Opinião

Orgânicos

Muitos agricultores brasileiros ainda acreditam que agrotóxicos é o que os tornam competitivos. Errado.

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Nos dois últimos dias, dediquei-me a conversar com um rapaz, já meu amigo, indicado que fui por outro amigo, nosso editor Sérgio Lírio. Carioca, Filipe é um dos responsáveis em projetos voltados às produção e comercialização de alimentos orgânicos e organominerais. Conversando com ele, eu e minha sócia na empresa aprendemos muito. Somos quase isso, embora se o fôssemos, exclusivamente, não sabemos se a empresa ainda estaria viva. A servidão do agricultor brasileiro, em geral, ainda acredita que a massificação de aplicações em agroquímicos e agrotóxicos é o que os faz produtivos e competitivos.

Para eles, os tratamentos combinados, reducionistas de moléculas químicas e tóxicas, diminuem a produtividade da terra, reduzem a produção, e assim tornam mais caros os produtos finais. É o que faz o consumo de orgânicos no Brasil ser tão baixo.

O nosso amigo carioca ouve, teme, e vem nos perguntar.

Em agradável almoço, respondo-lhe:

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– Mentira! Vou enviar a você centenas de estudos e pesquisas realizados no exterior e no Brasil que desmentem essa tese, feita para engordar os mais de 12 bilhões de dólares que nossa lavoura gasta com as moléculas desenvolvidas por menos de 10 empresas mundiais que cartelizam o mercado de insumos nutricionais e fisiológicos.

– Rui, é o que muitas vezes ouço no Rio de Janeiro, entre os produtores de orgânicos, mas é o que São Paulo me desmente: produção orgânica é mais cara pela menor produtividade.

Bullshit, Filipe. São Paulo, Paraná, enfim, o Sul e o Centro-Oeste do Brasil, são renitentes em se modernizar. Acomodaram-se em grãos e cana e pouco ligam para seus bolsos, pois o mercado internacional, há dez anos, pelo menos, os favorece. Nessas grandes culturas, eles pensam em perpetuação de mercado favorável e pagam, em dólares, o que pedem as multinacionais. Ano após ano. Não conseguem nem entender que isso pode mudar de um dia para outro. Aliás, com o imbecil governo atual, por exemplo, a queda já começou. Unem-se ao maior concorrente (EUA), deixando de lado nossos principais clientes, China, Rússia, Oriente Médio, Ásia (fora a China), e Oceania.

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– Mas, Rui, e o maior encarecimento pela baixa produtividade e custo dos insumos?

A essa altura, me irrito um pouco. Não pelas gentileza e inteligência do carioca Filipe, mas pelo bloqueio que minha sócia, Viviane, dizendo tratar-se de um almoço de negócios, em local tão agradável, me impede acompanhar a refeição com um bom vinho. Dói-me o gole de suco de uvas.

– Cara, criamos tecnologias para atender o segmento natural, mineral e orgânico e diminuir o uso de agroquímicos e agrotóxicos. Na cultura do café, sul de Minas Gerais, obtivemos a mesma produção com um custo de 1,5 sacas por hectares, enquanto os convencionais pagam 4 sacos por hectare. Até hoje, todos que ousaram, nunca mais deixaram de usar nossas tecnologias, às vezes, em menos de 20%, combinados com o uso de fertilizantes convencionais à base de N, P, K. Nada que em país sério e racional pudesse considerar um tratamento químico ou tóxico. É o mesmo em toda hortifruticultura e, vez ou outra, quando nos permitem, em soja, milho, cereais e cana. Até aqui é o que, há dez anos, nos cabe fazer. Agir, pela empresa e alertar por testes e textos científicos comprovadores.

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– Então, essa a missão de sua empresa, Rui?

– Filipe, não acredito em missões e missionários. A grande dualidade mundial, sobretudo no acomodado Brasil, é pela conquista de produtividade, ajudamos de forma civilizada, comparando os tratos convencionais e os naturais, para além das grandes mentiras divulgadas sob patrocínio de carteis concentradores, que alegam maior produtividade usando destruição ambiental. Não é verdade! Pesquisem na internet e verão contradições imensas. As comparações dependem da diversidade das condições edafoclimáticas, sempre diferentemente classificadas. Acreditem, pois, em quem está lá plantando. Eles sabem mais do que todos nós.

Mas, ideologicamente, e como prospecção de futuro, essa foi a nossa opção. Ou, depois de 40 anos na atividade de agroquímicos, poderíamos enfrentar a massificação multinacional agroquímica e tóxica preponderante no Brasil?

Creio que não. Por isso somos pequenos e gostaríamos de aderir a seu projeto. Abração e inté.

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