Os destrutivos “homenzinhos”

O pequeno fascismo cotidiano floresce em indivíduos que carregam na alma as frustrações da sociedade de massa

Imagem: Marcelo Camargo/ABR

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As manifestações oficiais sobre a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023 foram acompanhadas de análises e proclamações que celebravam a solidez da democracia brasileira. Vou buscar aqui um caminho um tanto acidentado para inspecionar os desvarios destrutivos das massas que invadiram prédios públicos e destruíram obras de arte e outras coisas mais. O leitor de CartaCapital há de tolerar minha busca de apoio em Hannah Arendt, Wilhelm Reich e Élisabeth Roudinesco. O personagem social que deambula nas páginas desses três autores é o indivíduo que carrega na alma as dores, aspirações e conflitos da sociedade de massa capitalista.

A busca pela diferenciação dos estilos de vida é a marca registrada da concorrência de massas. Desgraçadamente para a maioria dos aspirantes, pobres e remediados, os impulsos para acompanhar os hábitos, gostos e gozos dos bem aquinhoa­dos se esboroam nas angústias da desigualdade. A maioria não consegue realizar seus desígnios, atolada no pântano da sociedade de massa. Os ganhos propiciados pela valorização da riqueza financeira sustentam o consumo dos ricos e, simultaneamente, aprisionam as vítimas da crescente desigualdade nos circuitos do crédito. No afã desatinado de acompanhar os novos padrões de vida, a legião de fragilizados compromete fração crescente de sua renda no endividamento.

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3 comentários

CESAR AUGUSTO HULSENDEGER 12 de janeiro de 2024 14h45
Texto para emoldurar! A sacada de Arendt em relação à burguesia alemã também é aplicável no Brasil, embora não tenhamos uma burguesia de verdade…
WILSON BENICIO SIQUEIRA 12 de janeiro de 2024 16h01
Parabéns
PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 15 de janeiro de 2024 01h09
Texto primoroso, professor Beluzzo. Conseguiu reunir o pensamento de Hannah Arendt, Reich e Roudinesco onde já explicavam esses lumpens, os fracassados do capitalismo voraz que os produziu e que desembocou nos extremismos de Direita como o Nazismo e o Fascismo. Hoje estamos sob a égide do trumpismo, bolsonarismo e recentemente no tal Mileinismo na Argentina. Esses lumpens são os susyentaculos desses regimes populistas que perseguem as minorias , os trabalhadores e solapam os regimes democráticos. Por isso, enquanto não se punir Bolsonaro aqui no Brasil , enquanto o PGR não o denunciar e o Judiciário não o punir , estaremos sob o fantasma só autoritarismo, da alienação e da barbárie. Esse capitalismo que se aproxima do autoritarismo mais populista da extrema direita vai implodir e levarnos a morte da política , a chamada neceopolitica arqui-inimiga da democracia.

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

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