

Opinião
Os vitoriosos da semana
Em campo, o Botafogo fez uma partida épica contra o Inter. Na piscina, Nicholas Santos, medalhista mundial aos 42 anos, deu um exemplo de vida


Antes de falar de futebol, quero, esta semana, lembrar que temos tido notícias importantes nos esportes olímpicos, com os mundiais de vôlei e natação. São muitos os feitos, mas vou eleger um deles: a medalha de prata obtida pelo nadador Nicholas Santos nos 50 metros nado borboleta.
Nicholas serve como exemplo para todos nós, de todas as idades, ao conseguir, aos 42 anos, não apenas chegar ao pódio, mas vender saúde. Saúde é o que interessa acima de tudo.
Outro destaque foi a final da NBA e a consagração do sensacional Stephen Curry, do Golden State Warriors. Ele faz lembrar o Michel Jordan: jogadores esguios
fazendo prevalecer a arte sobre a força.
No futebol, pode ser que até o final de semana aconteça alguma coisa que desperte a atenção do público esportivo. Mas, por ora, o acontecimento mais marcante nos campos brasileiros foi o jogo entre o Internacional de Porto Alegre e o Botafogo, no domingo 19, no Beira-Rio. A partida foi inquietante .
Aos cinco minutos do primeiro tempo, tivemos um pênalti marcado e convertido a favor do Inter e a expulsão do zagueiro. Ambas as coisas renderam horas de comentários. Mesmo os partidários do colorado gaúcho, que buscavam explicação para a penalidade, reprovavam a exclusão do botafoguense e se seu treinador – também posto para fora.
Logo a seguir, o time gaúcho ampliou sua vantagem, marcando o segundo gol que encerrava qualquer expectativa dos botafoguenses. O Inter vinha de 15 resultados favoráveis, jogava em seus domínios. O Botafogo, por sua vez, vinha de sequência completamente instável e, apesar de, aparentemente, ter pouca chance, conseguiu fazer um gol e tudo mudou.
Além do empenho e do brio dos profissionais alvinegros, duas situações passaram a ser determinantes para o resultado: as defesas extraordinárias do goleiro Gatito e o relógio rodando sem parar, estreitando os caminhos colorados.
O árbitro, que já havia dado dez minutos de acréscimo no primeiro tempo – ah, o VAR! – deu outros dez ao fim do segundo tempo. E foi nesses minutos que o Botafogo conseguiu o tento da vitória, por 3 x 2 – algo, para todos, inimaginável.
As emoções à flor da pele foram o suficiente para que, no final, fosse desencadeado um quebra-pau entre os jogadores. A arbitragem, nesse caso, conseguiu a façanha de desagradar os dois lados.
Mais uma vez, o excelente técnico Luís Castro foi sincero ao pedir desculpas pela expulsão e afirmar que o jogo desenvolvido foi, talvez, o mais complexo de sua longa carreira. Coube a ele mesmo classificar o desfecho com vitória do seu time como improvável.
O que me parece realmente uma demonstração cabal da instabilidade deste momento que atravessamos no País é a reação dos torcedores transtornados que pagaram o mico” mais de cobrar, de forma agressiva, os jogadores do Botafogo em seu campo de treinamento.
No fim, acabaram sendo substituídos por outros torcedores, mais equilibrados e não menos apaixonados, que, depois da vitória sobre o Inter, foram esperar a chegada do time no aeroporto, à uma hora da manhã, sob um frio que, habitualmente, faz com que o carioca não saia da toca.
A sinceridade do treinador, assim como a tomada de posição da direção alvinegra de manter o projeto estabelecido, sem se deixar envolver pelo descontrole irresponsável da torcida, podem ser importantes para a estruturação do time, em fase de afirmação, e para o próprio futebol brasileiro.
A vitória épica – não há outra palavra mesmo –, imediatamente depois de vencer o São Paulo e superar uma sequência de maus resultados, pode ser fundamental para mostrar, de uma vez por todas, que o sucesso de um trabalho coletivo não cai do céu. É uma construção tijolo a tijolo.
O que temos visto no futebol brasileiro nada tem a ver com nossa história. E o novo protagonismo do Botafogo, que sempre trabalhou com inteligência para superar os períodos de baixa, nos remete aos bons tempos. •
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1214 DE CARTACAPITAL, EM 29 DE JUNHO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Os vitoriosos da semana”
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.