Opinião
Pela recomposição progressista para coalizões democráticas brasileiras
Cabe aos progressistas intensificar a aproximação federativa e até mesmo cogitar futuras fusões
Federações partidárias, possíveis desde 2021 e condicionadas à duração mínima de quatro anos, têm sido adotadas por legendas até então estáveis, mas ameaçadas pela redução contínua de sua representação parlamentar. O PV e o PCdoB juntaram-se ao PT, o Cidadania uniu-se ao PSDB, e a Rede Sustentabilidade, ao PSOL.
Com a Federação União Progressista, entre os conservadores União Brasil e PP, esse tipo de coalizão passa a ser visto dentro do poderoso campo conservador, para torná-lo menos infenso às iniciativas governamentais de cooptação, embora as duas legendas controlem alguns ministérios. Ao optarem pelo caminho da federação, as siglas poderão lançar chapas unitárias à Câmara dos Deputados e, com isso, posicionar-se no topo decisório do Congresso, além de compartilhar a verba crescente dos fundos partidários e eleitorais.
Porém, o pioneirismo federativo de legendas progressistas — ou ao menos externas à interface reacionária entre partes do “Centrão” e do bolsonarismo — já é insuficiente diante das recomposições em curso na direita. Os arranjos conservadores podem até não ter candidato próprio à Presidência e nem mesmo resultar em apoio unificado a algum concorrente no primeiro turno de 2026, mas certamente beneficiarão essas legendas na disputa por cadeiras no Congresso.
Neste sentido, cabe aos progressistas intensificar a aproximação federativa e até mesmo cogitar futuras fusões. Inclusive pela vantagem política de terem a mesma candidatura presidencial em 2026 (a reeleição de Lula) e, portanto, de chapas a ela associadas para a Câmara dos Deputados em uma conjuntura sucessória na qual, habitualmente, o voto para presidente influirá mais que para governadores na escolha de parlamentares.
À centro-esquerda ainda caberia formar outro polo político relevante, além do já ocupado pelo PT (com seus federados do PV e do PCdoB). Neste campo político, uma federação entre PSB e PDT teria efeito eleitoral positivo imediato na forma de chapas unificadas à representação parlamentar. E não só: poderia ainda funcionar como núcleo de uma federação mais ampla com outros partidos menores e já sob risco de exclusão do Parlamento.
Na esquerda federativa parlamentar, cabe ao PSOL, na condição de seu principal nome, ao menos já cogitar futura fusão à Rede Sustentabilidade, a fim de formar um polo socialista tão libertário quanto ecológico na política brasileira, inclusive conforme o destaque recente do “direito à cidade” em sua recente Conferência Programática.
Os progressistas, ao não repelirem novos modos de vida e de costumes, têm afinidades suficientes (ainda que não absolutas e em graus variados) entre suas vertentes sindicalistas, cooperativistas, identitárias, desenvolvimentistas, ecologistas e socialistas. Isso permitiria ainda elaborar programas orientados contra a tão renitente quanto extrema desigualdade social brasileira.
Essa maior aproximação política daria impulso à batalha pela redução da jornada de trabalho, à generalização de um modelo cooperativo de negócios, à proteção da população contra quaisquer discriminações negativas, à transição ecológica na agropecuária, ao fortalecimento necessário de carreiras de Estado em saúde, educação e segurança, à urgente reindustrialização sustentável do Brasil e a um pacto republicano, entre Poderes, contra privilégios elitistas da burocracia estatal.
Além disso, fortaleceria na eleição algumas importantes bandeiras progressistas já em curso, como a justiça tributária e a integração das chamadas pautas identitárias àquelas relacionadas às condições materiais de vida.
De modo imediato, cogitar fusões entre parceiros federativos e formar ao menos outra federação, pela centro-esquerda, tornaria ainda os grupos progressistas mais influentes para encarar o desafio que a atração do “Centrão” pela ultradireita representa nas eleições de 2026.
Cientes da sempre necessária e ainda urgente unidade pela consolidação política da ordem de 1988, mais unificações progressistas em seu interior são fundamentais em uma agenda programática que qualifique uma mobilização popular tão capaz de apoiar Lula em suas alianças pela reeleição, quão confluente de demandas sociais cujas afinidades uma arte política progressista pode e ainda precisa lhes revelar.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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