Opinião

Os EUA não são nossos parceiros ou consumidores, mas concorrentes

O risco da ignorância geopolítica que já se mostra é enorme e deve custar caro

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Donald “Pele-Laranja” Trump já eleito presidente dos EUA, no Brasil golpe já realizado, deposição a presidente Dilma Rousseff, preocupavam-me os rumos equivocados que tomavam nossas políticas econômicas e de relações exteriores. Assim que, em 31 de outubro de 2017, publiquei coluna nesta CartaCapital, “O Brasil, as exportações e o entreguismo”.

Alguns trechos até chegarmos ao governo (?) recém-empossado:

“Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), nos últimos 50 anos, o PIB dos países que fazem parte do órgão cresceu a uma taxa anual de 3,3% (…) Anualizadas e consideradas em quantidade, não valor, as exportações de manufaturados cresceram 30 vezes (6,7% a.a.), as de combustíveis e minerais 4,8 vezes (3,1% a.a.), e as de produtos agrícolas 5,5 vezes (3,3% a.a.) (…) Uma história que foi se consolidando, a partir do século 18, o Brasil distraído em fazer de um País uma Federação de Corporações (…) Por que começo o texto tratando das exportações mundiais? Porque é comum ouvir-se sobre nossa pequena participação nas exportações totais e de manufaturados”.

Nossas exportações, mesmo que predominantemente de bens primários, em quantidade, entre 1989 e 2016, cresceram 3,5 vezes, a taxa anual de 4,8%. Nada mal.

Mas fomos assim tão primários? Nem tanto.

“Dos US$ FOB 185 bilhões exportados pelo Brasil, em 2016, economia doente, política destruída, rentismo exacerbado, 40% foram de produtos agropecuários – de grãos, carnes, frutas e pescados), 13,7 % de veículos, 14,8% minérios, produtos metalúrgicos e outros metais, 7,3% petróleo e derivados, 6,9% da indústria química, 6% maquinários, 4% papel e celulose, e 7,3% divididos entre couro e calçados, ouro, pedras preciosas, eletrônicos, têxteis, móveis, vidraçaria e cerâmicas”.

Chego a hoje e me deparo com os infantes Bolsonaro e família, Paulo Guedes e Ernesto Araújo. Todos influenciados por pensador Carvalho, eu por Ribeiro. E o que fazem? Dar guinada brutal em nossas políticas externa e comercial ajoelhando-se e batendo continência aos EUA e presidente que não se reelegerá.

Desculpo-os pela ignorância? Coisa nenhuma! Seria obrigação de vocês, para ocuparem cargos assim tão altos, estudarem, pesquisarem um pouco mais, no lugar de enunciar discursos de posse que envergonhariam escolares com ou sem partido.

Leia também: Os EUA não são nossos parceiros ou consumidores, mas concorrentes

Para alcançar os países desenvolvidos em tecnologias de manufaturados, acertando sempre, o Brasil precisará de meio século para se tornar nação de nível intermediário.

Então, por muito tempo ainda, nos sobrarão os bens primários, sobretudo os que se originam da agropecuária. Por isso berro: OS EUA NÃO SÃO NOSSOS PARCEIROS OU CONSUMIDORES, MAS SIM CONCORRENTES!

Querem ver?

  1. O comércio mundial cresceu, entre 2004 e 2013, a uma taxa anual de 16%, teve forte queda (30%) com a crise mundial e voltou a crescer em taxas baixas, até se manter estável nos últimos anos;
  2. Teve mais sorte, no período, o setor agropecuário brasileiro que passou de uma representação sobre o total mundial de 5,8% para quase 7,6%;
  3. Entre 2007 e 2013, as exportações dos países desenvolvidos (UE. EUA, Japão, Canadá, Suíça e Oceania) cresceram à base de 3,6% ao ano; aqueles em desenvolvimento (China, resto da Ásia, Oriente Médio, África e Rússia), 17%;
  4. A participação do último bloco sobre o total passou de 50 para 65%;
  5. Etiópia, Costa do Marfim, Tanzânia, Senegal, Burkina Faso, Ruanda, na África. Índia, Mianmar, Bangladesh, Laos, Camboja, Vietnã, foram mercados abertos nessa época.

Entre 2007 e 2013, a grande paixão de Guedes, Olavo e Ernesto, importou produtos agrícolas brasileiros de risíveis US$ 3 bilhões para hilários 4,5 bilhões. A China foi de US$ 3,5 para 20,5 bilhões. A Ásia (excluída a China) de US$ 4 bilhões para US$ 13 bilhões, e a África e o Oriente Médio dobraram seus volumes originais.

O risco da ignorância geopolítica que já se mostra é enorme. Ô, Arnesto, assim derrubam a tua maloca.

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