhões (ou US$ 13,4 bilhões), decorrente do reconhecimento de perdas da recuperabilidade econômica de seus ativos (impairments). A Petrobras informou que essas perdas contábeis foram decorrentes (i) de um novo conjunto de premissas de planejamento (projeção dos preços do Brent, da taxa de câmbio, dentre outras variáveis, para os próximos quatro anos); e de hibernação de campos e plataformas em águas. Segundo a Petrobras, essas modificações foram decorrentes, sobretudo, da mudança na previsão dos preços do barril do petróleo de longo prazo – de US$ 65 para US$ 50 – para justificar a realização dos impairments nesse montante.

Desconsiderando os efeitos do impairment, os resultados operacionais e financeiros da Petrobras mostram que a empresa ainda não sofreu significativamente os impactos da recessão global ocasionada pela covid-19.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebtida ajustado) da empresa chegou a crescer 36%, contabilizando R$ 37,5 bilhões, enquanto a receita total de vendas registrou um aumento de 7%, encerrando o trimestre em R$ 75,5 bilhões, apesar da queda das vendas internas de 6,1% em comparação ao primeiro trimestre de 2019.

Um fato que compensou em grande medida a queda das vendas internas foi o crescimento das receitas de vendas com as exportações de óleo cru e derivados. Apenas nos três primeiros meses do ano, elas obtiveram uma súbita expansão de 70% em relação ao mesmo período do ano passado, que registrou ganhos da ordem de R$ 24,7 bilhões.

Esse crescimento está associado, principalmente, às exportações de óleo cru e bunker oil (combustível marítimo) com destino ao mercado asiático, principalmente China, Singapura e Coreia do Sul. Somente no segmento de exportações de derivados, as receitas cresceram 113,5% no primeiro trimestre de 2020 em relação ao mesmo período de 2019.

Singapura que já é o destino de grande parte das exportações de bunker oil, também aumento suas compras de petróleo cru da Petrobras. Tanto o país asiático, com os Países Baixos, duas regiões que contam com grandes portos, aumentaram as importações de petróleo cru muito provavelmente também para processá-lo em bunker oil, em função da qualidade do óleo do pré-sal.

De acordo com a companhia, a nova especificação mundial para combustíveis marítimos (IMO 2020), que reduziu o limite de teor de enxofre, tornou os produtos da Petrobras (óleo do pré-sal e o bunker oil) mais competitivos no mercado internacional.

Embora o volume de exportações ocorria em um momento no qual os preços internacionais do barril sofriam quedas históricas, no caso brasileiro, a desvalorização do real no período e a melhora dos preços dos derivados de exportação ajudaram a atenuar os efeitos negativos dos preços do barril.
Esses resultados operacionais não se reverteram num lucro contábil para a empresa por conta do aumento substancial das despesas operacionais – que registraram um aumento de 243% em relação ao primeiro trimestre de 2019 – principalmente por conta dos impairments. Embora a reversão das expectativas de preços exija uma reavaliação da geração de caixa futura dos ativos, o volume do impairment realizado pela Petrobras foi muito superior do que das suas concorrentes.

Entre as empresas analisadas pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustiveis (Ineep), a empresa que teve uma depreciação de ativos por meio de impairments mais próxima à da Petrobras (US$ 13,4 bilhões) foi a Total (US$ 3,6 bilhões), num valor quase quatro vezes menor.

Esse impacto negativo dos impairments foi ainda maior em razão da forte desvalorização cambial que também afetou as despesas financeiras da Petrobras. No primeiro trimestre de 2020, as despesas financeiras cresceram 151,6% em relação ao mesmo período de 2019, em função principalmente das variações monetárias e cambiais que cresceram 440,7% no mesmo período.

 

Como efeito imediato, a elevação das despesas operacionais e financeiras deve reduzir o pagamento de dividendos e de impostos, preservando assim o fluxo de caixa da empresa. Do ponto de vista estratégico, principalmente por conta dos impairments, a companhia deve reforçar a importância o seu programa de desinvestimentos, acelerando a venda de ativos a pretexto de otimizar o portfólio, bem como para justificar uma eventual redução de custos de pessoal, com políticas de incentivo à demissões e congelamento de salários.

Além da busca por redução de custos e venda de ativos, o resultado mostra uma maior exposição da Petrobras ao mercado internacional, tanto pela maior captação de financiamento com bancos estrangeiros, como pela maior dependência da demanda estrangeiras.

Em que pese a necessidade da empresa encontrar alternativas para lidar com o cenário desafiador, é preciso alertar para os riscos dessa estratégia se perpetuar no longo prazo, tanto em termos da variação cambial, como do ciclo de preços e demandas dos outros países. Isso precisa servir de alerta para a Petrobras, uma vez que a estratégia da atual diretoria é focalizar a petroleira em torno do segmento de exploração e produção de petróleo, com destino ao mercado externo.

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