Os rumos da saúde e da segurança alimentar no Brasil

A inflação dos alimentos dói nos bolsos, vilania a cair quase de forma unânime sobre ombros caboclos

Horta de legumes e verduras no assentamento Vale do Amanhecer, no município de Juruena (MT). Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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Sob o título acima, apresentei uma palestra na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp no final do ano de 2013. Quase dez anos atrás.

Estavam lá especialistas da área. A mim, cabia explicar como os males nutricionais e sanitários se iniciam desde quando as sementes são lançadas em terras contaminadas anos seguidos por práticas químicas e tóxicas tradicionais.

Notem que os temas eram saúde e segurança alimentar, e não produção agropecuária ou agronegócios, como é de bom tom abordar na mídia corporativa, que a imagina muito evoluída no Brasil.

Sim, evoluímos, principalmente, se continuarmos focando apenas extensões de áreas plantadas (somos grandões e inescrupulosos invasores de matas e florestas), volumes de produção, produtividade (kg/ha) e receitas, usando terras apropriadas aos plantios e pastoreios comerciais, sobretudo, quando para exportações (US$), e mesmo quando não, adequando-os, de forma inapropriada, sem os cuidados preceituados por agrônomos sérios e qualificados, ou mesmo que reguladas por legislação específica, mas escamoteada por:

  1. desconhecimento técnico ou descrédito dos lavradores por produtos naturais e orgânicos, essenciais para uso combinado em qualquer plantio, defesa contra pragas e doenças, formação e recuperação de pastos. Ainda mais, sobremaneira de custos muito abaixo do que as moléculas sintéticas desenvolvidas pelas grandes indústrias químicas;
  2. tradicionalismo dos produtores rurais, temerosos de que a inovação os faça perder produção, nem mesmo atentando à dependência de insumos importados (mais de 80% das necessidades), em custos muito maiores, pois de oferta regulada, a ponto de algumas delas cartelizadas e, pior, aqui balizadas pela variação cambial;
  3. o poder econômico-financeiro das indústrias estrangeiras ou grandes nacionais, que permite expressiva formação de equipe de vendas e ampla divulgação na mídia corporativa e digital;
  4. facilidades obtidas, com funcionários específicos e suporte jurídico para atuar junto aos órgãos regulatórios do governo, aprovadores de testes e experimentos, restritos às instituições de pesquisa credenciadas. Somente após isso será autorizada a comercialização;
  5. lobbies de Associações, Federações e Confederações de Ruralistas.

Para não os aborrecer, abaixo pequenos trechos sobre a palestra acima citada, dada há dez anos, na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, e de uma entrevista dada à TV Gazeta, conduzida pelo jornalista Bob Fernandes (maio, 2013) sobre a inflação dos alimentos, que dói nos bolsos brasileiros, ainda mais das classes mais pobres, a vilania caindo quase de forma unânime sobre ombros caboclos, caipiras, campônios, campesinos, camponeses, lavradores, produtores rurais, sertanejos e tabaréus.


Cito a maioria das denominações regionais daqueles que representam a maior parte dos “Rumos da saúde e da segurança alimentar no Brasil”.

Por que isso? Para os leitores entenderem um pouco melhor o motivo de, não podendo selecionar a qualidade da alimentação, o que significa a maior parte da população de baixa renda no País, em alguns momentos verdade e em outros falácia, mas que a forma de produção, mesmo antes de industrializada, sempre será condutor importante dos “Rumos da Saúde e da Segurança Alimentar no Brasil”.  (Inté – continua).

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