Opinião

Os brasileiros não sabem que país é este

Cresce o número de infectados pelo coronavírus, mas cresce também o daqueles que não sabem onde vivem e o que significa ser brasileiro

Presidente Jair Bolsonaro. (Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil)
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Cresce o número de infectados pelo coronavírus, mas cresce também o daqueles que não sabem onde vivem e o que significa ser brasileiro. Sabemos que no país mais desigual do mundo, a rigor somente superado pelo Catar, de propriedade exclusiva do seu sultão e com 2 milhões de habitantes, a larga maioria vive no limbo.

A ignorância nativa, de fato monumental, não surpreende ao se observar quanto se leciona em geral nas nossas escolas. Surpreende eventualmente que até pessoas letradas não percebam onde estão, a situação em que precipitam e as suas razões. Diga-se que eu conheci um Brasil colocado em décimo lugar na classificação dos mais desiguais, enquanto hoje o País é o campeão.

E no outro dia, conforme diria Mário de Andrade, autor de um livro altamente revelador, Macunaíma, dou no vídeo com um jornalista, certamente douto, o qual comunica que o atraso do Brasil, exposto com clareza pela pandemia, decorre da nossa ausência nas duas Guerras Mundiais. Não sei como ele se disporia a explicar por que outros países faltaram ao chamado destes conflitos e hoje aparentam melhor saúde política, social e moral do que o Brasil.

De verdade, participamos com uma força expedicionária da Segunda Guerra Mundial e deixamos 300 mortos nos campos de batalha da Toscana, sepultados em Pistoia até 1959, quando foram transladados para o Brasil. Lá estive quando da cerimônia que marcou o evento e me agradou a escolha de uma cidade tão bonita quanto Pistoia, mesmo porque meu avô Luigi nasceu por ali.

O jornalista, de todo modo, se engana por outra razão. O Brasil é a terra de um povo assustadiço e tragicamente ignorante, porque atravessou três séculos e meio de escravidão, onde casa-grande e a senzala continuam de pé. Este Brasil irresistivelmente medieval não conquistou a independência por obra de uma revolução ou de uma guerra.

O nosso herói não se chama Bolívar ou San Martín, é o Duque de Caxias, responsável pelo genocídio do povo paraguaio. Desde os tempos coloniais, a casa-grande continua a levar vantagem, com o propósito de manter este status quo retrógrado e velhaco.

Precipitamos na voragem de uma história nefanda, que resulta ao cabo, depois de seis anos de golpes, na eleição de um admirável intérprete da demência como Jair Bolsonaro. Tudo prova que nada poderia ser pior. As guerras mundiais nada têm a ver com este doloroso enredo, que inexoravelmente explica tudo.

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