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Pé no varejo

A Vulcabras estuda a abertura de lojas próprias e tende a começar pela Under Armour, uma das marcas do portfólio

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Vendas no comércio crescem em setembro. Foto: Elza Fiúza / Agência Brasil
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Uma parte importante das decisões estratégicas de uma empresa é a definição correta dos canais em que atua. Escolher o canal correto pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso das marcas. Dentre os dilemas, um surge constantemente: abrir canais próprios e correr o risco de os pontos de venda atuais reagirem mal. Se o produto está distribuído e posicionado em varejistas, eles podem abrir mão de produtos da empresa? A ameaça de perder mercado e investir em canais próprios exige capital. É uma decisão ousada, mas pode ser uma virada muito grande. Esse é o momento da Vulcabras, que em agosto mencionou essa possibilidade, abrindo a hipótese de a marca norte-americana Under Armour ser a precursora da iniciativa.

A Vulcabras é uma marca muito forte. Os mais velhos podem se lembrar de campanhas antológicas da empresa e de seu clássico 752, que teve até ­Paulo Maluf como garoto-propaganda, em 1989. Mas o crescimento veio com um giro para o mercado de produtos esportivos. As marcas Olympikus, Mizuno, além da Under Armour, fizeram da empresa uma competidora muito forte no segmento. A Olympikus, inclusive, é um case de sucesso, fazendo investimentos e disputando com sucesso o mercado de tênis para corrida com outras marcas fortes e internacionais.

A iniciativa pode ser outro ponto de virada para a operação. Com um portfólio de tênis e roupas, a Under Armour poderá criar um ponto de conexão maior com seus consumidores. A experiência da ­Hering pode servir de inspiração. A marca centenária iniciou seu projeto de lojas e franquias na década de 1990. As tradicionais camisetas passaram a ser acompanhadas por um mix de produtos variados. A Havaianas também seguiu o caminho e em suas unidades os produtos vão muito além dos tradicionais chinelos que não deformam nem soltam as tiras.

Outro motivo para acreditar na iniciativa é a vocação comercial da empresa. Ela vem de um período de crescimento de 20 trimestres consecutivos, façanha em um mercado que oscila muito e com taxas de juro que atingem o comércio e o bolso dos consumidores. Em agosto, a Vulcabras divulgou seus resultados e reportou faturamento de 1,04 bilhão de reais, o melhor segundo trimestre de sua história. Em 2024, o faturamento foi de 3,5 bilhões de reais.

Mais consumo

A Associação Brasileira de Supermercados apontou um crescimento nos estabelecimentos de 2,08% em agosto, em comparação com o mês anterior. A pesquisa Consumo nos Lares Brasileiros reportou ainda que, na comparação com 2024, o crescimento no mês foi de 4,56%, com valores deflacionados.

Segundo o vice-presidente da entidade, Márcio Milan, “o aumento da massa salarial traduz-se não apenas em maior consumo básico de alimentos, mas em uma diversificação da cesta, deslocando parte da demanda para produtos de valor agregado”. A migração para produtos de preços mais elevados indica uma elasticidade de renda. As razões para o crescimento são, de acordo com a Abras, o aumento dos empregos e os programas sociais do governo, como o Bolsa Família e o Vale Gás.

Bimbo

A Bimbo, indústria mexicana de panificação, obteve autorização do Cade para concluir a compra da Wickbold, do mesmo segmento. A empresa deverá, no entanto, vender a Nutrella e a Tá Pronto. No Brasil desde 2001, a Bimbo é dona das marcas Pullman, Rap 10 e Ana Maria. Agora, além da Wickbold, a Seven Boys também passa a integrar o portfólio da empresa.

A Bimbo está presente em 35 países e comercializa mais de cem marcas. A empresa não divulga resultados no Brasil. A estimativa do mercado é de que, com a aquisição da Wickbold, a multinacional tenha potencial para dobrar de tamanho em pouquíssimo tempo e aumentar os resultados em razão das sinergias operacionais e de distribuição.

Reforma em casa

O governo federal prepara uma nova linha de crédito destinada a reformas de imóveis para famílias de baixa e média renda. No total, o programa deverá disponibilizar 30 bilhões de reais, com juros variando de acordo com a faixa de renda. Os juros poderão oscilar, para as duas menores faixas, entre 1,17% e 1,95% ao mês. Acima disso, os porcentuais serão de mercado e negociados diretamente com as instituições financeiras.

A iniciativa tem potencial para melhorar a qualidade das moradias, mas é esperada com expectativa pelo varejo de materiais de construção. Pequenas reformas têm um peso significativo no dia a dia do setor. Movimentam pequenos comércios locais e geram renda para trabalhadores formais e informais do setor de construção civil. •

Publicado na edição n° 1381 de CartaCapital, em 01 de outubro de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Pé no varejo’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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