Opinião
Pesquisas eleitorais: avalanche de ansiedade apenas favorece Bolsonaro
Maiorias empíricas que se percebem como minorias tendem a se tornar, no longo prazo, minorias
As reações da oposição à melhora de Jair Bolsonaro sugerida pela mais recente edição da pesquisa PoderData – o instituto captou que a distância teria entre ambos diminuído para 5 pontos – demonstraram que a linha que separa a lucidez do alarmismo é mais tênue do que parecia. E isso é grave.
Prefiro não entrar em detalhes de ordem metodológica, mas cabe salientar que o cenário apresentado pelo PoderData destoa das sondagens dos outros institutos. Para se ter uma ideia, a última pesquisa Ipespe, divulgada no dia 6, mostra Lula 14 pontos à frente de Bolsonaro nas intenções de voto estimuladas em primeiro turno. A mesma distância foi identificada pelo instituto Quaest em pesquisa divulgada no dia 7. Em ambas, Sergio Moro já era considerado fora do páreo.
Alguns levantaram a hipótese de que o PoderData estaria captando uma espécie de voto envergonhado, vez que as entrevistas foram feitas por telefone – à distância, os eleitores de Bolsonaro estariam e sentirem mais à vontade para assumir essa predileção. O Ipespe, porém, tem feito suas pesquisas também por telefone.
Apesar deste conjunto de discrepâncias, os comentários nas redes sociais preferiram adotar o dogmatismo ao ceticismo. O alarmismo ao invés da hesitação.
Diante de alguma mudança eleitoral desfavorável, há uma espécie de um gatilho pronto para ser acionado pelo eleitorado antibolsonarista. A qualquer sinal de alguma oscilação positiva do ex-capitão, a constatação sóbria de que não enfrentaremos uma disputa tranquila dá lugar a uma avalanche de receios e ansiedades. E isso só favorece a campanha de Jair Bolsonaro.
Explico melhor.
Um dia após a divulgação da pesquisa PoderData ter divulgado, saiu uma outra, do instituto Sensus, encomendada pela revista IstoÉ. Nela, o cenário não poderia ser mais desfavorável para Bolsonaro: considerando os votos válidos, Lula teria chances de liquidar a disputa já no primeiro turno. As reações a ambas as pesquisas, porém, são incomparáveis: tanto em volume, como em intensidade.
Embora Lula goze de uma vantagem elástica e esteja trabalhando para compor um frente ampla, a cada pequeno e improvável solavanco como o indicado pelo PoderData, lá estão os comentadores de plantão a enumerar supostos erros e desacertos. Podem não perceber, mas estão fazendo o jogo da campanha de Jair Bolsonaro. Não há melhor adversário do que aquele que, dia sim, dia também, alerta para os riscos de derrota.
O fenômeno ganha ainda mais contornos de surrealidade quando o foco das críticas sobre estratégias de campanha recaem quase exclusivamente sobre Lula, quando é ele, justamente, que mantém a dianteira pelo menos desde janeiro. Ao contrário do que sugere a pesquisa PoderData, o acúmulo de evidências de que dispomos até aqui é de um cenário estável para Lula.
Ora, quem está precisando de votos e não tem de onde tirar é Jair Bolsonaro. Quem deveria estar sendo foco de análises e críticas sobre estratégias de campanha é, obviamente, Jair Bolsonaro e não Lula. Ao menos por enquanto, afinal, não há sinais de que isso mude significativamente nem no longo prazo. Outra vez mais, insisto nas lições de Elizabeth Noelle-Neumann. Votos são afetados por climas de opinião. A percepção majoritária de um grupo sobre si próprio é mais importante do que seu tamanho e relevância reais.
Em outras palavras, um grupo que se percebe como maioria, mesmo não sendo, tende a ser tornar uma maioria. Maiorias empíricas que se percebem como minorias, por sua vez, tendem a se tornar, efetivamente, minorias. Isso porque quem se percebe como maioria não se cala. Ao contrário: verbaliza, milita, mobiliza e conquista.
Uma coisa é a cautela e a vigília constantes numa disputa eleitoral delicada. Outra coisa é, ao menor sinal de alerta, mesmo aquele pouco verossímil, engatilhar temores e inverter a lógica dos fatos concretos. Nesse caso em específico, tratar Jair Bolsonaro como o favorito. A campanha dele agradece.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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