Não será fácil para Bolsonaro melhorar a sua imagem e destruir a de Lula

Aguardemos para ver a quantidade de lixo que o presidente e sua turma vão despejar no eleitorado

Fotos: Ricardo Stuckert e Evaristo Sá/AFP

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Chegamos a março, o Carnaval vai passar e a eleição é logo ali. Daqui a pouco mais de seis meses vamos votar para presidente. Se, claro, a milicada deixar, comportamento a respeito do qual nunca podemos estar totalmente certos, considerada a comichão golpista das Forças Armadas brasileiras.

Todos sabemos que o ocupante do Palácio do Planalto é candidato à reeleição, pois é um político cuja vida sempre foi assim: ganha uma eleição e começa, imediatamente, a batalhar para ficar no cargo. É o que fez em sua longa trajetória de deputado profissional, sobrevivendo, com sua trupe, agarrado às futricas de bastidor e aos cargos públicos.

Instalado no Planalto e sem pudor para utilizar desbragadamente o poder para permanecer na cadeira presidencial, o capitão, por enquanto, é o adversário mais provável do ex-presidente Lula, favorito para ganhar a eleição. Como os demais candidatos são fracos, por diferentes motivos, o cenário, a distância em que estamos do pleito, é de polarização entre os dois. Somados, reúnem até 70% das intenções de voto nas pesquisas, deixando para os demais, descontados os votos não nominais, algo perto de 15%, o que é pouco para dividir entre dez ou mais nomes.

Para se tornar competitivo, o capitão tem dois caminhos: subir, mostrando-se melhor presidente do que Lula foi e pode ser, ou fazer com que o petista caia, trazendo-o para debaixo de si. Claro que são alternativas complementares: a melhora do capitão reduz a quantidade de piora que precisa causar na imagem do ex-presidente.

Podemos chamar de construtiva a primeira opção e de destrutiva a segunda. Bolsonaro tem de fazer as duas coisas, construindo-se e destruindo Lula. Para ele, nenhuma é fácil. Ambos têm piso e teto firmes, que funcionam como limites abaixo ou acima dos quais é difícil (ou quase impossível) ir, mas os de Lula são bem maiores. Seu piso é elevado, entendido como a parcela do eleitorado que está definida por ele e infensa a argumentos em contrário, e o teto é alto, formado pelos que podem votar em seu nome e estão pouco dispostos a ouvir críticas (até por conhecê-las todas).

O capitão, ao contrário, viu os dois quantitativos cair desde a posse. A população foi se decepcionando com ele, em razão da performance no governo e, especialmente, do modo como está enfrentando a pandemia e a crise na economia. Com isso, o piso afundou e o teto desabou. Sua tarefa é complicada: tem muito a construir e a destruir.


A aposta na opção construtiva quer dizer, para ele, colocar dinheiro em políticas distributivistas, pois é assim que, tipicamente, a direita busca o voto dos eleitores mais pobres: sempre acham que ganham se tiverem grana para comprá-los. No caso de Bolsonaro, o passado não justifica otimismo. Em 2020, perante gastos públicos estratosféricos, a avaliação do governo melhorou de maneira apenas modesta, de acordo com os dados disponíveis (que vêm de pesquisas remotas). Em pesquisas telefônicas do Datafolha, o melhor resultado foi obtido na comparação entre março e dezembro, quando a avaliação positiva foi de 33% para 37%, crescendo quase nada, na margem de erro. As centenas de bilhões despendidas tampouco deixaram resultados em prazo mais longo: seis meses depois, em maio do ano passado, os 37% de dezembro de 2020 haviam se transformado em 24%. Na mais recente do instituto, do fim de 2021, permanecia nesse nível, 22%.

Mesmo sem resultados reais para exibir, é sempre possível, porém, inventá-los, acreditando na credulidade do povo. Tudo indica que é assim que o capitão e seus gênios da comunicação pretendem caminhar. Alguém viu a tentativa ridícula de associá-lo à diminuição dos conflitos entre os Estados Unidos e a Rússia a propósito da Ucrânia?

Esse não é, contudo, o campo em que o bolsonarismo costuma jogar. Suas credenciais são para outro tipo de atuação: o que sabe fazer é trapacear, sem qualquer escrúpulo, para destruir o adversário.

Qual será a mentira de amanhã? E a próxima? Qual está reservada para a véspera da eleição? Lula é contra a família cristã? O PT mandou matar Bolsonaro? Lula ficou milionário com a corrupção? O filho de Lula mora em palácio e anda de Ferrari de ouro?

Aguardemos para ver a quantidade de lixo que vão despejar no eleitorado. E esperemos que a Justiça Eleitoral seja menos omissa do que foi em 2018, para coibir os crimes que vamos presenciar. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1197 DE CARTACAPITAL, EM 2 DE MARÇO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Os argumentos do capitão”

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1 comentário

PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 2 de março de 2022 21h04
De fato Bolsonaro está num impasse. Para crescer nas pesquisas, precisa urgentemente desconstruir a imagem de Lula, avançar nos indecisos, diminuir sua alta rejeição. Suas táticas eleitorais giram em torno das Fake News e, de fato, esperemos que a justiça eleitoral esteja atenta a essa possibilidade. Quanto às questões geopolíticas, em relação ao conflito Rússia-Ucrânia, Bolsonaro é uma piada. Talvez nem saiba cartograficamente a localização da Ucrânia ou da Rússia, embora tenha ido lá. Precisa conhecer a história, e, quem sabe, um pouco da revolução russa de 1917,1922, saber tudo o que aconteceu. Para quem defende a tese do terraplanismo e do negacionismo da eficácia da vacina, um tema um pouco árido para o presidente.

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