

Opinião
Paixão e surpresas
O Mundial de Clubes da Fifa apresentou um verdadeiro cabo de guerra entre os gigantes do futebol atual, que culminou com duas partidas espetaculares


A despeito dos muitos acontecimentos recentes no campo esportivo, o Mundial de Clubes da Fifa ainda rende assunto. Esse torneio, afinal de contas, foi desenhado para ser a principal disputa do futebol.
O que vimos foi um verdadeiro cabo de guerra entre os gigantes do futebol mundial, que culminou com duas partidas espetaculares. O futebol é assim mesmo, cheio de reviravoltas que ajudam a explicar tamanha paixão.
No fim, o Paris Saint-Germain sentiu o gosto do próprio veneno, pagando na mesma moeda com que havia superado o Real Madrid, por 4 a 0 na semifinal do mesmo campeonato.
Na final, no domingo 13, foi o Chelsea que o envolveu, alcançando seu melhor momento na hora certa e levando o título para casa, com uma partida encerrada com 3 gols a 0.
Tenho que exaltar o trabalho de Enzo Maresca, técnico do Chelsea, e de Luis Enrique, treinador do PSG. Na minha opinião, eles foram os melhores dentre os treinadores que se destacaram.
É aquela velha história: favoritismo existe, mas não define o resultado na véspera, especialmente em decisões.
E, por falar em reconhecimento, é difícil, no futebol, elogiar a arbitragem, que vive sob o fogo cruzado dos perdedores, mas vale a pena mencionar o elevado padrão dos responsáveis pelos apitos e bandeiras neste Mundial.
Teve de tudo no torneio, inclusive uma confusão com a participação do experiente e extraordinário goleiro Gianluigi Donnarumma, do PSG, protagonista de um momento marcante.
O meia-atacante Jamal Musiala, do Bayern, sofreu uma grave lesão no tornozelo esquerdo após uma dividida com Donnarumma, numa partida pelas quartas de final do Mundial.
Foi uma cena comovente vê-lo sair em lágrimas do “bolo” que se formou ao saber do resultado trágico do lance, que deixará Musiala fora dos campos por algum tempo.
O Mundial nos apresentou uma quantidade enorme de craques, goleiros espetaculares e revelações empolgantes.
Alguns destaques foram memoráveis, como os goleiros Robert Sánchez (do Chelsea) e o marroquino Yassine Bounou (do Al-Hilal); o incansável austríaco Konrad Laimer (do Bayern de Munique); o habilidoso português Vitinha (do PSG); o também incansável português Pedro Neto (do Chelsea); Jhon Arias (do Fluminense) e o veterano Thiago Silva ( também do Fluminense), entre outros.
Mais uma vez, chamou atenção a atuação brilhante de alguns jovens talentos, mesmo que “franzinos” no meio de gigantes avantajados. É o caso de Estêvão (do Palmeiras), João Pedro (do Chelsea) e Cole Palmer (também do Chelsea), considerado o melhor jogador da finalíssima.
O balanço para o futebol brasileiro foi altamente positivo. Resta saber se vamos conseguir aproveitar tudo de bom que esses resultados nos podem trazer.
E mal o Mundial de Clubes terminou, já temos um escândalo no futebol brasileiro: a situação do atacante Pedro, do Flamengo. É mais uma trapalhada no relacionamento entre jogador, treinador e clube.
Para mim, este caso guarda semelhanças com a novela que virou a minha própria história com o Botafogo, que resultou na conquista do “Passe Livre” para os jogadores de futebol.
O “Caso Bosman”, na década de 1990, semelhante ao que aconteceu comigo, liberou o jogador belga Jean-Marc Bosman, e como ele pertencia à comunidade europeia, a liberação estendeu-se por todo o continente.
Acontecimentos desse tipo, com desentendimentos, são comuns no dia a dia dos clubes de futebol. Eles podem e deveriam ser solucionados pelos dirigentes responsáveis, o que geralmente acontece quando o clube vive um momento de tranquilidade.
O problema é quando os interesses das partes entram em choque e não são vistos como um todo, mas cada um por si.
Pedro tem toda a motivação para viver um momento de dedicação: ele se recuperou de uma lesão e, além de voltar a jogar normalmente para garantir sua posição no Flamengo, é lembrado para o ataque da Seleção Brasileira.
Essa e outras negociações têm sido lembradas pela mídia como confusas, com acertos e desistências por parte do Flamengo nesta janela de transferências.
O treinador alega queda de rendimento e desinteresse do jogador. Pedro, por sua vez, reconhece ter se sentido desprestigiado com a declaração de um dirigente, sem ter sido comunicado de que estaria “à venda” por um determinado valor.
Como bem lembrou o sagaz jornalista cearense Wilton Bezerra, o clube escolheu a opção de que “roupa suja não se lava em casa”. •
Publicado na edição n° 1371 de CartaCapital, em 23 de julho de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Paixão e surpresas’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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