Jaques Wagner

sen.jaqueswagner@senado.leg.br

Senador (PT-BA). Foi governador da Bahia (2007-2015) e ministro do Trabalho (2003-2004), Defesa (2015) e Casa Civil (2015-2016).

Opinião

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Oportunidade histórica para o Brasil se tornar uma potência ambiental

O País detém cerca de 20% da biodiversidade mundial e mais de 10 mil plantas com potencial farmacêutico

Oportunidade histórica para o Brasil se tornar uma potência ambiental
Oportunidade histórica para o Brasil se tornar uma potência ambiental
A Serra do Divisor é um dos locais de maior biodiversidade da Amazônia (Foto: ICMBio/Divulgação)
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Olhar com esperança para o futuro não é questão apenas de otimismo, mas de entender o cenário duro que os brasileiros e brasileiras enfrentam atualmente para construirmos soluções reais. Para isso, sempre trago como resposta o tripé de desenvolvimento que equilibra a economia com o social e o ambiental. Creio que sem essa combinação, a democracia não sobrevive.

É importante reconhecer que vivemos um momento histórico na economia global, com o Estado no centro da retomada econômica e da transição ecológica. Relatório recente da empresa de consultoria McKinsey concluiu que o mundo precisará investir cerca 9,2 trilhões de dólares por ano, de hoje até 2050, para tornar a economia mundial neutra em carbono. Nesse cenário, o Estado cumpre um papel chave de coordenação dos investimentos em parceria com o setor privado.

Nos EUA, por exemplo, o governo prevê investir cerca de 15 trilhões de reais entre infraestrutura e economia verde. A União Europeia deve direcionar mais de 6 trilhões de reais para o Pacto Verde no velho continente. E a China deve colocar mais de 15 trilhões de dólares em economia verde até 2050. Com isso em perspectiva, o PIB do Brasil foi, em 2020, cerca de 7,5 trilhões de reais.

É nesse ponto que alimento a esperança de sabermos que essa é uma oportunidade histórica para o Brasil como Potência Ambiental. E aqui falo de uma transição ecológica brasileira robusta, como o principal pilar para uma retomada econômica forte, criando empregos e aumentando a renda dos brasileiros. Somos o país com 60% da Floresta Amazônica, que sozinha tem cerca de 15% de toda a biodiversidade do mundo. Ou seja, ela é sozinha como a grande Biblioteca de Alexandria, com respostas e avanços tecnológicos para os brasileiros. Destruí-la seria como destruir a biblioteca sem ler os livros!

Temos uma grande oportunidade de retomar a posição de prestígio no mundo que tínhamos, mirando sermos a quinta maior economia do planeta até 2030. Estamos aqui falando num plano econômico de mais de 1,3 trilhão de dólares para o Brasil em dez anos, segundo a Cepal. Investimentos estatais e privados na magnitude do PIB brasileiro e que podem gerar cerca de 7,5 milhões de empregos verdes, segundo a OIT.

O primeiro passo é crucial e nós mostramos ser capazes de realizar: desmatamento zero. Os mais de 33 mil quilômetros quadrados desmatados na Amazônia, desde 2019, e os mais de 8 mil quilômetros destruídos no último ano no Cerrado são uma aberração e motivo de constrangimento para os brasileiros.

Para além da tarefa de zerar o desmatamento, precisamos afastar a ideia de que somos uma fazenda global ao desenvolvermos capacidades nacionais a partir do investimento em Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação. Isto colocará o Brasil na fronteira do conhecimento, integrando nossas cadeias produtivas às internacionais, gerando complexidade e valor agregado para nossa indústria. Uma nova agricultura de baixo carbono e orgânica nascerá, garantindo segurança alimentar e ampliando a importância da agricultura familiar para nossa economia.

Somado a isso, um projeto audacioso de país envolve uma transformação em nossas cidades, que englobe uma economia circular com o objetivo de reduzir a produção de lixo, transporte público de qualidade e elétrico, resiliência aos acidentes climáticos e saneamento básico como direitos essenciais.

Finalmente, quero colocar o foco no desafio de criarmos o nosso caminho de bioeconomia como um projeto de nação. Para nos desenvolvermos e ao mesmo tempo reduzirmos emissões, precisamos dar a nós mesmos e ao mundo a resposta de como produzir a partir de nossa biodiversidade, fortemente fincados no avanço tecnológico da fronteira da inovação e pautados na conservação ambiental.

O Brasil detém cerca de 20% da biodiversidade mundial e mais de 10 mil plantas com potencial farmacêutico. Isso indica ampla oportunidade de exploração sustentável e parte central de qualquer plano de transição para uma matriz econômica descarbonizada.

É imperativo adotarmos medidas com foco no bem-estar do ser humano e do Meio Ambiente, com florestas em pé e rios vivos. Só assim criaremos um consenso para o uso sustentável da Amazônia e dos biomas. Este é o grande desafio.

Temos, nessa visão da bioeconomia, a possibilidade de construirmos um projeto ousado de país. Com um novo modelo econômico, ambientalmente responsável, capaz de trazer mais prosperidade para nossa gente. A conjuntura histórica é única. É hora de aproveitarmos a oportunidade e agirmos para uma transição ecológica justa e inclusiva para transformar o Brasil numa potência ambiental em favor de seu povo. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1195 DE CARTACAPITAL, EM 16 DE FEVEREIRO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Oportunidade histórica”

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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