Opinião

Os muito burros que me perdoem, mas inteligência é fundamental

Pouco importam minhas próprias ideias, posições políticas, econômicas e sociais. Há divergências, mas sobrevivi ouvindo e respeitando

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes (Foto: Evaristo Sá/AFP)
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Na sexta-feira 12 comemorou-se, ou não, o Dia dos Namorados. A dúvida se deve à situação da saúde no País, que não nos permite certeza de qualquer evento de congraçamento efusivo.

Eu, no entanto, fui feliz e comemorei. Não por meu casamento de 48 anos, com a paciente Cléo, mas sim com o substantivo feminino da língua portuguesa que mais mexe com as minhas emoções, paixões e amores: a inteligência.

Sempre coonestei o poeta, escritor e diplomata Vinícius de Moraes (1913-1980), quando disse: “As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental” (Receita de Mulher, 1959).

Adapto e generalizo aos seres humanos: “Os muito burros que me perdoem, mas inteligência é fundamental”.

Foi com ela que comemorei o Dia dos Namorados.

Na parte da manhã, encontramo-nos no Instituto de Engenharia de São Paulo, palestra virtual “A retomada da economia e a política de desenvolvimento do Brasil”, oferecida pelos ex-ministros Antônio Delfim Netto e Shigeaki Ueki, mediação da competente jornalista do Valor, Cláudia Safatle. Pelo que conheço dos palestrantes, embora em diferentes épocas, pouco a jornalista poderia intervir. Difícil interrompê-los, quando brilham em seus longos e profundos raciocínios, histórias e causos que se encadeiam em borbotões de lucidez.

Pouco importam minhas próprias ideias, posições políticas, econômicas e sociais. Há divergências, mas sobrevivi ouvindo e respeitando, de forma democrática e não autoritária, às posições de todos aqueles que não concordam comigo, desde que com inteligência. 

Naquela manhã, 12 de junho, no Instituto de Engenharia, nem burrice nem preconceito estiveram presentes, espaço para qualquer confronto de ideias.

Mesmo namoro se repetiu à tarde. Novo encontro com a inteligência. Desta vez no YouTube de CartaCapital, onde o jornalista André Barrocal entrevistou Laura Carvalho, professora da FEA-USP, da The New School for Social Research (NYC, fundada em 1919).

Um pouco sem-vergonha, um pouco volúvel, compareci. Laura, acaba de lançar o livro “Curto-circuito – o vírus e a volta do Estado” (Editora Todavia, 2020).

Tive uma querela no passado com a professora por ter escrito em meu blog texto por ela mal interpretado como machista, atributo que não carrego. Neguei, claro. Cortou-se o contato, mas continuei a lê-la e admirá-la.

Nosso encontro de Dia dos Namorados foi em:

Quase uma hora e meia de magnificência jovem, onde politicamente mais me enquadro e guardo esperanças, acossado que o País está pela burrice.

Vendo o País em frangalhos, causado por um governo a que não escolhi, pior, muito alertei para o desastre que viria, tento buscar soluções entre antigos intelectuais, como os matinais Delfim e Ueki, e novos, como Laura, para me orientar. 

Depois desses dois namoros, o que que me sobra? Do matinal, a real necessidade de reforma do Estado e do sistema tributário. Da vespertina, a expansão do conceito de renda básica universal, o que começo a ouvir de lúcidos economistas neoliberais brasileiros, como Armínio Fraga, Lara Resende, além de estrangeiros, como Thomas Piketty e Dani Rodrik, que dizem só possível a convivência capitalismo e democracia com redução da desigualdade social.

Parece-me Laura, mais aggiornata. Lê em Milton Friedman, Chicago que nunca será entendido por Guedes, falando sobre o imposto de renda negativo, e o Estado, mesmo que mínimo (?), oferecendo menos funções e serviços em troca de dinheiro. Cada um se vira, forma universal, mesmo que sem enquadramento e direitos básicos de subsistência.

Como se daria o equilíbrio? Pela tributação sobre os de maior renda e quem acumulou mais patrimônio nas últimas décadas de capitalismo, exclusivamente, financeiro. Esta, uma transformação gradual, pois difícil e cheia de intersecções.

Discute-se plutocracia? Claro. É o que tivemos para ontem e sempre. Aumento substancial do desemprego é irreversível. Como atenuar, se governo incompetente, sem arrecadação, voltados contra as atividades produtivas, com dificuldades em micro e pequenas empresas?

Os comparativos de sucessos mundiais, que poderiam se repetir nas condições climáticas, diversificadas e territoriais do Brasil, nem pensar, versus oligopólios que aprofundam e concentrações de privilégios aqui incorporados.

Cadê o BNDES, pergunta Laura? Entrego-os às inteligências de Delfim e Ueki. Verão como o setor financeiro poderá fazer Fintechs florescerem.

Temos um pacto social perfeito em seus fundamentos. Delfim foi um de seus constituintes. Trinta anos poderia levá-lo ao aggiornamento, parece óbvio, mas não a ponto que se permita um imbróglio, causado por um insano, despreparo inteligente do País que o levou à presidência, com filhos, acólitos, e faz do Brasil a pilhéria do planeta?

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