Opinião

Os jovens e as cidades: como dizia Belchior, o novo sempre vem

Precisamos de políticas públicas efetivas, incisivas, que tenham efeitos reais de transformação na vida dos cidadãos

Juventude
O jovem precisa ser ouvido e atendido, diz Marília Arraes. Foto: Pixabay O jovem precisa ser ouvido e atendido, diz Marília Arraes. Foto: Pixabay
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O ano de 2020 começa a se encaminhar para o seu fim. Um ano difícil, duro, com muitas perdas, e que vai deixar trauma enorme na humanidade. Um ano contaminado pelo vírus. Mas os últimos meses no Brasil também serão definidores do futuro que se quer para o País. É tempo de eleições, de escolha de representantes das prefeituras e câmaras municipais, que assumirão a desafiadora missão de cuidar pelos próximos anos do destino de 5.570 municípios.

 

A população precisa ficar atenta ao que os candidatos propõem para o futuro das cidades, o que eles pensam e como pretendem superar problemas estruturais históricos, que se intensificaram com a pandemia do coronavírus. Problemas que também se fortalecem alimentados pela brutal desigualdade social. É hora de fazer escolhas, e tomara que escolhas certas.

Em meio aos mais de 210 milhões de brasileiros, uma parcela importante da população que encarna bem os desafios que devem ser enfrentados pelas gestões públicas para o futuro das cidades é a da juventude.

Os jovens representam um quarto da população brasileira, ou seja, são mais de 50 milhões com idade entre 15 e 29 anos, segundo o IBGE. É essa imensa parcela que precisa ter para si políticas públicas eficientes na educação, na qualificação profissional, geração de emprego, no acesso à saúde, cultura, esporte e lazer. É também esse universo que precisa em maior grau de políticas de enfrentamento e prevenção da violência. O jovem precisa ser ouvido e atendido.

A realidade, infelizmente, é outra. Na educação, a evasão escolar que era dramática, tende a aumentar após a ruptura trazida pela Covid-19. É o que indica a pesquisa Juventude e Pandemia do Coronavírus, realizada pelo Conselho Nacional da Juventude, que entrevistou mais de 33 mil brasileiros em todo o País. A pesquisa mostra que quase 30% dos jovens disseram ter pensado em abandonar os estudos após o período de pandemia. E quase metade dos que planejam fazer o Enem admitiram que podem desistir do exame.

No início do mês de março, ou seja, quando o País ainda começava a sentir os primeiros efeitos econômicos da pandemia, uma pesquisa da Organização Internacional do Trabalho mostrava que 1 em cada 4 jovens no Brasil estava desempregado. Certamente, essa proporção aumentou. Nesse mesmo estudo, a OIT apontou que, no Brasil, o índice de jovens que nem estudam, nem trabalham, nem passam por cursos técnicos atinge 23,5%.

É essa combinação de fatores que compromete o futuro do Brasil, desperdiça a energia produtiva e a inteligência da nossa juventude e aprofunda as desigualdades, escancarando também a desigualdade racial no nosso País.

Os jovens representam um quarto da população brasileira, ou seja, são mais de 50 milhões com idade entre 15 e 29 anos, segundo o IBGE

O Atlas da Violência 2020 divulgado no final de agosto pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que os casos de homicídios de negros aumentaram 11,5% em uma década. E as maiores vítimas dessa violência são justamente os jovens. O relatório mostra que em 2018 mais de 30 mil jovens entre 15 e 29 anos foram mortos, o que equivale a 53,3% dos registros.

No Recife, minha cidade, os jovens representam 35% de uma população que em seu total tem 1,6 milhão de habitantes, com 600 mil vivendo abaixo da linha de pobreza. Só esse breve panorama nos diz muito sobre a necessidade de políticas públicas efetivas, incisivas, que tenham efeitos verdadeiramente transformadores na vida dos jovens da capital pernambucana.

Tenho conversado muito com representantes da juventude, com estudantes, mães jovens, ativistas digitais, e mesmo com alguns que tentam vencer o desalento de nem estudar nem trabalhar. Em todos percebo que, apesar das dificuldades, há um projeto pessoal e coletivo de uma vida melhor no futuro. O que eles precisam é ter as condições necessárias para construir essa vida melhor.

Terra do frevo e do maracatu, mas também do manguebit e do passinho, o Recife tem na força criativa de sua juventude uma saída promissora. Mas isso deve estar aliado ao investimento na educação e na qualificação profissional. E mais: o cuidado com a nossa juventude também deve ter em perspectiva uma política de urbanização que leve qualidade de vida para as comunidades, com ruas asfaltadas, saneamento básico, iluminação, acesso a equipamentos de esportes, lazer e cultura e também o incentivo a quem quer empreender. E tudo isso deve ser feito em parceria com a própria juventude nas comunidades, envolvendo todos no debate e na formulação de soluções que impactarão na vida de suas famílias.

Como diz Belchior, o novo sempre vem. E tomara que venha sob o signo da mudança consagrada pelo voto popular. E pela participação da juventude.

P.S.: Em razão do período eleitoral, a minha colaboração mensal nesta revista será suspensa pelos próximos meses. Espero poder encontrá-los em breve aqui, e que até lá o Brasil esteja em condições melhores. Um abraço e se cuidem.

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